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terça-feira, 16 de agosto de 2022

"Se superar ameaça golpista, Brasil será visto como esperança de resistência"

Na noite de quarta-feira (13) rolou a Superlua dos Cervos, quando nosso satélite natural alcança seu ponto mais próximo da Terra. É a segunda vez que tem este fenômeno no ano -- em junho rolou a Superlua de Morango. Na imagem, o Palácio do Planalto, em Brasília. Imagem: Lucio Tavora/Xinhua

Por Jamil Chade Colunista do UOL

"Em meu retorno nesta semana aos escritórios da ONU, em Genebra, esbarrei com um velho conhecido. Um daqueles diplomatas estrangeiros que acompanhou negociações de paz que entraram para a história e que faz parte de um grupo seleto de embaixadores que são verdadeiros acervos vivos dos nossos tempos. 

Ao me avistar, ele abriu um sorriso e brincou sobre o calor que abala a Europa: "e você que pensava que vinha de um país tropical..."

Mas o motivo de sua aproximação era outro: a eleição no Brasil. Assim como dezenas de governos pelo mundo, ele não escondia sua preocupação com o que uma ruptura democrática no país poderia significar para a região. O negociador, porém, se despediu com um tom positivo. "Eu espero que vocês deem uma bela surra no movimento autoritário no mundo", disse o negociador. "Tem muita gente na torcida", completou, com os punhos fechados que se contrastavam com a sofisticada abotoadura que exibia em seu terno impecável.

De fato, todos os estudos apontam na mesma direção: a autocratização do mundo é uma realidade. Hoje, a democracia plena é um luxo que atinge apenas 6% da população mundial.

De acordo com o informe do V-Dem, na Suécia, 5,4 bilhões de pessoas no mundo viviam em 2021 em autocracias fechadas ou autocracias eleitorais. Isso representa 70% da população do planeta. A democracia liberal é um privilégio de apenas 13% das pessoas no mundo, enquanto outros 16% vivem em democracias eleitorais, como o Brasil.

Os números são os mais dramáticos desde a queda do Muro de Berlim.

Mas, nas próximas semanas, se o Brasil superar a ameaça autoritária, o país entrará na agenda internacional como um sinal de esperança e de resistência diante de um movimento de desmonte da democracia.

Se resistir às tentações de um golpe, o processo eleitoral no Brasil passará a ser citado como uma espécie de esperança de que, mesmo em sociedades em desenvolvimento, existem caminhos para a sobrevivência da democracia.

Fácil? Certamente não. Mas superar a crise poderá mostrar ao mundo do que é capaz uma sociedade civil mobilizada, uma imprensa profissional livre, plataformas digitais responsáveis, militares que sabem seu lugar e uma Justiça capaz de dar respostas.

Não é por acaso, portanto, que forças democráticas olham para as eleições no Brasil em 2022 como uma das mais importantes do ano. Seja para frear o avanço da extrema-direita ou para revelar a dimensão dos problemas que a democracia enfrenta.

No maior teste da história de nossa jovem democracia, o que está em jogo é também nossa posição no mundo. Quem somos e de que forma queremos ser considerados.

A legitimidade não vem apenas dos resultados das urnas. Mas do funcionamento das instituições, da capacidade de frear a mentira e do poder de dar às minorias garantias de sua sobrevivência.

A aventura democrática estará garantida? Certamente não. Mas, aos olhos do mundo, uma Primavera Brasileira credenciaria o país como um importante foco de resistência diante de uma das maiores ameaças às liberdades fundamentais e aos direitos humanos em décadas."

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL


Fonte: UOL 

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