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sábado, 18 de setembro de 2021

"Seu Elefante Sabe para Que Direção Seguir?"

Saber não é suficiente; nós devemos aplicar. Desejar não é suficiente; nós devemos fazer.

Johann Wolfgang von Goethe


As Olimpíadas eram o evento mais importante da Grécia Antiga. Eram festivais esportivos, culturais e religiosos que aconteciam a cada 4 anos em honra a Zeus, o principal deus do panteão grego. Tão importante eram os Jogos Olímpicos que até mesmo guerras eram paralisadas para que o evento acontecesse. Durante séculos os gregos conseguiram manter a tradição, até que os jogos foram proibidos por motivos religiosos pelo imperador romano Teodósio I. Passaram-se 1.500 anos até os jogos fossem revividos pelo francês Pierre de Coubertain.

Talvez porque as Olimpíadas da Era Moderna aconteceram este ano no Japão que me lembrei de uma história peculiar envolvendo espartanos e atenienses, durante uma das edições dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Esparta e Atenas eram as cidades-estado mais poderosas da Grécia, e tinham uma rivalidade que se refletia nos eventos olímpicos. Em um destes eventos, um ancião se dirigiu para o lado onde estavam os atenienses, procurando um lugar para sentar-se. Todos os lugares já estavam ocupados, e o ancião então ficou de pé.

Ao testemunharem aquela cena, os espartanos convidaram o ancião para sua própria torcida, dando-lhe um lugar para que assistisse aos jogos confortavelmente sentado. Ao verem aquilo, os atenienses colocaram-se de pé e aplaudiram! E eis que vem a resposta espartana: “Sabem, mas não praticam.”.

Uma história similar aconteceu com Mahatma Gandhi, que entrou para a História da humanidade ao liderar o movimento de independência da Índia por meio da prática da não-violência. Gandhi dava muito valor aos exemplos, e procurava viver e agir da forma como pregava. 

Certa vez o Mahatma foi perguntado do motivo pelo qual ele não se convertia ao cristianismo, face sua admiração pelos ensinamentos de Jesus e a semelhança de sua filosofia com muito do que o Cristo pregava. Gandhi então respondeu: “Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem 24 horas por dia.”. Gandhi viveu um tempo de sua vida na África do Sul, onde um episódio no qual foi impedido de entrar em uma igreja para assistir a um culto pelo fato de não ser um homem branco o impressionou muito.

Todos nós temos desejos e vontades. Temos sonhos que almejamos realizar, planos a serem concretizados. Mas o grande desafio, às vezes, não está em saber o que se quer, mas se mover para que o que se deseja seja alcançado.

O que causa esta inércia? Segundo a psicóloga comportamental Maria Helena Manso, é necessário que se tenha clareza do caminho a seguir (ou seja, ter um plano ou etapas definidas para se alcançar o objetivo) é influenciar o coração e a mente. Segundo Maria Helena, “o que mais dificulta um processo de mudança é quando coração e mente discordam”. Maria Helena conta que o psicólogo norte-americano Jonathan Haidt criou uma analogia para mostrar o tamanho deste desafio.

A analogia criada por Haidt é a do “condutor em cima do elefante”. O condutor é nosso sistema racional, a nossa mente, onde tomamos aquelas que seriam as decisões mais adequadas. E o elefante é o nosso lado emocional, o coração. Se o elefante não quiser dirigir para o lado que o condutor quer, muito pouco este poderá fazer – afinal, ele não tem como forçar o elefante a seguir na direção que deseja.

É este desalinhamento que faz com que mudanças de hábitos e atitudes sejam tão desafiantes. A mente pode saber qual a melhor direção seguir, mas se o coração não estiver alinhado com a racionalidade da decisão, muito pouco ou nada se avançará na direção que o condutor deseja.

E quando o elefante se encontra em uma posição de relativa comodidade e conforto, torna-se ainda mais difícil fazer com que a mudança de direção aconteça.

Por este motivo , apesar de termos uma noção muito clara de que nossa relação com a natureza precisa ser repensada com urgência, ainda adotamos muitas práticas predatórias que não seriam mais necessárias. Por este motivo , apesar de praticamente toda a população desejar “um mundo melhor”, continuamos a praticar ações que nos levam para o lado contrário, sendo violentos (verbal ou fisicamente), reativos, inconsequentes.

O bem comum ainda não conquistou o elefante. A espiritualidade, a cidadania e a visão de que fazemos parte de algo muito maior ainda não conquistaram o coração.

A saída está em olharmos para nossos próprios atos, incansavelmente. Se eu quero um mundo melhor, onde as pessoas sejam amorosas, tolerantes, compreensivas, eu mesmo estou praticando estes passos? E, praticando, torno-me melhor nestas qualidades a cada momento?

Este tem sido o meu grande projeto pessoal, o meu Everest particular: alcançar o alinhamento entre sentimentos, pensamentos, palavras e ações, de maneira que quando eu olhar para mim mesmo, eu não tenha dúvidas de onde estou e onde quero chegar. Quero ser cada vez mais um ótimo condutor para o meu elefante, e desta forma alcançar a realização dos meus sonhos.

É uma tarefa incrivelmente desafiante, pois demanda atenção a nós mesmos em cada momento. Basta um segundo de desatenção, e o elefante estaciona ou muda de direção. Mas, particularmente, não vejo outro caminho para tornar o mundo diferente sem tomar conta, em primeiro lugar, do meu elefante.

Somente assim, conseguirei desenvolver uma característica comum entre aqueles que mostraram o quanto a Humanidade pode alcançar em termos de sabedoria e ações que beneficiam a dezenas de pessoas. A característica que mostra o alinhamento entre sentimentos, pensamentos, palavras e ações – a perfeita união entre mente e coração: a Coerência.


Maurício Luz

 Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.

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