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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Morre o guru de Bolsonaro. "Acelera a crise do bolsonarismo"

Da esq para dir. ex- Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Olavo de Carvalho e Bolsonaro     Foto: Alan Santos/PR

Por IstoÉ

"A morte de Olavo de Carvalho acontece quando sua influência no governo Bolsonaro já tinha acabado. Era um desfecho previsível. Logo após ganhar as eleições (para sua própria surpresa), o presidente precisava criar um plano de governo e preencher a administração com quadros de confiança. Na economia, pinçou Paulo Guedes e suas ideias ultraliberais e autoritárias. Para o resto, imaginou que poderia usar os seguidores do autointitulado filósofo que ganhou fama ao cristalizar a crise do petismo por meio de teses radicais copiadas dos neoconservadores americanos. Era um repertório que surfava no fenômeno das redes sociais e no velho supremacismo branco (derrotado mas não enterrado na Guerra de Secessão).

Bolsonaro achou que teria algum sucesso com os seguidores de Olavo em ministérios estratégicos: Educação, Relações Exteriores e Meio Ambiente, sem contar o gabinete do ódio.  Os admiradores do guru praticaram uma política de destruição e fragilizaram o governo. Nas cordas, Bolsonaro demitiu todos e tentou se escorar nos militares. Mas a militarização foi rechaçada pelas Forças Armadas e também fracassou. O presidente então entregou o poder ao Centrão, que até esse momento ainda procura estender suas garras para toda a administração. É a terceira e, provavelmente, última fase do governo.

Assim como o trumpismo, o bolsonarismo pode continuar existindo após a provável derrota de Bolsonaro em outubro. Mas o movimento está esfacelado. Escanteada, a ala ideológica (representada por nomes como Abraham Weintraub e Ricardo Salles) está em pé de guerra com a ala política. As eleições devem selar o divórcio. Cada vez mais distantes, os militares estão mais à vontade para criticar o governo e exercer sua independência institucional (vide o caso das declarações do diretor-presidente da Anvisa, um contra-almirante).

O Centrão abraçou o bolsonarismo com avidez e por oportunismo, mas já acena para Lula. O bolsonarismo parece voltar à sua feição original, sem força para sustentar um projeto de poder (o partido Aliança pelo Brasil nem saiu do papel)."

Fonte: IstoÉ


BBC NEWS

"Diagnosticado com covid dias antes de morrer, o escritor e ideólogo da direita brasileira Olavo de Carvalho colecionava postagens no Twitter e Facebook questionando a letalidade do coronavírus, que chamava de "mocoronga vírus".

No entanto, nas redes sociais, centenas de pessoas passaram a resgatar publicações nas quais o escritor, conhecido como uma espécie de guru do bolsonarismo, criticava medidas de isolamento social, o uso de máscaras e duvidava dos riscos do coronavírus.

"O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel", escreveu Olavo na sua conta de Twitter em maio de 2020.

Em janeiro de 2021, quase um ano depois do início da pandemia, o escritor continuava a duvidar da letalidade do coronavírus. "Dúvida cruel. O Vírus Mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?", escreveu no Twitter.

Não há informações oficiais sobre se Olavo tomou ou não doses da vacina contra a covid-19.

Em publicações no Facebook, ele fez críticas à Coronavac, a que chamava de "vacina chinesa", e à ideia de tornar a vacinação obrigatória.

"O Brasil não quer vacina chinesa obrigatória, o STF quer. Quem manda mais? O Brasil não quer ideologia de gênero nas escolas infantis. O STF quer. Quem manda mais? O BRASIL NÃO MANDA NADA", escreveu em 27 de outubro de 2020, no Facebook.

Ao mesmo tempo, ele defendia, em suas redes sociais, medicamentos sem qualquer eficácia comprovada para o tratamento da covid, como a cloroquina.

"Na França o primeiro-ministro e o ministro da Saúde que vetaram a cloroquina perderam os cargos e respondem a processo. No Brasil, xingado de genocida é o presidente que, liberando a cloroquina, salvou milhares de vidas. Esse país é o paraíso da ignorância", escreveu Olavo em 15 de julho de 2020.

Na realidade, a demissão dos ministros franceses citados pelo escritor não teve qualquer relação com proibição de cloroquina. Eles foram acusados de falhar na resposta à pandemia, diante da escassez de equipamentos médicos nos hospitais franceses.

