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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Agora foi e vez do diretor INPE, o cientista Ricardo Galvão

Presidente Bolsonaro   e  cientista Ricardo Galvão
Diretor do INPE, foi exonerado por Bolsonaro

Bolsonaro acusou Inpe de mentir e sugeriu apuração; Salles defende licitação de novo sistema. Inpe e entidades defendem a importância dos dados contra o desmatamento.”

Por G1

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),  Ricardo Magnus Osório Galvão, declarou nesta sexta-feira (2) que será exonerado. O anúncio foi feito após reunião com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, em Brasília.

A publicação de dados do Inpe que mostraram aumento no desmatamento na Amazônia brasileira neste ano deu origem às tensões entre o presidente Jair Bolsonaro e Galvão. Vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o Inpe faz o monitoramento da Amazônia desde 1988.

Após dados do sistema, que são atualizados com periodicidade quase diária e estão disponíveis para consulta pública, mostrarem aumento de 88% no desmatamento na Amazônia em junho de 2019, em relação a junho de 2018, Bolsonaro criticou a divulgação das estatísticas do Inpe que, segundo ele, dificultariam as negociações comerciais conduzidas pelo governo brasileiro com outros países. Sob ataques do governo federal, o diretor do instituto defendeu os dados divulgados e contestou as acusações de Bolsonaro.
Cientista Ricardo Galvão
Entenda abaixo a cronologia das tensões que culminaram na exoneração do diretor do Inpe:

3 de julho: Dados divulgados pelo Inpe mostram que o desmatamento na Amazônia Legal brasileira atingiu mais de 900 km² em junho, um aumento de 88% em comparação com o mesmo mês no ano passado.

19 de julho: Jair Bolsonaro questiona os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe pela 1ª vez. Ele diz suspeitar que o órgão esteja "a serviço de alguma ONG" e que "se fosse mesmo toda essa devastação, a Amazônia já teria sido extinta". Bolsonaro diz ainda que já tinha mandado ver "quem está à frente do Inpe, para que venha explicar em Brasília esses dados".

20 de julhoRicardo Galvão, diretor do Inpe, refuta as acusações, reafirma a veracidade dos dados de desmatamento e diz que não deixará o cargo. O instituto divulga nota dizendo que sua política de transparência permite o acesso completo aos dados e que sua metodologia é reconhecida internacionalmente, com precisão de 95%.

21 de julho: Integrantes do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) publicam um manifesto em apoio ao Inpe. Os cientistas dizem que críticas sem fundamento "são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico".

22 de julho: O presidente volta a criticar as divulgações do Inpe, desta vez destacando o prejuízo que os dados causariam à imagem do Brasil no cenário internacional. "A questão ambiental, o mundo todo leva em conta. Outros países que estamos negociando a questão do Mercosul, ou até acordos bilaterais, nos dificulta com a divulgação desses dados. Temos que ter responsabilidade", afirma.

22 de julho: O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, divulga nota informando que está solicitando ao Inpe dados consolidados sobre o desmatamento da Amazônia nos últimos 24 meses e que o diretor do instituto, Ricardo Galvão, foi convidado para uma reunião de "esclarecimentos e orientações".

28 de julho: Veículos da imprensa internacional, como o jornal The New York Times, começam a repercutir o aumento no desmatamento da Amazônia e as declarações de Bolsonaro sobre o Inpe.

31 de julho: O ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, admite alta do desmatamento em 2019, mas diz que sistema de alertas do Inpe não serve para comparações mensais. Salles alega que os dados do instituto não estão incorretos, mas foram interpretados de "maneira equivocada" pela imprensa.

1º de agosto: Jair Bolsonaro e Ricardo Salles fazem evento em Brasília para contestar dados de desmatamento. Eles anunciam licitação para contratar outro sistema de monitoramento da Amazônia e apresentam estudo feito pelo MMA que apontou "inconsistências" nos dados do Inpe referentes a junho de 2019. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, afirma que, caso o governo julgasse que os dados do Inpe fossem corretos, seria 'conveniente' cuidar do problema 'internamente', e não alardear os números.

2 de agosto: Após reunião com Marcos Pontes, em Brasília, Ricardo Galvão, diretor do Inpe, diz que será exonerado do cargo.

Entidades lamentam exoneração de diretor do Inpe; veja a repercussão

Notícia da troca da diretoria do órgão que mantém os sistemas oficiais de monitoramento do desmatamento na Amazôna foi dada pelo próprio diretor, após reunião com o ministro Marcos Pontes.”


Por G1

Entidades que atuam na área ambiental vieram a público na tarde desta sexta-feira (2) para lamentar a exoneração de Ricardo Magnus Osório Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). À frente da sede do Inpe, em São José dos Campos (SP), servidores e sindicalistas se reuniram para protestar contra a exoneração.

A notícia foi anunciada pelo próprio Galvão, em uma entrevista a jornalistas em Brasília, após reunião com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, pela manhã.

