"O
acidente não acabou", repetiu a ministra. Ela lembrou que muita
lama está retida rio acima, e que a temporada de chuvas está apenas
começando, o que significa que muitos sedimentos ainda vão escoar
para o mar. "Só quando terminar o período de chuvas eu poderei
ter uma avaliação concreta do fim do acidente e das medidas
efetivas que precisam ser tomadas, além das emergenciais, para a
restauração do Rio Doce."
"Em
Minas Gerais, próximo ao epicentro do desastre, projeções iniciais
baseadas em imagens de satélite indicam que mais de 900 hectares de
terra foram diretamente impactos pela enxurrada de lama causada pelo
rompimentos das barragens da mineradora Samarco (que pertence às
gigantes Vale e BHP) em Mariana, no dia 5 de novembro. O desastre
deixou 8 mortos já identificados e ainda há 11 pessoas
desaparecidas."
"A
emergência ainda está em curso", reforçou Hartung. Outra
prioridade indicada pelas autoridades foi a de aumentar os esforços
de levar informações sobre o acidente às populações ribeirinhas,
especialmente relacionadas à qualidade da água - que, segundo as
análises iniciais, não é tóxica. "Tem muita gente afobada,
muito desencontro de informações", disse a ministra. "As
pessoas estão nervosas, estão inquietas estão abaladas; e têm que
estar abaladas mesmo, porque o acidente é grave."
"A
onda de lama percorreu quase que toda a extensão do Rio Doce até
chegar ao mar, formando uma grande mancha de água marrom no oceano.
A previsão feita por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe-UFRJ) na semana passada era de que a mancha de lama
mais grossa impactaria uma área de 9 quilômetros de costa -
incluindo parte da Reserva Biológica de Comboios, que protege uma
praia usada para desova de tartarugas marinhas ameaçadas de
extinção."
Infelizmente
não há nada mais que se possa fazer aqui para impedir a lama de
chegar no mar", disse ao Estado o chefe da reserva biológica,
Antônio de Pádua Almeida. "Mas rio acima, sim", completou
ele, chamando atenção para a necessidade de reduzir a quantidade de
lama acumulada nas cabeceiras, para que elas não sejam arrastadas
pelas chuvas para o oceano.
Até esta
segunda-feira, não havia sido detectada nenhuma tartaruga
diretamente afetada pela lama, mas a praia está sendo monitorada
todas as noites pelo projeto Tamar para realocar os ovos que são
depositados ali para outros locais. Uma análise visual da praia
indicava que a lama não estava "grudando" na areia, mas
que os sedimentos mais finos estão se acumulando alguns centímetros
abaixo da superfície.
©
Fornecido por Estadão Nesta crosta
de lama ao redor do rio, os peixes aparecem aos montes, grudados no
chão de lama, como se fossem fósseis encontrados por arqueólogos.
Com base no que
viu nesta segunda-feira, a ministra Izabella disse que a projeção
de dispersão da lama no mar por enquanto está correta, com a mancha
mais espessa concentrada em uma área de aproximadamente 10
quilômetros ao longo da costa e avançando 1,5 km mar adentro. Havia
relatos de extensões maiores, mas que, segundo ela, referem-se a uma
pluma de sedimentos mais finos, que tendem a se dispersar mais
superficialmente e não são a preocupação principal.
"O
monitoramento está sendo feito; se vai ampliar a mancha, nós vamos
saber", garantiu a ministra, repetindo que não há previsão de
que os sedimentos chegarão ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos,
no sul da Bahia. A dispersão dos sedimentos é diretamente afetadas
pelos ventos, que empurram as massas de água para uma ou outra
direção.
Novos dados de
monitoramento levantados pela Agência Nacional de Águas (ANA) foram
enviados à UFRJ para que o modelo de previsão possa ser atualizado.
Segundo o governador Hartung, é preciso "mais ciência e menos
achismo" na resposta ao desastre.
Toneladas
Ao longo da calha
principal do Rio Doce, peixes mortos continuam a aparecer,
principalmente nos trechos mais próximos a Minas Gerais, que foram
impactados há mais tempo. Há relatos de que 8 toneladas de peixes
mortos já foram recolhidas.
De Colatina para
baixo, próximo à foz do Rio Doce, ainda não havia mortandade
generalizada, mas pesquisadores acreditam ser apenas uma questão de
tempo para que isso ocorra, pois a concentração de sedimentos na
água é tão grande que "entope" as brânquias dos
animais, além de exterminar o plâncton, crustáceos e outros
organismos dos quais eles se alimentam.
O pesquisador José
Augusto Senhorini, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de
Peixes Continentais (Cepta-ICMBio), disse que pode haver um intervalo
de vários dias entre a chegada da lama e a morte dos peixes - que
depois de mortos ainda levam dois a três dias para boiar. Os efeitos
cumulativos do desastre sobre a fauna aquática do rio, portanto, só
poderão ser mensurados com o passar do tempo.
Uma boa notícia,
verificada nesta segunda-feira por meio de um sobrevoo, é que há um
grande reservatório de água na represa de Aimorés, na divisa de
Minas Gerais com o Espírito Santo, que não foi contaminado pela
lama e está cheio de peixes, e que portanto poderá servir como um
reservatório de vida para o repovoamento do rio mais adiante."
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão
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