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sábado, 5 de junho de 2021

"Os Lobos nos Mostram Por Quem os Sinos Dobram"



Nenhum homem é uma ilha isolada.

John Donne

O Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, foi o primeiro parque nacional no mundo. O parque é conhecido por suas características geológicas peculiares, como o gêiser “Old Faithful” (‘Velho Fiel’), nome dado à regularidade e previsibilidade de suas erupções. A região apresenta também uma fauna e flora riquíssima, que encanta os milhões de visitantes do parque.

Na década de 1990, com o intuito de se reduzir o crescimento descontrolado de alces e veados, os lobos foram reintroduzidos no ecossistema do parque. Os lobos haviam sido erradicados na região há décadas, e por setenta anos seus uivos não eram ouvidos. Sem inimigos naturais, alces e veados proliferaram tranquilamente, e o grande número impedia a vegetação de se desenvolver adequadamente.

Uma alcateia de lobos, oriunda do Canadá, foi alocada no parque. O retorno dos lobos gerou uma transformação no parque muito além do que esperavam os cientistas. O retorno do lobos obrigou os alces e os veados a adotarem comportamentos e áreas mais seguras, permitindo com isto o florescimento da vegetação. Logo, outros animais começaram a surgir. As árvores permitiram a chegada de pássaros, insetos e outros animais. Dentre estes animais, os castores, que com suas construções nos cursos de água, permitiram o crescimento de peixes e anfíbios. O aumento da população de pequenos animais atraiu outras espécies de aves, como falcões. A profusão de alimentos trouxe de volta os ursos. A redução do desgaste da vegetação reduziu a erosão do solo, estabilizando o curso dos rios e mudando, com isso, até mesmo a geografia do parque.

A reintrodução dos lobos no parque nacional norte-americano nos traz grandes lições sobre a teia da vida e das relações. Cada integrante desta teia é essencial para sua existência. Quando um fio se parte, as consequências são incalculáveis.

Em uma visão mais curta ou medíocre, a erradicação dos lobos não teria maiores consequências. Estas, entretanto, fizeram-se perceber ao longo do tempo. Este é um dos desafios humanos, perceber o quanto as suas ações, por menores que pareçam, impactam a si mesmo e aqueles ao seu redor no decorrer do tempo.

Fazendo uma analogia com as relações humanas, sempre que alguém desaparece, por qualquer motivo, depois de algum tempo parece que a vida volta a sua normalidade. A rotina e o ritmo anteriores desaparecem, mas em breve uma nova rotina e um novo ritmo surgem no lugar da anterior. E, pelo fato de a vida continuar, aparentemente tudo volta à normalidade.

Mas todos são insubstituíveis. Quem desaparece leva consigo sua capacidade de realizar, de sonhar, as experiências passadas e aquelas que estariam por vir. E as contribuições únicas que poderiam fazer não podem ser feitas por mais ninguém, pois ninguém é a cópia perfeita de outra pessoa.

Cada ser humano é insubstituível e por, isto mesmo, imprescindível em suas contribuições, em sua individualidade. Somos o infinito contido na unidade. Feliz é aquele que é perfeitamente consciente de sua importância única, da exclusividade inata que lhe é concedida pela vida; e ao mesmo tempo, percebe-se como uma gota inserida no oceano cósmico. Uma parte essencial do ecossistema e das teias da vida aos quais estamos indissoluvelmente atados.


       
Por este motivo que o poeta inglês John Donne, com a visão que apenas os artistas possuem, afirmou que nenhum homem é uma ilha;

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

A recuperação do ecossistema em Yellowstone ainda está sendo estudada e acompanhada. Mas sua lição mais profunda para nós é a consciência do que nos faz verdadeiramente fortes: a interdependência.


Maurício Luz
Maurício Luz tem sua Coluna aos sábados para O Guardião da Montanha.
Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997)

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.  

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