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segunda-feira, 21 de junho de 2021

"General da ditadura Newton Cruz, como Bolsonaro, também mandou repórter calar a boca"

Foto: © Yuri Ferreira  -  General da ditadura Newton Cruz, como Bolsonaro, também mandou repórter calar a boca
 

Bolsonaro sem cumprir as medidas sanitárias obrigatórias: máscara e o distanciamento social

Por André Shalders, Gustavo Côrtes, Matheus de Souza e Bruno Ribeiro - Estadão

"Sob pressão diante do número alarmante de mortes por covid-19 e da perda de popularidade, o presidente Jair Bolsonaro retirou a máscara de proteção enquanto dava entrevista nesta segunda-feira, 21, e, aos gritos, mandou uma repórter calar a boca. Bolsonaro disse ser alvo de “canalhas” da imprensa e do Brasil, pediu “pergunta decente” e mostrou descontrole. A cena ocorreu após sua participação na cerimônia de promoção da Escola de Especialistas de Aeronáutica, em Guaratinguetá (SP), dois dias depois de protestos, em todo o País, pedindo o seu impeachment e com o número de mortos por coronavírus ultrapassando a marca de 500 mil.

Questionado pela repórter da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, sobre o fato de chegar ao local da solenidade sem máscara, Bolsonaro ficou furioso. “Olha, eu chego como eu quiser, onde eu quiser, está certo? Eu cuido da minha vida. Parem de tocar no assunto”, disse ele, sem esconder a irritação. 

Fonte: Foco Brasil


Logo em seguida, o presidente tirou a proteção facial e começou a gritar. “Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora? Você está feliz agora?", perguntou Bolsonaro duas vezes, dirigindo-se à repórter. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que, além da vacinação, o uso de máscara é a forma mais eficaz para evitar o contágio pelo coronavírus. 
 
Visivelmente exaltado, ao lado da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o presidente continuou a insultar a jornalista. “Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa”, afirmou. A repórter tentou engatar uma pergunta. “Cala a boca!”, interrompeu Bolsonaro.
 
Aos berros, ele não economizou xingamentos aos profissionais que tentavam entrevistá-lo.
 
“Vocês são canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha, que não ajuda em nada! Vocês destroem a família brasileira, vocês destroem a religião brasileira! Vocês não prestam”, afirmou o presidente. “A Rede Globo não presta. É um péssimo órgão de informação. Se você não assiste a Globo, você não tem informação. Se você assiste, está desinformado. Você tinha que ter vergonha na cara em se prestar (a fazer) um serviço porco que é esse que você faz, na Rede Globo”. Zambelli, que o acompanhava, também tirou a máscara.

Um pouco antes, ao dizer que era alvo de canalhas do Brasil, Bolsonaro percebeu um burburinho vindo de sua comitiva. Não teve dúvidas: virou-se para trás e passou uma descompostura em todos. “Dá para calar a boca aí atrás, por favor?”, esbravejou.
 
Pela primeira vez desde sábado, quando o número de vidas perdidas por covid-19 passou de 500 mil, o presidente se manifestou sobre o assunto. Mesmo assim, ele defendeu, mais uma vez, o tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada para enfrentar a doença.

“Lamento todos os óbitos. Muito. É uma dor na família. E (...), desde o começo, o governo federal teve coragem de falar em tratamento precoce. (Mas) Como está sendo conduzida essa questão, parece até que é melhor se consultar com jornalistas do que com médicos”, disse. Ao repetir que contraiu coronavírus e se tratou com medicamentos como hidroxicloroquina, Bolsonaro novamente recorreu à ironia. “Tudo o que eu falei sobre a covid, infelizmente, para vocês, deu certo”, insistiu.
 
O presidente também criticou a emissora de TV CNN e pediu “pergunta decente” ao perguntar de que veículo eram os repórteres. “CNN? Vocês elogiam a passeata agora de domingo, né? Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda”, reclamou Bolsonaro, ao se confundir com a data das manifestações que pediram o seu impeachment e foram realizadas no sábado. “Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda”.

