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domingo, 9 de junho de 2019

Rio de Janeiro Urgente: mensagens de Orlando Curicica revelam elo da milícia com batalhão de Jacarepaguá





       Por Rafael Soares do Extra

Mensagens encontradas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público no celular do miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, escancaram as relações promíscuas entre o batalhão de Jacarepaguá, o 18º BPM, e o grupo paramilitar que domina o bairro. Nos diálogos, Orlando e seus comparsas mencionam o pagamento de propina a PMs da unidade, a venda de armas apreendidas em operações por policiais à milícia e até avisos prévios do grupo paramilitar ao batalhão sobre áreas que seriam invadidas pela quadrilha.

As mensagens, obtidas pelo EXTRA, foram trocadas por Orlando e seu bando em outubro de 2017. À época, o comandante do 18º BPM era o coronel Rogério Figueredo, atual secretário de Polícia Militar. Os diálogos fazem parte da investigação que culminou na Operação Entourage, que levou 18 comparsas de Orlando à cadeia.
Numa das conversas, Orlando determina a um comparsa, identificado como o PM Leandro Marques da Silva, o Mingau, o pagamento de R$ 12 mil a uma ala do Grupamento de Ações Táticas (GAT) — policiais responsáveis pelas ações operacionais — do batalhão. Segundo Curicica, o valor seria referente ao “arrego mais a peça”. O miliciano explica: a quadrilha havia comprado uma pistola calibre .40 e munição para fuzil que foram apreendidos pelos PMs durante uma operação.
O comparsa alerta o chefe que um policial estava reclamando, num áudio enviado à quadrilha, sobre atrasos no pagamento da propina. “Meia hora de polícia. Porque é GAT do 18 acha que é esperto”, escreve Mingau. Orlando responde que o pagamento para “a ala da pistola não vai seguir atrasado, não”.
As conversas também indicam que o GAT do 18º BPM fazia vista grossa para invasões de comunidades. PMs eram avisados sobre ataques e recebiam orientação para não agir. Em outubro de 2017, a milícia se preparava para tomar a Favela do Tirol. Na semana anterior, Felipe Raphael de Azevedo, o Chel, um dos seguranças do grupo paramilitar, disse ao chefe que iria “avisar ao setor e ao GAT no sábado”. A ação estava programada para a madrugada de domingo

Orlando concorda com o aviso aos PMs: “Isso, principalmente o GAT”. “Fica amarradinho, né?”, pergunta o comparsa. “Tem que amarrar, porque os simpáticos vão ligar, 190”, afirma Orlando, referindo-se a possíveis telefonemas de moradores para a polícia.
Mensagens ainda revelam como Orlando recrutava policiais militares para ocuparem as favelas invadidas, ajudando a impedir o retorno de traficantes. Mingau, de acordo com um dos diálogos, recebe uma ordem para chamar pelo menos dois PMs, “só para ficar tranquilo”. Em seguida, Orlando estipula os valores que pagaria a quem topasse permanecer nas comunidades tomadas: R$ 1.200 para milicianos que não são PMs e R$ 2 mil para policiais. Se a arrecadação com taxas cobradas de moradores fosse boa, haveria um aumento. “Melhorando, melhora o de todo mundo”, escreveu. Após a troca de mensagens, o Tirol passou a ser dominado pela milícia.
Orlando Curicica está preso no Rio Grande do NorteOrlando Curicica está preso no Rio Grande do Norte Foto: Agência O Globo
Durante a Operação Entourage, deflagrada no último dia 31, quatro PMs foram presos, entre eles Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha. Ex-homem de confiança de Orlando, ele é acusado pela Polícia Federal de ter tentado atrapalhar a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Ao tentar incriminar o antigo chefe, dizendo que ele e o vereador Marcello Siciliano (PHS) tinham interesse na morte da parlamentar, Ferreirinha planejava, segundo investigadores, assumir o comando de uma área. Orlando e Siciliano negaram a acusação.
Poucos dias após as trocas de mensagens por celular, Orlando foi preso pela Polícia Civil. Na ocasião, seu celular foi apreendido. Hoje, ele está na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Figueredo é o Secretário da PMFigueredo é o Secretário da PM Foto: Guilherme Leporace
O coronel Rogério Figueredo ficou pouco mais de dois anos no comando do 18º BPM, de novembro de 2015 a fevereiro de 2018. Na função, não conseguiu conter o aumento da violência. Em 2015, a região registrou 369 roubos de carros. Em 2017, foram 804, 117% a mais. No mesmo período, os roubos de rua também dispararam, e as mortes em confrontos com a polícia passaram de oito para 25. Antes de ser nomeado secretário pelo governador Wilson Witzel, o coronel comandou as UPPs.
O EXTRA pediu, por meio da Secretaria de Polícia Militar, que Figueredo comentasse a investigação sobre corrupção no batalhão que comandou. Em nota, o órgão destacou que, durante a gestão dele, o 18º BPM realizou “diversas ações exitosas”. No primeiro semestre de 2016, por exemplo, ficou em primeiro lugar no Programa de Redução de Indicadores de Criminalidade. Além disso, a nota cita estatísticas de prisões (926 em 2016; 577 em 2017), de apreensões de armas, de operações e veículos recuperados. Por fim, a secretaria ressalta sua intolerância em relação a desvios de conduta."
Fonte: Extra

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