Críticas a lockdowns e defesa da cloroquina

Olavo de Carvalho também fez, ao longo da pandemia, diversas críticas a medidas de fechamento de comércio, uso de máscaras e isolamento social. Ele constantemente questionava os números oficiais de mortos e a letalidade do coronavírus, além de sugerir motivos conspiratórios por trás dos lockdowns anunciados por governos de diferentes países.

"Conselhos de saúde matam mais que o coronavírus", escreveu ele em 19 de março de 2020, no Facebook. "Paralisar a atividade econômica mundial para debelar uma epidemia que mata menos de 0,1 por cento DOS CONTAMINADOS (não da população inteira) é uma vigarice tão óbvia que o mero fato de aceitar essa proposta como hipótese para discussão já prova deficiência mental", completou ele em 21 de abril de 2020.


Dúvida cruel. O Vírus Mocoronga mata mesmo as pessoas ou só as ajuda a entrar nas estatísticas?

Em outra publicação, de 24 de abril de 2020, ele chamou as medidas para conter a propagação da covid de "crime". "Essa campanha para nos 'proteger da pandemia' é o mais vasto e mais sórdido crime já cometido contra a espécie humana inteira."

Em entrevista à BBC News Brasil em maio de 2020, ele mostrou total alinhamento com as posturas de Bolsonaro na pandemia de covid-19, criticando medidas de isolamento social e uso de máscara, embora a importância dessas ações para conter o vírus seja atestada cientificamente. Por outro lado, defendeu remédios sem eficácia comprovada em pesquisas científicas, como cloroquina.

"O nível de cura é imenso. No Brasil, o sucesso da cloroquina está mais do que comprovado", disse. A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressamente desaconselha o uso de cloroquina para prevenção e tratamento de covid.

No Brasil, mais de 620 mil pessoas morreram de covid desde o inicio da pandemia. No mundo todo, o vírus já matou mais de 5,6 milhões. 

Trajetória

 Autoproclamado filósofo, embora não tenha formação acadêmica, Olavo se projetou a partir dos anos 1980 como articulista conservador - © Fornecido por BBC News

Autoproclamado filósofo, embora não tenha formação acadêmica, Olavo se projetou a partir dos anos 1980 como articulista conservador ao escrever em grandes veículos brasileiros, como os jornais Folha de S.Paulo e O Globo.

Após se mudar para os Estados Unidos, alcançou grande público por meio de cursos online e venda de livros com forte retórica conservadora e anticomunista. Seu canal no YouTube, criado em 2007, tem mais de um milhão de inscritos e acumula mais de 68 milhões de visualizações.

Em sua tese de doutorado que daria origem ao livro "Menos Marx, Mais Mises: O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil", a cientista política Camila Rocha afirma não ter dúvidas de que a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 "não foi raio em céu azul, mas fruto da consolidação paulatina de uma nova direita brasileira que durou mais de uma década e que encontrou suporte em redes de contatos e organizações nacionais e estrangeiras construídas décadas atrás por intelectuais e acadêmicos pró-mercado".

E, segundo a pesquisadora, um dos principais influenciadores e fomentadores do surgimento de espaços de debate na internet ligados à formação de uma nova direita no Brasil no início dos anos 2000 foi o escritor Olavo de Carvalho, que, como explica Rocha, "se declarava a favor do livre-mercado na economia, tradicionalista e conservador no que tange à religião, anarquista em relação à moral e educação, nacionalista e contra o 'governo mundial' no que diz respeito à política internacional e um realista no campo da filosofia".

A eleição do presidente Jair Bolsonaro levaria então muitos dos pensamentos de Olavo para o coração do governo brasileiro, como a defesa da família tradicional e do amplo direito ao uso de armas, principalmente por meio da influência de um dos filhos do presidente, seu grande admirador, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Chegou a ter discípulos seus no primeiro escalão do governo, caso dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Abraham Weintraub (Educação).

Hoje, o governo ainda abriga olavistas, como o secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e o Assessor Especial para Assuntos Internacionais da presidência, Filipe Martins. No entanto, o grupo acabou perdendo espaço para setores mais pragmáticos, com a entrada de integrantes do Centrão (grupo de partidos políticos de centro-direita, principalmente o PP) na gestão Bolsonaro.

"Eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê", disse Olavo à BBC News Brasil em dezembro de 2016, poucos meses após o impeachment de Dilma Rousseff, momento em que movimentos de direita emergiram com força no país.

"Estou contra o comunismo e quero que o Brasil tenha uma democracia representativa efetiva", afirmou também na ocasião."

Fonte: BBC NEWS   

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