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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Tragédia: incêndio no primeiro museu do Brasil, no Rio de Janeiro. 200 anos de história!

Incêndio no prédio do Museu Nacional. 

"Fogo começou por volta de 19h30, quando o prédio já estava fechado para os visitantes Calcula-se que o acervo tenha 20 milhões de itens"

“As chamas começaram por volta de 19h30, quando o prédio histórico, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, já havia sido fechado para o público. As imagens aéreas mostram o edifício completamente tomado pelas chamas e a dificuldade dos bombeiros de controlá-las. Já há setores do prédio sem qualquer cobertura de telhado. "Não vai sobrar absolutamente nada do Museu Nacional", afirmou o vice-diretor da instituição, Luiz Fernando Dias Duarte, em entrevista à GloboNews. "Os 200 anos de história do país foram queimados", disse.

 O Museu Nacional, a mais antiga instituição científica brasileira e o museu mais antigo do país, foi destruído por um incêndio de grandes proporções na noite deste domingo.

Segundo o Corpo de Bombeiros não há notícias de feridos. Havia apenas quatro vigilantes no local no momento em que o fogo começou e eles conseguiram escapar. Ainda não há pistas do que pode ter provocado as chamas. Segundo os bombeiros, o trabalho foi dificultado porque os hidrantes do museu estavam descarregados e foi necessário pedir o apoio de carros-pipa. Alguns pavimentos internos do prédio desabaram, mas parte do acervo conseguiu ser retirado antes. Atuam no combate às chamas equipes de 20 quartéis do Rio de Janeiro. Os bombeiros não tinham água para apagar o incêndio.

Egito antigo
O prédio foi criado por D. João VI e completou 200 anos em 2018. O edifício, que é tombado pelo patrimônio histórico, foi residência da família Real e Imperial brasileira, e tem uma ampla estrutura feita de madeira, o que facilita com que as chamas se espalhem. O prédio sofria com problemas de falta de manutenção, como cupins que corroíam a estrutura e queda de reboco. Em fevereiro deste ano, Alexander Kellner, diretor do museu, reclamou ao jornal O Globo da falta de verba para a manutenção do local. "Felizmente essas pragas [morcegos e gambás] não têm aparecido no acervo, mas ainda podem ser vistas nas áreas comuns. O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção."
 O acervo do museu é composto por cerca de 20 milhões de itens. Entre os destaques estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida  pelo imperador Dom Pedro I; o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de "Luzia", com cerca de 11.000 anos; um diário da Imperatriz Leopoldina; um trono do Reino de Daomé, dado o Príncipe Regente D. João VI, em 1811; o maior e mais importante acervo indígena e a biblioteca de antropologia mais rica do país. Até este momento não é possível saber exatamente qual o dano provocado pelas chamas, mas, segundo um funcionário da instituição que acompanhava o combate às chamas disse à GloboNews, toda a área de exposição do museu foi atingida.
    
A instituição, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vinha sofrendo com os cortes orçamentários há pelo menos três anos. Alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da universidade, que atuam no museu, chegaram a criar memes em que mostravam fósseis esperavam a verba, ironizando os cortes, quando, na época, a previsão era a de que só se receberia 25% do Orçamento previsto para pesquisa no ano. Neste mesmo ano, o museu chegou a ficar fechado por dez dias após uma greve de funcionários da limpeza que reclamavam salários atrasados. Nas redes sociais, pesquisadores, alunos e professores brasileiros também compartilham seus depoimentos, lamentando o ocorrido e creditando a tragédia ao corte de custos vivido nos últimos anos.
Ainda em entrevista à GloboNews, o vice-diretor do Museu Nacional qualificou o incêndio como uma "catástrofe insuportável". "O arquivo de 200 anos virou pó", disse. "São 200 anos de memória, ciência, cultura e educação, tudo se perdendo em fumo por falta de suporte e consciência da classe política brasileira. Meu sentimento é de imensa raiva por tudo o que lutamos e que foi perdido na vala comum", ressaltou ele, que afirmou que no aniversário de 200 anos da instituição nenhum ministro de Estado aceitou participar da comemoração. "É uma pequena mostra do descaso", disse ele, que afirmou que a instituição estava fechando uma negociação com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que incluía, justamente, um projeto de prevenção de incêndios. "Veja, conseguimos isso junto a um banco. Nunca conseguimos nada do Governo brasileiro. A universidade federal vive à mingua", desabafou.
O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou à emissora que o ocorrido é parte de "processo de negligência de anos anteriores" e que isso "sirva de alerta para que não aconteça em outros museus". "Medidas que poderiam ter sido tomadas anteriormente não foram tomadas", destacou ele, que disse que foi feito um projeto para a revitalização do prédio e os recursos foram levantados, "mas não deu tempo de evitar a tragédia".
Em nota, o presidente Michel Temer afirmou que a perda do acervo do Museu Nacional é "incalculável para o Brasil". "Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros". O Ministério da Educação, ao qual a UFRJ é ligada, também lamentou por nota e disse que "não medirá esforços para auxiliar a universidade  no que for necessário para a recuperação do patrimônio histórico."
Criado por D. João VI, em 06 de junho  de 1818 e inicialmente, sediado no Campo de Sant'Ana, serviu para atender aos interesses de promoção do progresso cultural e econômico do país.



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