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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Coronavírus: Por que flexibilizar não significa liberar geral



Fonte: jornal EM



Júlio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Infectologista da Fiocruz e ex-diretor do Departamento
de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da 
Saúde, Julio Croda 
Por Guilherme Peixoto - EM

EMJoão Doria anunciou a flexibilização da quarentena em algumas cidades de São Paulo. Para aderir, é preciso ter capacidade ociosa de leitos.
Mesmo assim, a decisão do governador pode trazer consequências às
cidades que, como Guarulhos, estão com o sistema de saúde no
limite?


Julio Croda
: É bom sempre regionalizar a questão. Precisamos entender como os leitos são regulados para uma determinada região. Quando um
paciente de uma cidade que não tem UTI precisa de um leito, ele é
encaminhado a uma das vagas disponíveis naquela macrorregião. A
decisão de flexibilizar ou restringir o isolamento tem que ser
tomada em conjunto, entre todas as cidades de uma macrorregião.
Todas serão impactadas por um aumento no número de casos. As
cidades não podem ser olhadas individualmente, pois 80% dos nossos
municípios têm menos de 20 mil habitantes e a maioria das cidades
não têm leitos de UTI. Por isso, o olhar precisa ser regionalizado.


EMComo convencer os brasileiros sobre a necessidade das medidas restritivas mesmo em meio às flexibilizações anunciadas em algumas partes do país?

Julio Croda: Acho muito difícil. Já estávamos em situação difícil, com o governo federal sem apoiar o isolamento. O Ministério da Saúde não
publicou materiais técnicos, com indicadores precisos, que apontem
as regiões de saúde que precisam de mais restrições ou que podem
iniciar a flexibilização. Alguns estados, como Minas, Rio Grande do
Sul e São Paulo, fizeram isso de modo independente. Sem o apoio da
presidência e com estados e municípios pressionados pela iniciativa
privada para reabrir mesmo sem leitos, o que vai acontecer é um
massacre. Quem está morrendo? Pretos e pobres, que moram em
comunidades carentes, onde o vírus circula mais intensamente, já
que a população de baixa renda não consegue cumprir o
distanciamento social. Nas classes altas, o vírus circula menos e há
mais leitos no setor privado. Em compensação, nas classes pobres,
há mais circulação e faltam leitos, principalmente nas regiões
Norte e Nordeste. A decisão é do gestor local, mas do ponto de
vista técnico, o Ministério da Saúde tem que fornecer as
ferramentas para as tomadas de decisão.

EMPor que o senhor resolveu deixar o Ministério da Saúde?
Julio Croda: Queria deixar o Ministério da Saúde desde o ano passado, mas fiquei por conta da COVID-19. Iria ficar até o fim da pandemia, pois, como
sempre disse o ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta, não podemos
abandonar o paciente. Mas, por conta das discussões sobre o (fim) do
distanciamento social, não queria ser responsável pelo tanto de
óbitos que já tivemos. Nesse ritmo, vamos ter 80 mil óbitos. Com a
flexibilização, vamos ter uma aceleração, com recordes atrás de
recordes de casos e mortes. Vamos flexibilizar sem ter condições.
Saí, em 24 de março, onde houve ruptura entre as recomendações do
ministério e os pensamentos do presidente sobre o tema. Tanto que,
cerca de 20 dias depois, Mandetta saiu. Enquanto ele defendia o
isolamento social, o presidente era contra.


Quem devemos escutar? 

São mais de 500 mil infectados no Brasil com cerca de 30 mil óbitos.

Fonte: Jornal Estado de Minas






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