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sábado, 5 de fevereiro de 2022

"Você pode tudo. Mas não pode tudo."

 


“Se, como eu, você olhou para as estrelas e tentou entender o que vê,

também começou a se perguntar o que faz o universo existir.”.

                                                         Stephen Hawking


Um dos seres humanos que mais admiro é Stephen Hawking. O célebre físico

inglês deixou um legado imensurável para a Ciência. Suas teorias sobre

o Universo ainda serão debatidas e analisadas por anos, e abriram um pouco

mais as portas sobre nosso conhecimento sobre o Universo.

Hawking não foi notável apenas pela contribuição científica que realizou e

que deixou. Em 1963, estudando na Universidade de Oxford e com a idade

de 21 anos, foi diagnosticado como portador de Esclerose Lateral

Amiotrófica (E.L.A.), uma doença degenerativa que impede o

funcionamento dos nervos que controlam a musculatura. Hawking perderia

controle sobre o próprio corpo, tornando-o prisioneiro de si mesmo, até

o seu falecimento. Que, segundo os médicos, aconteceria em até 2 anos

e meio após o diagnóstico da doença.

Em 1965, Hawing casou-se com Jane Wilde, que conhecera pouco menos

de dois anos antes. O casamento com Jane durou 25 anos, quando

Stephen deixou sua esposa para viver com uma de suas enfermeiras,

Elaine Maison. Neste momento, você pode estar se perguntando como

o primeiro casamento durou tanto, se o diagnóstico médico previa que a

morte alcançaria o cientista em 2 anos e meio – e se a previsão aconteceu

no ano de 1963, Jane se tornaria uma jovem viúva em 1966, no máximo.

Mas não foi isto que aconteceu. Realmente, a doença aprisionou Hawking

em seu próprio corpo. Ele perdeu o controle de praticamente toda a

sua musculatura. Ficou confinado a uma cadeira de rodas. Dependia

de cuidados constantes. Perdeu a capacidade de falar, o que lhe obrigou

a utilizar um sintetizador de voz para poder se comunicar.

Isto não impediu que ele se tornasse um dos cientistas mais brilhantes

que surgiram em nosso pequeno planeta. Em 1968, tornou-se membro

do Instituto de Astronomia de Cambridge. Em 1973, publicou seu primeiro

livro, em parceria com G.F.R.Ellis, o primeiro de quinze livros que tiveram

a sua assinatura. Em 1979, retornou a Cambridge para se tornar professor

em uma das mais renomadas cadeiras da Universidade.

O que tornou Hawking mundialmente conhecido, além da brilhante mente e

sua condição singular, foi a sede de compartilhar os segredos que

estudava com o maior número possível de pessoas. Algo que

parecia impossível, visto que perdera as habilidades de falar e

escrever. Entretanto, com o inestimável auxílio de seus estudantes,

que apoiavam nas revisões de texto ditados com o sintetizador de voz,

“Uma Breve História do Tempo” foi publicado. Um sucesso estrondoso,

que se manteve por semanas nas listas de livros mais vendidos e

elevando o cientista à categoria de celebridade mundial.

Hawking faleceu em Cambridge no ano de 1998, com a idade de 76

anos. Um feito notável para alguém cuja sentença prevista seria o

falecimento com 24 a 25 anos no máximo. Quinze livros, teorias científicas

que nos apoiam a entender um pouco mais o Universo, dois casamentos,

três filhos, incontáveis fãs ao redor do mundo.

Eu sou um destes fãs. Lembro-me, como se fosse ontem, da primeira

entrevista que assisti com Stephen Hawking, justamente na época

de lançamento de “Uma Breve História do Tempo”. Causou-me

impressão singular aquela figura aparentemente frágil, sentado em

uma cadeira de rodas altamente tecnológica, falando por meio de

computadores e sintetizadores de voz. Para Hawking, externar um

pensamento era um tremendo esforço, pois somente podia fazê-lo

movendo o único músculo que controlava, o da bochecha.

Sim, Stephen Hawking construiu e divulgou sua obra movendo

apenas o músculo da bochecha.

Não apenas a obra de Hawking me é um incentivo, mas sua própria

vida. Não foram poucas as vezes em que, tomado pela inércia,

preguiça ou desânimo, lembrava-me de Hawking e de sua vontade.

E tal como a estrela que mostra ao navegante o caminho a seguir

em mares desconhecidos ou hostis, seu exemplo me guia

pelas águas turbulentas pelas quais passo em algum momento

de minha existência.

E me leva a refletir sobre o sentido de “limite”. Muitos entendem que

não ser prisioneiro é não ter nenhuma contenção. Que não ser

prisioneiro é ter o poder de tudo fazer, de tudo realizar. Ir a qualquer

lugar, a qualquer momento. Não se sujeitar à lei alguma que gerasse

algum sentimento de restrição ou constrangimento. Escolhas e poderes

infinitos.

Mas a verdade é que a Natureza demanda regras. E regras, nada mais

são, que limites e padrões de relacionamento entre tudo o que

convive e relaciona. Átomos obedecem a limites. Luz e radiação

obedecem a limites. Os elementos químicos se combinam conforme

regras e limites. A vida se mantém sustentando limites entre os

seres que constituem um ecossistema.

Os jogadores de um time de futebol obedecem a limites. Pelé não

marcou 1.283 gols em sua carreira porque podia carregar a bola com

as mãos. Ele converteu todos esses gols com as mesmas

restrições determinadas aos demais jogadores na época em que

desenvolveu sua carreira.

Sem limites, não haveria jogo. Sem limites, não haveria vida. Sem limites,

não haveria Universo.

Não podemos fazer tudo. Pelé não podia fazer gols em impedimento.

Hawking não podia disputar uma maratona.

Quando reconhecemos os limites, os aceitamos e reconhecemos

sua importância, então podemos ir além. Podemos inventar dribles,

treinar mais do que os demais jogadores. Podemos decidir escrever

livros e divulgar os mistérios do Universo mesmo que nossa única

fonte de comunicação com nossos semelhantes seja o singelo músculo

de uma bochecha.

Hawking me mostrou que eu não posso fazer tudo. Mas que tudo,

posso fazer o que me é possível fazer. Reconhecer meus limites

é o primeiro passo para superá-los. Paradoxalmente, é quando

reconheço meus limites que posso exercer plenamente a minha liberdade. 

E exercendo a liberdade de fazer o melhor que posso, com os recursos

que tenho e nos limites que reconheço, que alcanço realizando minhas

ações com profundidade, determinação e consciência. É quando, finalmente,

eu alcanço o significado de “Excelência”.


Maurício Luz

Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.

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