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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

De onde o Presidente Lula tirou o novo ministro do STF, o Cristiano Zanin

Cristiano Zanin
Coluna: Mario Sabino
                       Metrópoles

"Cristiano Zanin nunca se comportou como um homem de esquerda. Ele só advogou para um homem de esquerda, que nem é tão de esquerda assim"

"Os petistas estão nervosos com a atuação de Cristiano Zanin nos primeiros julgamentos dos quais ele participou como ministro do STF. Cristiano Zanin votou contra a descriminalização do porte de drogas e contra a tipificação da homotransfobia como crime de injúria racial (voto solitário). Ninguém sabe qual será a sua decisão quanto ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas (a esquerda não quer, a direita quer).

O nervosismo do PT é porque ele foi indicado por Lula e, como Lula é de esquerda, logo Cristiano Zanin teria de ser de esquerda e seria obrigado a votar de acordo com o ideário da esquerda. O silogismo é falso porque as suas premissas não têm base na realidade dos fatos.

Ponto 1: Lula não indicou Cristiano Zanin por ideologia. Indicou-o por um arco de motivos que vão da gratidão pelo trabalho dele como seu advogado de defesa na Lava Jato à garantia de que teria no novo ministro votos favoráveis naqueles assuntos de ordem criminal e política que lhe interessam diretamente.

Ponto 2: Lula não é de esquerda por inteiro em matéria de costumes, embora se esforce para parecer que seja, por conveniências eleitorais e porque a atual Dona Encrenca o atormenta lá em casa.

Ponto 3: para repetir Oscar Wilde, “só um idiota não julgaria pelas aparências”. Cristiano Zanin não se veste como um homem de esquerda, não se penteia como um homem de esquerda, não fala como um homem de esquerda, nunca se comportou como um homem de esquerda e jamais disse que era um homem de esquerda. Pelo contrário, era considerado de direita na faculdade e, na sabatina no Senado, até encantou os mais conservadores. Por que votaria como um homem de esquerda? A verdadeira surpresa será se vier a fazê-lo, não o contrário.

Cristiano Zanin só advogou para um homem de esquerda, que nem é tão de esquerda assim. A esquerda não julga pelas aparências. Nem a imprensa brasileira.

Quem é Cristiano Zanin 



"Advogado do presidente Lula, Cristiano Zanin defendeu o petista nos processos da Operação Lava Jato. Nome precisa passar pelo Senado"

"Cristiano Zanin é o nono nome escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Supremo Tribunal Federal (STF) nos três mandatos do petista como presidente. Foram quase dois meses de espera até que o mandatário anunciasse a decisão. Isso porque a Corte está com uma cadeira vaga desde 11 de abril, quando Ricardo Lewandowski se aposentou.

Lula tentava medir a temperatura do Congresso Nacional para aprovação de seu advogado na Operação Lava Jato como novo ministro do Supremo. Com a sinalização de que o nome não deve enfrentar resistências no Senado, o petista decidiu comunicar a escolha ao Legislativo.

Cristiano Zanin Martins nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo, em 1975. Quase duas décadas depois, em 1994, mudou-se para a capital, onde cursou direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Após se formar, em 1999, o advogado seguiu na universidade, onde fez especialização em direito processual civil. Além disso, foi professor de direito civil e direito processual na Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp).

Cristiano Zanin foto: Antonio Cruz da Agência Brasil

Ele trabalhou em escritórios tradicionais da cidade, como o Arruda Alvim e Teixeira Martins Advogados, antes de abrir a própria empresa, em 2022, com a esposa, Valeska Martins. A mulher é filha de seu ex-sócio Roberto Teixeira, que se filiou ao PT em 1982 e trabalhou como advogado de Lula desde então. Teixeira é amigo do presidente e atuou na ação que permitiu ao petista acrescentar o apelido Lula ao sobrenome da família.

Em 2013, Zanin se tornou advogado de Lula e de sua família. Dados do acervo do STF mostram que, dos 135 processos impetrados por Zanin no tribunal, 81 são dedicados à defesa do, hoje, presidente da República e sete à família do petista.

Uma das primeiras ações que teve atuação de Zanin e ganhou repercussão na mídia foi a de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. “Meu cliente está cansado de ser vítima desse bullying eletrônico, feito com a manifesta intenção de atacar a sua honra”, disse Zanin à época, em 2013.

Lava Jato

Em 2016, Zanin passou a assumir os processos do próprio Lula, no âmbito da Operação Lava Jato. Lula foi investigado pela relação com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras.

O MPF apurava o suposto repasse de R$ 30 milhões das construtoras para empresas de Lula, além do pagamento de despesas do ex-presidente e de parentes. Na época, Lula foi conduzido coercitivamente a prestar depoimento, o que gerou protestos e críticas de juristas. O petista sempre negou as acusações e declarou ser vítima de perseguição.

“Toda pessoa tem o direito de defender a sua honra, a sua imagem. Evidentemente, o fato de envolver uma pessoa dessas gera um interesse maior da imprensa e corremos o risco de aquilo ser deturpado na mídia. Nós temos sempre o cuidado de fazer uma avaliação minuciosa de cada providência jurídica que será adotada, pois trata-se da pessoa com maior capital político do país”, disse Zanin sobre Lula em entrevista de 2016.

O atual presidente foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex de Guarujá, em São Paulo, e ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019.

O advogado foi o autor, em 2021, do pedido que resultou na anulação pelo STF de todas as condenações do petista no caso. O órgão entendeu que Lula não teve seus direitos respeitados, já que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela Lava Jato, a de Curitiba, e que o caso deveria ser reiniciado no Distrito Federal. Mas a Justiça do local reconheceu a prescrição dos crimes, e Lula não responde mais por eles. Com isso, o petista concorreu e venceu as últimas eleições à Presidência, em 2022.

Lula também teve as condenações que retiravam seus direitos eleitorais anuladas em abril de 2021. No mesmo julgamento, Sergio Moro foi considerado parcial em suas decisões. O então juiz teve diálogos vazados nos quais orientava ilegalmente ações da Lava Jato.

Pós-anulação

Desde a soltura de Lula, Zanin tem focado sua atuação em processos por calúnia contra o mandatário. Durante as eleições, o escritório em que trabalha judiciou centenas de ações contra parlamentares, candidatos, partidos e pessoas físicas por publicação de notícias falsas sobre o atual presidente.

Em janeiro deste ano, Zanin foi hostilizado no Aeroporto Internacional de Brasília. As agressões ocorreram enquanto o advogado escovava os dentes em um banheiro."

Fonte: Metrópoles  

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