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"Adultos até podem tomar a vacina, mas não há urgência – as crianças, muito mais vulneráveis, são as que mais dependem do efeito protetor da imunização."
Por Luiza
Monteiro - Superinteressante
“A meningite não é
exatamente uma doença só. Existem dois tipos básicos, meningite
viral e bacteriana, e o segundo tipo pode ser causado por três
micro-organismos diferentes. Para complicar ainda mais, uma mesma
espécie de bactéria pode apresentar diferente versões, que exigem
vacinas e tratamentos diversos. Não é uma doença simples.
De todas essas variações,
a meningite meningocócica, causada pela bactéria Neisseria
meningitidis (meningococo), é a mais perigosa. A doença funciona em
surtos: de tempos em tempos, um dos cinco tipos mais comuns da
bactéria ao redor do mundo provoca estragos.
No Brasil, o pior caso
aconteceu na década de 1970, quando São Paulo se tornou o epicentro
de uma epidemia que se alastrou por todo o país. Nessa época, os
meningococos que predominavam em nosso território eram o tipo A e o
C.
O primeiro não circula
mais por aqui (ele está principalmente em países da África), mas o
segundo ainda está entre nós – e é o mais comum até hoje. Em
2014, o meningococo C foi responsável por 70% dos casos da doença.
Há vacina contra todas as
variações da bactéria: além de A e C, há ainda os tipos B, W e
Y. A boa notícia é que, graças à vacinação disponibilizada no
sistema público de saúde desde 2010 contra o tipo C, a incidência
de casos em crianças menores de 2 anos está caindo. Elas são as
mais suscetíveis a desenvolver quadros graves de meningite
meningocócica, que pode deixar sequelas e até ser fatal.
Exatamente porque as
crianças são a parcela da população mais afetada, a imunização
deve acontecer já nos primeiros meses de vida. “O sistema
imunológico delas é imaturo para responder contra as bactérias que
causam a meningite”, explica a médica Isabella Ballalai,
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Apesar de o SUS oferecer a
vacina contra o tipo C, a Sbim e a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) recomendam a vacina meningocócica conjugada ACWY, que protege
contra esses quatro tipos – ela, no entanto, está disponível
apenas na rede privada. As doses devem ser dadas aos 3, 5 e 7 meses
de vida, seguidas de três reforços: entre 12 e 15 meses, entre 4 e
6 anos de idade e aos 11 anos. A vacina contra o meningococo B é
outra – as quatro doses devem ser dadas aos 3, 5, 7 e 12 meses.
Mas voltando ao título
deste texto: e quem nunca se vacinou ou não tem certeza se foi
imunizado? Bem, se for uma criança acima de 1 ano de idade ou um
adolescente, a orientação da Sbim é receber duas doses da ACWY e
duas da meningocócica B.
Em pessoas com mais de 20
anos de idade, a urgência não é tão alta. É que esse público
tem um risco menor de desenvolver um quadro grave de meningite. O
número de mortes é maior em crianças e idosos, que têm um sistema
de defesa defasado. Isso não quer dizer que adultos entre 20 e 60
anos estejam imunes ao contágio pela bactéria – mas os efeitos da
doença tendem a ser mais mais leves, porque o sistema imunológico
está em condições melhores para expulsar a bactéria antes que ela
caia na corrente sanguínea. É ali que ela faz mais estrago, podendo
levar à necrose de membros e até à morte.
Outro ponto que
desestimula a vacinação de adultos, além da resistência
naturalmente maior, é que, nessa faixa etária, o efeito protetor da
vacina tem um prazo mais curto: a cada seis ou sete anos, seria
necessário repetir a dose. Ou seja: é uma medida que protege
durante uma janela temporal menor, voltada para uma população que
já está razoavelmente menos vulnerável ao problema. Sendo assim, a
vacina para um adulto não imunizado na infância só é indicada em
casos de surto ou viagem a algum local de risco.
A meningite voltou a ser
bastante discutida com a notícia recente da morte do neto do
ex-presidente Lula – e casos de meningite (mesmo a doença viral,
bem mais branda) estão sendo mais noticiados por causa disso. Se
você está preocupado e se perguntando se deveria tomar a vacina
novamente, o conselho dos especialistas é: calma. Há toda uma
estrutura de alerta para doenças que vêm em surtos como a
meningite. “No momento, não há evidência de aumento no número
de casos”, afirma Isabella.
Agora, se você tem
crianças ou adolescentes na família que nunca foram imunizados, aí
sim é urgente conversar com um médico sobre como garantir a
proteção necessária para os pequenos – tanto para meningite
quanto para outras doenças.”
Fonte:
superinteressante
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