"Minha fala sobre o presidente gerou constrangimento, então eu serei exonerado", disse Ricardo Galvão. Ele lembrou que tinha um mandato de quatro anos, mas que, apesar isso, o regimento prevê que o ministro pode substituí-lo "em uma situação de perda de confiança".

Galvão afirmou que Marcos Pontes se comprometeu a não interferir com a linha de trabalho do Inpe.

Ministro elogiou Galvão em rede social
O ministro não participou da coletiva. No início da tarde, ele usou uma rede social para comentar a exoneração. "Agradeço, pela dedicação e empenho do Ricardo Galvão à frente do Inpe. Tenho certeza que sua dedicação deixa um grande legado para a instituição e para o país. Abraços espaciais", escreveu o ministro Marcos Pontes.

Veja abaixo declarações de entidades a respeito do tema:
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC):
"A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada", afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC). "Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe."

"Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe", continuou o secretário do OC.

Ainda segundo Rittl, "a imagem do Brasil já está irremediavelmente comprometida por essa cruzada contra os fatos. Nos próximos meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o Inpe: a única maneira de evitar más notícias sobre o desmatamento é combatê-lo."

Marcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA):
"É a verdade sobre o desmatamento que está sendo exonerada."

Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace:
"Bolsonaro sabe que seu governo é o principal responsável pelo atual cenário de destruição da Amazônia. A exoneração do diretor do Inpe é apenas um ato de vingança contra quem mostra a verdade. O novo governo vem implementando no país um projeto antiambiental, que sucateia a capacidade do Estado de combater o desmatamento e favorece quem pratica o crime florestal. E agora, na hora de encarar as consequências de suas decisões, tenta esconder a verdade de maneira vergonhosa e culpando terceiros."

Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema):
Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema), afirmou que a exoneração é mais um episódio de "uma situação de desmanche e desqualificação das instituições que historicamente têm um papel importante dentro do estado brasileiro". Segundo ele, "são instituições técnicas que estão sendo desqualificadas por achismos ou mecanismos que simplesmente vão contra a lógica do Estado fazer o papel dele de forma correta e transparente, baseados em princípios legais".

Egewarth ressaltou, ainda, que as críticas atuais do governo federal ao trabalho dos órgãos técnicos são um Veja abaixo declarações de entidades a respeito do tema:
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC):
"A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada", afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC). "Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe."

"Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe", continuou o secretário do OC.

Ainda segundo Rittl, "a imagem do Brasil já está irremediavelmente comprometida por essa cruzada contra os fatos. Nos próximos meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o Inpe: a única maneira de evitar más notícias sobre o desmatamento é combatê-lo."

Marcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA):
"É a verdade sobre o desmatamento que está sendo exonerada."

Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace:
"Bolsonaro sabe que seu governo é o principal responsável pelo atual cenário de destruição da Amazônia. A exoneração do diretor do Inpe é apenas um ato de vingança contra quem mostra a verdade. O novo governo vem implementando no país um projeto antiambiental, que sucateia a capacidade do Estado de combater o desmatamento e favorece quem pratica o crime florestal. E agora, na hora de encarar as consequências de suas decisões, tenta esconder a verdade de maneira vergonhosa e culpando terceiros."

Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema):
Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema), afirmou que a exoneração é mais um episódio de "uma situação de desmanche e desqualificação das instituições que historicamente têm um papel importante dentro do estado brasileiro". Segundo ele, "são instituições técnicas que estão sendo desqualificadas por achismos ou mecanismos que simplesmente vão contra a lógica do Estado fazer o papel dele de forma correta e transparente, baseados em princípios legais".

Egewarth ressaltou, ainda, que as críticas atuais do governo federal ao trabalho dos órgãos técnicos são uma forma de desviar a atenção pública para a consequência de manifestações do presidente Jair Bolsonaro desde sua eleição, como o anúncio de que ele iria acabar com a "festa" de multas do Ibama. Para o diretor da Ascema, essas falas estimularam o aumento de crimes ambientais como o desmatamento, e a consequência deve atingir os empresários do agronegócio que atuam de maneira legal, mas devem ser prejudicados pela retaliação do mercado internacional.

"Estão querendo desviar o foco não só da sociedade, mas também do agronegócio, e jogar a responsabilidade em cima dos técnicos, como se a gente tivesse o direito de mentir sobre informações que historicamente foram públicas", disse ele. "[Os outros países] vão taxar o produto e [o Brasil] vai perder competitividade. Quem vai pagar a conta é o agronegócio, que não tem nada a ver com o desmatamento."

Ivanil Barbosa, presidente do Sindicato dos Servidores do Setor Aeroespacial (Sindct):
"Nosso receio agora é que o novo diretor do Inpe, escolhido pelo governo, venha a atuar como um tipo de interventor. Sobretudo depois da manifestação do general Augusto Heleno [Segurança Institucional] sobre a inconveniência das nossas publicações, dos dados divulgados pelo Inpe. Será que o Inpe, com a saída do Galvão, vai ter um 'cala-boca'? Vamos poder ofertar, internamente e internacionalmente, o serviço que prestamos, com liberdade?"