Sempre que está acuado, o presidente ataca a imprensa. Nos últimos tempos, porém, os momentos de fúria têm vindo numa escalada, à medida em que a crise no governo se agrava e sua popularidade cai. Nesta segunda-feira, 21, por exemplo, a irritação de Bolsonaro começou quando a repórter da TV Vanguarda o questionou sobre a multa recebida do governador de São Paulo, João Doria, por não usar máscara durante a participação em uma motociata, no último dia 12.
 
“Você quer fazer uma pergunta decente? Eu respondo. Você é da Globo? Não quero conversa com a Globo, não”, retrucou. Bolsonaro disse que participou da motociata com “capacete balístico à prova de 762”. “Vou ser multado toda vez que andar de moto por aí? Sou alvo de canalhas do Brasil. Eu chego como quiser, aonde eu quiser, eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa”.

Por meio de um comunicado, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo repudiou a atitude do presidente. “O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam a atitude brutal do presidente. Ela se deu em novo caso de ataque ao exercício profissional do jornalismo, que Bolsonaro já provou reiteradamente desprezar, tanto quanto despreza a própria democracia”, disse o texto.
 
“O SJSP e a Fenaj expressam sua solidariedade às (aos) jornalistas da Rede Globo de Televisão, contra as revoltantes agressões do cidadão desqualificado que ocupa a cadeira de presidente. O Sindicato move desde 7 de abril de 2021 uma ação por danos morais coletivos contra Bolsonaro por ataques como este", continuou a nota. 
Mortadela
 
Pela manhã, ainda em Brasília, Bolsonaro afirmou que os protestos contra ele foram organizados por “petralhas” e tentou minimizar as manifestações, tentando identificá-las a um movimento apenas do PT. 

“Eu acho que eu vou acabar com as manifestações dos petralhas. Comam mortadela, pessoal, faz bem à saúde”, ironizou o presidente, em conversa com seus apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada. “Comam mortadela, que faz bem à saúde. Vai acabar com as manifestações. Entendeu a jogada? Porque tudo que eu apoio é o contrário. Então, estou apoiando agora o consumo de mortadela no Brasil”."

Relembre os ataques de Bolsonaro à imprensa

"O presidente se irritou com uma pergunta sobre o uso de helicóptero da FAB por seus parentes, que foram ao casamento de Eduardo Bolsonaro. Disse que não iria responder a “pergunta idiota” sobre o assunto.

Bolsonaro conversava com apoiadores em frente à residência oficial, o Palácio da Alvorada, quando um ciclista lhe perguntou sobre o ex-assessor Fabrício Queiroz. “(Queiroz) Está com a sua mãe”, respondeu Bolsonaro.

No fim do primeiro ano de governo, o presidente disse a um repórter do jornal O Globo que ele tinha uma “cara de homossexual terrível”. Bolsonaro também mandou repórteres se calarem depois de ser questionado sobre a operação de busca da Polícia Federal em endereços de seu filho Flávio.

Foi com essa exclamação que o presidente respondeu a um repórter quando questionado sobre mudanças na Polícia Federal. Na ocasião, Bolsonaro tinha acabado de nomear o delegado Rolando de Souza para o comando da corporação.

Em resposta à pergunta de um repórter do jornal O Globo sobre os depósitos de Fabrício Queiroz à primeira dama Michelle Bolsonaro, durante uma caminhada no centro de Brasília, Bolsonaro disse: “Minha vontade é encher tua boca de porrada”.

Em live, Bolsonaro negou a existência do orçamento secreto revelado pelo Estadão e chamou repórteres do jornal de “idiotas” e “jumentos”. “E agora vem o Estado de S. Paulo, esse jornaleco, falar que o orçamento secreto é meu? Só os idiotas do Estado de S. Paulo. Os jumentos do Estado de S. Paulo não têm outra explicação”.

Ao conversar com apoiadores em Brasília, o presidente ofendeu a âncora do canal de TV a cabo CNN, Daniela Lima. A manifestação do presidente foi em resposta a uma apoiadora, que distorceu comentário da jornalista.

Questionado por uma repórter de afiliada da TV Globo sobre o fato de ter sido multado pelo governo de São Paulo ao não usar máscara durante “motociata” do último dia 12, Bolsonaro mandou a jornalista “calar a boca” várias vezes."

Fonte: Estadão       

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