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sábado, 30 de abril de 2022

Saúde: "Risco de variantes mais perigosas do Sars-CoV-2 nos próximos meses é alto"

Quais são os riscos e as consequências das variantes do coronavírus? (Foto: Ilustração: Leandro Zamonel)

"Estudo brasileiro analisou a evolução do vírus causador da Covid-19 e constatou que o patógeno tem se tornado cada vez mais resistente ao sistema imune humano"

Por AGÊNCIA FAPESP

"Estudo brasileiro publicado na revista Viruses sugere que variantes do Sars-CoV-2 com ainda mais potencial de driblar as defesas imunes da população devem surgir nos próximos meses.

O artigo é assinado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP), além de cientistas do Hospital Sírio-Libanês. O grupo revisou mais de 150 artigos sobre o novo coronavírus e analisou diversos aspectos do patógeno, como seu potencial de mutação, a capacidade de evasão do sistema imune, a transmissibilidade e a eficácia das vacinas

“A principal conclusão a que chegamos é que não devemos deixar o vírus circular, pois não sabemos como serão as variantes nos próximos meses”, afirma Cristiane Guzzo, professora do ICB-USP e autora principal do artigo.

Segundo ela, é um erro acreditar que a pandemia está sob controle e que não se trata mais de uma emergência sanitária, como anunciou o Ministério da Saúde no dia 18 de abril.

“Estamos em uma situação confortável para os próximos meses, quando a imunidade induzida pelas doses de reforço das vacinas e pela grande disseminação da variante ômicron ainda estará alta. Mas, depois, a tendência é que as pessoas comecem a se infectar novamente e ficaremos sujeitos ao surgimento de variantes ainda mais contagiosas e fortes do que as já conhecidas, o que diminui a eficácia das vacinas. Como não temos meios de prever a evolução da pandemia e o comportamento das novas variantes, todo o cuidado ainda é necessário para evitar a circulação do vírus”, destaca. 

A pesquisa teve apoio da FAPESP por meio de dez projetos (19/00195-2, 20/04680-0, 16/09047-8, 18/07366-4, 18/15579-8, 17/19541-2, 17/18246-7, 17/17636-6, 20/14158-9 e 20/06091-1).

Altamente mutável

No estudo, foi observado que o coronavírus é ainda mais mutável do que se imaginava. Isso porque a proteína spike, presente na superfície viral e responsável pela infecção de células humanas, segue evoluindo.

“Identificamos que 9,5% das mutações produzidas pelas variantes estão localizadas na região N Terminal [NTD] da proteína. Isso mostra que essas mutações não estão diretamente associadas à interação com o receptor humano ACE2, mas afetam principalmente a capacidade dos anticorpos reconhecerem o vírus”, explica Guzzo. 

Os pesquisadores também constataram um número expressivo de mutações (7,7%) na região RDB da spike, onde ocorre interação com o receptor ACE2. Isso faz com que o contato entre o vírus e a célula humana seja maior e as contaminações aumentem. 

“A maioria das vacinas busca estimular a produção de anticorpos que inibam a interação entre a proteína spike e o receptor ACE2, de forma a diminuir a infecção viral. Uma das formas pelas quais o patógeno consegue burlar essa inibição é modificando a região de interação com a célula humana”, diz a professora do ICB-USP.

No artigo, os pesquisadores destacam que outras proteínas do vírus também estão se modificando. Isso ocasiona, por exemplo, o aumento da taxa com que o patógeno consegue se multiplicar nas células humanas. “Por esses e outros fatores, o vírus vai aprendendo a driblar a ação dos anticorpos e vai se adaptando ao ser humano”, acrescenta Guzzo.

Aumento de transmissão

Ainda segundo o artigo, o período em que as pessoas começam a transmitir a Covid-19 tem se iniciado cada vez mais cedo, conforme novas variantes do Sars-CoV-2 surgem.

“Vimos que 74% das transmissões pela delta foram feitas por assintomáticos. As pessoas infectadas pela cepa original começavam a transmitir o vírus um dia antes do início dos sintomas. Já no caso da delta isso passou a acontecer com dois dias de antecedência. São detalhes que mostram que o vírus está ampliando sua capacidade de se esconder em nosso organismo. O que também pode estar relacionado com o aumento da gravidade dos casos e da taxa de transmissão”, avalia a pesquisadora."

O artigo Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 Variants of Concern: A Perspective for Emerging More Transmissible and Vaccine-Resistant Strains pode ser lido em: www.mdpi.com/1999-4915/14/4/827.

Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP

Fonte: Revista GALILEU                    

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