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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

"Carta aos Cidadãos de São Thomé das Letras"

São Thomé, 27 de dezembro de 2015

"Olá, Cidadãos e Cidadãs de São Thomé,

"Estive aqui na cidade entre os dias 24 e 27 de dezembro de 2015. Sou um dos incontáveis anônimos que vem para esta cidade em busca de descanso, encontros, lazer, transcendência, enfim qualquer coisa que justifique o deslocamento de minha cidade de origem até aqui.

Estive aqui com mais três integrantes de minha família, e ficamos encantados com a cidade. Sua geografia é única, a amplitude de seus horizontes é um convite à reflexão. Talvez devido ao misticismo que envolve a região, todos aqui podem exercitar sua individualidade sem se tornar o centro das atenções. E a característica geológica da cidade, toda de pedra, torna a cidade uma joia rara, para realmente ser visitada.

É por isto que escrevo esta carta e esta mensagem, pois da mesma forma que vi luz e energia positiva na cidade, há pontos de sombra que, se não forem devidamente cuidados, podem ofuscar a beleza da cidade, ou pior, torná-la comum.

O que torna a vossa cidade incomum é a Natureza. Há pássaros, há árvores, há plantas adaptadas para o terreno rochoso, há as pedras belas e encantadoras. Há a geografia local que enleva e gera o misticismo naqueles que aqui vem, porque não há como vislumbrar e contemplar estas belezas sem que as perguntas fundamentais do ser humano aflorem. E este é o desafio que percebi que deve ser o desafio de todos os cidadãos e cidadãs daqui da região: conservar e preservar esta combinação única.

Os moradores daqui podem fazer um trabalho belíssimo em favor não apenas da cidade única em que vivem, mas em prol do planeta que habitamos, e que vive – e viverá – momentos desafiadores para que a vida se mantenha. Nós, seres humanos, passaremos por desafios ecológicos impensados devido à nossa imprudência, ganância, falta de cuidado. Qualquer oportunidade que se tenha de reverter isto é mais uma chance para que a vida no planeta se mantenha.

Confesso que, ainda que maravilhado pelo que já contei, fiquei surpreendido pela ausência de uma atenção maior à conscientização não apenas daqueles que aqui estão, mas daqueles que vem e, horas ou dias depois, partem para talvez nunca mais retornar. Há poucas placas de aviso para a conservação local, e as que existem já se confundem com o ambiente, tornando-se inócuas. Há poucas lixeiras e aquelas que existem não fomentam a separação de lixo, algo importante nos dias de hoje.

E quanto ao lixo, este deve ser o inimigo público número 1 daqui. Em vários lugares percebi copos, sacos e garrafas de plástico, guimbas de cigarro, latas de alumínio, cacos de vidro. Cada um destes resíduos leva mais de 300 anos para começar a se degradar, e se não forem devidamente recolhidos, se embrenharão na natureza e tomarão espaço que seriam de seres vivos.

Na maravilhosa Igreja de Pedra, vi garrafas plásticas colocadas entre os vãos das paredes da Igreja. Alguém colocou lá, mas ninguém retirou. E se ninguém o fizer, lá ficarão, maculando a beleza do monumento que certamente durará mais do que a existência humana, se nós não mudarmos radicalmente nossa forma de relação com o planeta.

Talvez você leia ou escute o que escrevo e pense: “mas quem faz isto são as pessoas de fora!”. Concordo com a afirmação. Mas é neste momento que entra o fator que faz a diferença entre adultos e crianças, entre pessoas maduras e imaturas: a Responsabilidade.

Responsabilidade é a capacidade de responder ao que nos acontece. Não temos controle sobre o que nos ocorre, mas temos controle sobre qual será a resposta a ser dada ao que nos ocorre. Se a resposta ao desafio de se conservar e manter a natureza for inação ou culpar os outros, todos pereceremos.

Mas se a resposta for encarar o desafio com responsabilidade madura, ou seja, o que os habitantes do local podem fazer para contornar e superar os desafios, apenas oportunidades surgirão.

E a oportunidade que surge é elevar São Thomé das Letras a uma cidade integrada à Natureza! E que esta integração seja tão visível, que este cuidado com todos os seres seja tão palpável, tão latente, que todos aqueles que aqui vierem saiam tocados e mais conscientes de seu papel na conservação do planeta.

Então, pergunto aos habitantes desta bela região: o que pode ser feito para conservar a natureza da região? O que pode ser feito para que todos aqueles que venham usufruir destes ares retornem para suas casas e cidades mais conscientes e integrados com o planeta? O que pode ser feito para que os jovens e as crianças, verdadeiros herdeiros do planeta, saibam que precisarão ser muito mais atentos às relações com os seres que o cercam que nós fomos todo este tempo?

E o que estão esperando para que algo seja feito? Alguma notícia comentando o que a cidade poderia fazer mas não faz? Que o Governo, seja federal, estadual ou municipal, se mova? Que a escassez de elementos naturais essenciais bata à porta, como já acontece em várias cidades no mundo?

Sei que pareço duro em meus comentários, principalmente de alguém que, como tantos outros que aqui vieram, pode não mais retornar. Mas minha transitoriedade aqui não significa que não deseje a perenidade do local para os demais que aqui vierem. Pelo contrário, quero que muitos outros aqui venham e saiam transformados, tocados sobre a importância de se preservar nossos espaços naturais.

Nunca sabemos como nossos atos, por menores que sejam, podem tocar e transformar vidas. Por isto que decidi escrever esta carta. Quem sabe se pode ser a fagulha que despertará nos cidadãos e cidadãs de São Thomé das Letras a sua vocação de se tornar uma cidade plenamente ecológica, para o bem de todos os seres."

Atenciosamente,
Mauricio Luz

Mauricio Luz
Ele é Administrador de Empresas - graduado pela UFRJ;

Mestrado em Administração de Empresas - pelo IBMEC


Coach - Integrante da Casa Anitcha (Coletivo do Bairro Grajaú- RJ)

Integrante licenciado da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do CRA RJ (Conselho de Administração do RJ)

Duas vezes vencedor do Prêmio "Belmiro Siqueira de Administração"

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