"De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), estima-
se que foram lançados 50 milhões de m³ de rejeito de mineração (o suficiente para encher 20 mil piscinas olímpicas). A lama atingiu diretamente o Gualaxo do Norte, afluente do rio Doce. A enxurrada avança pela calha do Doce, que corta cidades de Minas Gerais e Espírito Santo até desaguar no oceano Atlântico.
O
grande montante de lama com rejeitos de minério de ferro e manganês
está bloqueando o curso natural dos rios. Com isso, a água corrente
começa a buscar alternativas para fluir, e a escolha pode não levar
a um final feliz.
O
novo caminho pode levar os rios à extinção. "Existe a
possibilidade de o rio perder força e se dividir em lagoas",
diz Missagia.
As
lagoas também podem morrer. "Além dos minérios de ferro,
a lama trouxe consigo esgoto, pesticidas e até agrotóxicos das
terras por onde passou. Essas substâncias aceleram a produção de
algas e bactérias, que rapidamente cobrirão as lagoas, formando um
tapete verde que impede a fotossíntese dentro d'água. Se não há
fotossíntese, não há oxigênio. Sem oxigênio os animais, vegetais
e bactérias não têm chance de sobreviver", explica.
De
maneira alguma a natureza conseguirá retirar a lama sozinha
Alberto
Fonseca,
professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade
Federal de Ouro Preto.
Lama só sairá com retroescavadeira
Logo
quando as barragens romperam um plano devia estar sendo desenhado,
defende a coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata
Atlântica,Malu Ribeiro. "A lama é densa, não será diluída,
só sairá de onde está com retroescavadeiras. Como os rios ficarão
enquanto isso?"
Os
ambientalistas concordam que o acidente também pode ter sido
responsável pela extinção de parte da fauna e flora local.
"Espécies endêmicas podem ter sido soterradas", afirma
Missagia.
Além
disso, por conter ferro, a lama por si só já derruba os níveis de
oxigênio e altera o PH da água.
O
Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) multou a mineradora Samarco em
pelo menos R$ 250 milhões pelo
rompimento de duas barragens. A multa abrange as seguintes infrações:
poluir rios, tornar áreas urbanas impróprias para a ocupação
humana, causar interrupção do abastecimento público de água,
lançar resíduos em desacordo com as exigências legais, provocar a
morte de animais e a perda da biodiversidade ao longo do rio Doce,
colocando em risco a saúde humana.
"Morreram todos os peixes"
Antônio
Cota/Diário do Rio Doce
Peixes
do rio Doce, em Governador Valadares (MG), morreram com a chegada da
lama com rejeitos de minério de ferro
Barro
que impede a navegação, milhares de peixes mortos, mau cheiro
invadindo a cidade. É esse o cenário narrado por um pescador
esportivo do rio Doce em Governador Valadares (MG). "O que tinha
de vida foi embora", diz José Francisco Silva de Abreu,
empresário e presidente da Associação de Pescadores e Amigos do
Rio Doce.
De acordo com o pescador esportivo, é possível ver nas margens do rio sinais da
luta pela vida. "Na agonia de achar oxigênio, os peixes subiram
barrancos, rãs fugiram da água. Tinha um monte de cascudo [espécie
de peixe] com a cabecinha na pedra, procurando oxigênio, um do lado
do outro. Parecia um estacionamento de carros visto de longe",
conta.
Fonte: UOL
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