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente durante o governo Lula, em rede social:
"O diretor do Inpe não foi demitido por incompetência. Está sendo demitido por sua extrema competência, altivez e por dirigir uma instituição de Estado que prima pelo interesse público e não se acovardou diante das ameaças da tríade (Ricardo Salles, General Augusto Heleno e Bolsonaro), que se levantou para intimidar e desmoralizar a instituição.

Veja abaixo declarações de entidades a respeito do tema:
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC):
"A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada", afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC). "Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe."

"Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe", continuou o secretário do OC.

Ainda segundo Rittl, "a imagem do Brasil já está irremediavelmente comprometida por essa cruzada contra os fatos. Nos próximos meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o Inpe: a única maneira de evitar más notícias sobre o desmatamento é combatê-lo."
Marcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA):
"É a verdade sobre o desmatamento que está sendo exonerada."

Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace:
"Bolsonaro sabe que seu governo é o principal responsável pelo atual cenário de destruição da Amazônia. A exoneração do diretor do Inpe é apenas um ato de vingança contra quem mostra a verdade. O novo governo vem implementando no país um projeto antiambiental, que sucateia a capacidade do Estado de combater o desmatamento e favorece quem pratica o crime florestal. E agora, na hora de encarar as consequências de suas decisões, tenta esconder a verdade de maneira vergonhosa e culpando terceiros."

Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema):
Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema), afirmou que a exoneração é mais um episódio de "uma situação de desmanche e desqualificação das instituições que historicamente têm um papel importante dentro do estado brasileiro". Segundo ele, "são instituições técnicas que estão sendo desqualificadas por achismos ou mecanismos que simplesmente vão contra a lógica do Estado fazer o papel dele de forma correta e transparente, baseados em princípios legais".

Egewarth ressaltou, ainda, que as críticas atuais do governo federal ao trabalho dos órgãos técnicos são uma forma de desviar a atenção pública para a consequência de manifestações do presidente Jair Bolsonaro desde sua eleição, como o anúncio de que ele iria acabar com a "festa" de multas do Ibama. Para o diretor da Ascema, essas falas estimular o aumento de crimes ambientais como o desmatamento, e a consequência deve atingir os empresários do agronegócio que atuam de maneira legal, mas devem ser prejudicados pela retaliação do mercado internacional.

"Estão querendo desviar o foco não só da sociedade, mas também do agronegócio, e jogar a responsabilidade em cima dos técnicos, como se a gente tivesse o direito de mentir sobre informações que historicamente foram públicas", disse ele. "[Os outros países] vão taxar o produto e [o Brasil] vai perder competitividade. Quem vai pagar a conta é o agronegócio, que não tem nada a ver com o desmatamento."

Ivanil Barbosa, presidente do Sindicato dos Servidores do Setor Aeroespacial (Sindct):
"Nosso receio agora é que o novo diretor do Inpe, escolhido pelo governo, venha a atuar como um tipo de interventor. Sobretudo depois da manifestação do general Augusto Heleno [Segurança Institucional] sobre a inconveniência das nossas publicações, dos dados divulgados pelo Inpe. Será que o Inpe, com a saída do Galvão, vai ter um 'cala-boca'? Vamos poder ofertar, internamente e internacionalmente, o serviço que prestamos, com liberdade?"

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente durante o governo Lula, em rede social:
"O diretor do Inpe não foi demitido por incompetência. Está sendo demitido por sua extrema competência, altivez e por dirigir uma instituição de Estado que prima pelo interesse público e não se acovardou diante das ameaças da tríade (Ricardo Salles, General Augusto Heleno e Bolsonaro), que se levantou para intimidar e desmoralizar a instituição.

Tentaram sem êxito desacreditar o seríssimo trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia feito pelo Inpe há mais de 30 anos e que virou a maior referência internacional no assunto. Sem conseguir apresentar nenhuma evidência técnica e nem científica, ficaram com frases toscar e vazias, eivadas de mentiras e preconceitos. Bolsonaro tenta destruir uma instituição de 50 anos de existência, tentando impor a lei da mordaça e do autoritarismo."

Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil):
"Lamentamos a exoneração do presidente do Inpe, Ricardo Galvão, e nos solidarizamos a ele na defesa do Inpe como instituição científica e na defesa da elaboração e da divulgação pública e apolítica dos dados de desmatamento. Vemos com preocupação a dispensa de um quadro técnico de alta e reconhecida excelência, esperando que não seja um prenúncio de que as informações –estratégicas sobre o desmatamento no nosso país – serão censuradas ou alteradas.

Neste momento, o Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente deveriam se preocupar em efetivamente combater o desmatamento descontrolado, uma chaga que aflige a sociedade brasileira e vem causando imensos prejuízos a todos, inclusive para a agricultura de regiões do centro-sul do país, que depende diretamente das chuvas produzidas pela floresta para poder existir."  
Fonte: G1

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