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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ato público na Catedral da Sé, em SP nos 40 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog

Catedral da Sé, em São Paulo
Quarenta anos depois, Clarice ainda critica a postura do Exército diante do caso.


Vladimir Herzog
O ato que marcou os 40 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões da ditadura militar se transformou o domingo, 25, em um protesto contra a violência do Estado registrada mesmo após 30 anos de redemocratização do País.

Ao discursar para uma Catedral da Sé lotada, em São Paulo, Ivo Herzog, filho do ex-diretor da TV Cultura, criticou o governo do Estado e o Ministério Público pelos recentes assassinatos cujas autorias são atribuídas a policiais militares.

O que a Polícia Militar de São Paulo tem feito ao assassinar pessoas é algo inaceitável. É inaceitável também que o Ministério Público arquive processos contra esses policiais. A cultura da violência tem que mudar", disse Ivo Herzog, sob aplausos. Após o discurso, ele afirmou que "a cultura da violência policial tem que ser denunciada de todos os jeitos, e o lugar mais apropriado é aqui".
Centenas de pessoas, entre elas ex-presos políticos, se aglomeraram ontem em frente à catedral para reeditar, no mesmo local e 40 anos depois, o ato inter-religioso ocorrido em 1975, uma semana após a morte do jornalista. Na ocasião, com a igreja cercada por 500 militares, cerca de 8 mil pessoas protestaram silenciosamente contra a versão oficial de suicídio no ato que hoje é considerado o início da derrocada do regime ditatorial do Brasil.

Foto de Vladimir Herzog morto
 no DOI-CODI pela ditadura Militar
Ontem, pontualmente às 14h30, hora atribuída à morte de Herzog 40 anos antes nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações Internas - Centro de Operações de Defesa Interna), os versos de "Para não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, canção símbolo da luta contra a ditadura, começaram a ser entoados enquanto um público emocionado entrava na igreja.

Em seguida foi realizado um ato com a participação de representantes de oito religiões, nos moldes daquele ocorrido há quatro décadas. Oradores se revezaram em discursos que lembraram mortos e torturados pelo regime e ressaltavam a necessidade de continuar a luta contra violações dos direitos humanos.

O coral Luther King, que participou do ato em 1975, repetiu a execução da canção de protesto Calabouço, cantada, como há 40 anos, pelo compositor Sérgio Ricardo. "O ato foi à altura da indignação daquela época", disse ele, emocionado.

Outras músicas que marcaram a época também foram executadas sob forte emoção, como "O bêbado e a equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, que faz referência ao choro da viúva do jornalista. "Foi um protesto mas feito também com música e alto astral", disse Clarice Herzog.

Para ela, o ato de 31 de outubro de 1975 foi uma declaração de "basta". "Foi uma tomada de consciência de que a gente deveria fazer alguma coisa. Tive que provar para a sociedade que Vlado foi assassinado e consegui", disse ela, lembrando que sua luta contribuiu para a revelação de outros casos semelhantes.

Eduardo Suplicy e Clarice Herzog
Quarenta anos depois, Clarice ainda critica a postura do Exército diante do caso. "Não houve punição. Os torturadores seguem trabalhando para o governo com os impostos que eu pago. O Exército deveria ter a coragem e honradez de declarar quem fez aquilo."

Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e um dos organizadores do ato de 1975, disse que quatro décadas não foram suficientes para que o assassinato de Herzog e outros casos fossem esquecidos. "As lembranças contribuem para que, de algum modo, essas coisas não aconteçam novamente."

As homenagens à data se estendem por esta segunda-feira, 26, com reinauguração da praça Vladimir Herzog, no centro. Em seguida haverá a solenidade de apresentação do relatório final da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, com homenagem a personagens da luta contra a ditadura.

Fonte: Estadão Conteúdo

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