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sábado, 1 de maio de 2021

"PRIMEIRO DE MAIO: ENTRE O LUTO E A LUTA"

 

Por Rafael Martins Neves

“Os significados do dia primeiro de maio têm sido disputados ao longo do tempo. Por um lado, há sempre a tentativa de transformá-lo em uma celebração vazia. Para as elites patronais é interessante que seja visto como apenas um dia de descanso proporcionado por um feriado como qualquer outro. Diante dessa postura, precisamos relembrar sua origem e seu sentido histórico para refletir sobre os desafios que nós, trabalhadores e trabalhadoras, enfrentamos na atualidade.


No dia primeiro de maio de 1886, ocorreram manifestações e paralisações de operários em diversos locais dos Estados Unidos, tendo como centro irradiador a cidade de Chicago. A principal reivindicação era o estabelecimento da jornada de trabalho de 8 horas diárias. Vale lembrar que, naquele período, chegava-se a trabalhar mais de 14 horas por dia! A repressão policial aos grevistas foi brutal, levando a prisões e mortes. Alguns anos depois, a data foi escolhida por diversas organizações como o dia internacional de luta dos trabalhadores, no qual eram realizadas simultaneamente, em diversos países, mobilizações pela obtenção de direitos.


Não é minha intenção fazer longas exposições históricas acerca do tema. Entretanto, retomar as origens para refletir sobre o caráter classista de luta do primeiro de maio é fundamental em nossos dias. Nos últimos anos, nos acostumamos a viver em um país em crise, alternando momentos de recessão e estagnação econômica. Os economistas ouvidos pela grande mídia dizem que todos têm que se sacrificar para passar por esse momento difícil. A conta, entretanto, está sendo paga quase integralmente pelos trabalhadores.


O Presidente da República repetiu insistentemente, durante sua campanha, que o trabalhador teria que escolher entre ter direitos ou ter emprego. Reverberando uma mentalidade que vem ganhando força há alguns anos, culpava as conquistas históricas da classe trabalhadora pelos supostos altos custos da mão-de-obra no país. A solução seria diminuir “encargos” e garantir “liberdade econômica” para a retomada do crescimento. Depois de uma série de desmontes da CLT, vemos hoje o resultado: o desemprego aumentou, a informalidade se tornou a regra na maioria das relações de trabalho, as jornadas se estenderam e direitos antes considerados básicos como férias remuneradas, auxílio-doença e décimo terceiro foram transformados em sonhos distantes para a maior parte das pessoas, uma vez que mais da metade da força de trabalho não tem carteira assinada. A fortuna dos bilionários, por outro lado, só aumentou.


A pandemia escancarou quem paga os custos dessa “modernização”. O índice de contágio e morte foi maior entre trabalhadores informais e terceirizados. A ausência de garantias trabalhistas mínimas impediu que a maior parte das pessoas tivesse a possibilidade de fazer o necessário isolamento social. A macabra marca de 400 mil mortos não seria atingida sem a devastação que foi promovida por aqueles que destruíram conquistas e direitos em nome da “eficiência” para “aumentar a competitividade” do país, atraindo investimentos para um melhor “ambiente de negócios”


Disputar o sentido histórico do primeiro de maio, nestes tempos onde o luto se tornou uma constante, deve nos lembrar que só por meio da luta coletiva e organizada conseguimos arrancar os direitos que agora são retirados de forma tão rápida. É preciso reafirmar que não queremos apenas empregos, também queremos direitos! E que os ricos paguem pela crise que produziram!”

Fonte: Rafael Martins Neves

Rafael Martins Neves


Rafael Martins Neves é Historiador, mestre em educação e presidente do Diretório Municipal do PSOL em Poços de Caldas.


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