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quarta-feira, 22 de junho de 2022

"Petrobras tornou-se uma empresa de interesse privado"

Economista Marcelo Simas

  Por Regina Teixeira

"GOVERNO TENTA MANIPULAR A POPULAÇÃO PARA FACILITAR A PRIVATIZAÇÃO" , diz o economista Marcelo Simas.

"A Petrobras está amarrada pelas legislações que alteraram sua governança e trouxeram complicações para a sua gestão a título de combater a corrupção e dar transparência à companhia. Na verdade, isso não passa de uma falácia. A análise é do economista Marcelo Simas, professor do MBA de economia do Petróleo e Gás da Escola Politécnica da UFRJ, que explicou à reportagem do Monitor Mercantil como vê o que acontece com a Petrobras e as reações do governo Bolsonaro sobre os reajustes de preços dos combustíveis. “O governo está facilitando os interesses privados na Petrobras”, afirma.

Voltando um pouco na linha do tempo, em outubro de 2016 foi estabelecida a política de Preço de Paridade Internacional (PPI), criada durante o governo do ex-presidente Michel Temer. O índice então adotado pela Petrobras se baseia nos custos de importação, que incluem transporte e taxas portuárias como principais referências para o cálculo dos combustíveis. “O PPI é como se o Brasil não produzisse uma gota de petróleo, sendo que produz 95% de sua necessidade e importa 5% para fazer a mistura”, comenta Simas.

Desde o dia 18 de junho a gasolina e o diesel da Petrobras tiveram novos aumentos. O preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras passou de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro (o último reajuste foi em 11 de março), e o preço médio de venda do diesel de R$ 4,91 foi reajustado para R$ 5,61 por litro (o valor havia sido aumentado em 10 de maio). Em alguns estados os preços ultrapassam e muito a média sugerida. No Rio de Janeiro, por exemplo, o preço praticado da gasolina pode chegar a R$ 8,39, assim como no Maranhão.

Veja abaixo a entrevista completa com o economista Marcelo Simas.

Como avalia o que vem acontecendo com a Petrobras e a posição tomada pelo governo?

– Na verdade há duas posições inconciliáveis. A primeira é que o governo quer interferir nos preços por uma questão econômica e eleitoral. Econômica porque sabe que o preço do diesel e da gasolina — principalmente o diesel que é nosso modal rodoviário – vai bater diretamente na inflação e nenhum governo se sustenta com inflação alta. Ainda mais um governo que quer se reeleger. E boa parte dos apoiadores do governo é caminhoneiro que depende do diesel. Então o governo fica entre a “escolha de Sofia”. A outra posição deste governo é a manutenção do PPI. Isso porque na verdade essa política de preços foi criada para beneficiar os lobistas que apoiavam o antigo governo e agora o atual, como a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

O governo tenta vender para a população que os aumentos dos combustíveis são uma opção da companhia, não é isso?

– A Petrobras se enredou numa espiral infernal com essa paridade de preço internacional que deixa a companhia amarrada. Hoje, a Petrobras é uma empresa de interesse privado que paga altos dividendos: o governo recebe 37% do capital total e os acionistas estrangeiros têm quase 45% desses dividendos. Em 2021, obteve lucro de R$ 100 bilhões. O PPI viabiliza a importação de derivados para os lobistas que apoiam o governo. A paridade cria uma janela de possibilidade para os importadores de derivados. Essa paridade na verdade é suja. É por isso que vemos eles sempre reclamando de defasagem de preços do diesel e da gasolina. Se houvesse um repasse direto de todo aumento dado no mercado internacional o litro da gasolina aqui já estaria na faixa dos R$ 10 ou R$ 11. Enquanto isso, as refinarias da Petrobras estão com capacidade ociosa. A razão é que assim o governo pode vender essas refinarias por preços baixos. É o que a gente tem visto nas refinarias de Salvador e Manaus e outras que querem vender.

O objetivo é tentar se distanciar da Petrobras para ganhar tempo até as eleições?

– A Petrobras é forçada a seguir essa política de preço (PPI) sob pena de ser processada se não cumprir. Essa legislação foi criada pelo Congresso Nacional no governo Temer, mas Bolsonaro consolidou. Isso é importante para ele manter a sua base de apoio. Na verdade, o governo faz um jogo de cena com a Petrobras. O governo tenta jogar a população contra a Petrobras para facilitar a privatização da empresa.

Sabemos que resolver a questão do PPI depende do executivo e do legislativo.

– A solução seria alterar essa legislação. O Brasil tem uma posição de emergente. Produz petróleo, é o 8º maior exportador de petróleo do mundo, mas é um importador de derivados e que pratica uma política de preços de países desenvolvidos. Enquanto isso não for discutido seriamente não haverá solução. A Petrobras só poderá ter uma política de preço mais suave quando mudar a legislação."

"Petrobrás faz pagamento de remuneração aos acionistas"

Fonte: Monitor Mercantil          

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