Se consegui ver mais longe, foi porque estive apoiado em ombros de gigantes.
Isaac Newton
Sou apaixonado por árvores. Para mim, são templos nos quais posso entrar em conexão com o milagre da vida, a qualquer momento. E quando a imponência e o tamanho da árvore se fazem presentes, mais profunda ainda é a minha conexão e, porque não dizer, reverência.
As sequoias ocupam um lugar especial no meu encantamento a respeito destes seres tão especiais. São as maiores árvores do planeta Terra. Belas e imponentes, alcançam em média 80 metros de altura, o equivalente a um edifício de 26 andares, podendo superar os 100 metros. Uma sequoia, chamada de “General Sherman”, que vive no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, é o maior ser vivo por volume da Terra. Lamento, baleias azuis.
As sequoias também são extremamente longevas. Muitos exemplares de sequoias já estavam aqui quando Jesus andou pela Terra ou quando a Muralha da China começou a ser construída. Assistiram à queda do Império Romano, ao início da era das Navegações, à Queda da Bastilha e o surgimento das primeiras fábricas. Testemunharam a chegada dos vikings na América do Norte, e a ascensão e queda dos astecas e dos maias, o horror do nazismo e das Guerras Mundiais. Elas são testemunhas de tudo que aconteceu na história do mundo há 3 mil anos.
Por todas estas características, as sequoias sempre me fascinaram. E por isso fiquei encantado ao saber que um brasileiro também apaixonado por estes seres tão imponentes dedicou sua vida em trazer espécies das árvores para o Brasil e plantá-las.
Em 1945, Curt Mentz e sua esposa Osmilda adquiriram um terreno na região de Canela, no Rio Grande do Sul. Preocupado com o desmatamento na região, causado pelas madeireiras que exploravam os pinheiros nativos, Curt iniciou uma pesquisa sobre qual espécie ele e sua esposa poderiam plantar no terreno, visando que as árvores pudessem ser usufruídas por seus filhos e netos. Ou seja, o reflorestamento idealizado por eles não tinha cunho industrial ou financeiro. Eles queriam construir algo que permitisse a seus descendentes aproveitarem a sombra fresca de uma árvore, além do cunho científico para que fossem utilizadas pela Ciência do Estado e do país. Escolheram então as coníferas, dentre elas as sequoias.
O desafio não era pouco, pois as sequoias demandam condições específicas de clima para que possam se desenvolver, além das dificuldades de se conseguir sementes e espécies. Por meio das relações e contato que possuía, a família de Curt e Osmilda obtiveram as primeiras sementes em 1949. Aos poucos, formou-se uma rede internacional que permitiu à família obter diversas espécies de várias árvores, além das sequoias.
Hoje, a área onde a família de Curtz iniciou a construção de seu sonho é um parque, aberto à visitação do público, na cidade de Canela. Diversas praças e parques no interior do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina receberam mudas de árvores nascidas no parque idealizado por Curtz.
E a grande atração do parque são as sequoias. Há vários exemplares destas árvores únicas, inclusive uma espécie que foi considerada extinta, mas cujas sementes foram encontradas em geleiras na China e, replantadas, voltam a germinar. Duas mudas foram presenteadas ao parque pelo cônsul da Inglaterra e se adaptaram muito bem à região. Vê-las é como olhar para páginas escritas há muito tempo pela epopéia da vida em nosso planeta.
Lembro-me frequentemente das sequoias e da história de Curtz e Osmilda. Porque as sequoias, em sua imponência, nascem pequenas e frágeis. De forma alguma sugerem, em seus anos mais novos, a potência que se tornarão em seu futuro. Da mesma forma que as boas ações e os sonhos.
As sociedades humanas estão passando por um intenso movimento de mudança, que causa medo e insegurança nas pessoas. Para muitas delas, a resposta está na força bruta e na raiva, deixando de lado as virtudes básicas que possibilitaram ao ser humano viver em sociedade e sonhar em alcançar as estrelas. E as virtudes são abandonadas em nome da segurança, do acúmulo financeiro ou pretensa recompensa espiritual.
Medo, raiva e insegurança são os ingredientes básicos para que os inescrupulosos manipulem as multidões, sempre apresentando como solução a força bruta. E a força bruta sufoca a virtude.
Mas as boas ações são como sequoias. Parecem frágeis e minúsculas. E quando nascem, são mesmo frágeis e minúsculas. Mas quando crescem e ganham corpo, mostram todo o seu poder e encantamento, por milhares de anos. Basta olhar a História: as pessoas mais influentes da jornada humana, aquelas que influenciaram a vida de milhares de pessoas não apenas durante a sua existência, mas ao longo dos séculos e das gerações, não foram aquelas que mostraram à humanidade a potência da bondade e das ações conscientes?
Elas também começaram pequenas, assim como suas ações. Mas se tornaram verdadeiras sequoias da Humanidade, as árvores que nos mostram onde poderemos chegar se confiarmos na potência de nossas virtudes.
Mas para isto, precisamos desenvolver a capacidade de olhar para além de nossas próprias existências. Precisamos ser, como Curtz e Osmilda, ser capazes de nos perguntar o que queremos deixar para as futuras gerações. Desenvolver o mesmo desprendimento e o mesmo amor que leva a plantar árvores e sementes cujos frutos poderão vir apenas quando aquele que as plantou já tiver deixado este planeta.
Ou recuperamos a fé nas boas ações, ou cometeremos atos cujos os frutos amargos do arrependimento e da culpa serão servidos às nossas mesas. Ser compassivo, compreensivo, tolerante, amoroso, e tantas outras virtudes abraçadas pelas sequoias da humanidade não é uma fraqueza. É o que separa as grandes árvores dos meros arbustos, o que separa a nossa humanidade da animalidade. É nos ombros destes gigantes que devemos subir, para enxergar ainda mais alto e construir o amanhã.
E assim, conscientes e cuidados de cuidarmos para que nossos atos cotidianos sejam nutridos pelas virtudes que nos tornam humanos, poderemos então conceder para nós mesmos e para as futuras gerações a característica que possibilita a uma família sonhar e construir um parque cujas árvores têm o potencial para durar mais de dois mil anos: Esperança.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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