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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Notícias locais: "Queda de arrecadação ou orçamento inflado?"


Por Tiago Mafra

“A Prefeitura de Poços de Caldas anunciou por meio do Decreto 14.455 de 15 de janeiro (Diário Oficial do Município), corte de horas extras, reajustes de contratos e política de contenção de custos. A justificativa do governo Sérgio/Julio (PSDB/UNIÃO) é a queda de arrecadação e dos repasses federais e estaduais ao município.


“Em levantamento realizado em 18/01/2024 no site do Tesouro Nacional (https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/estados-e-municipios/transferencias-a-estados-e-municipios) referente aos repasses federais para Poços de Caldas de 2017 a 2023, apresentam-se os seguintes dados.



ANO

TOTAL REPASSES FEDERAIS

2017

R$ 133.837.725,71

2018

R$ 120.913.900,17

2019

R$ 157.818.405,32

2020

R$ 185.589.818,26

2021

R$ 214.360.505,25

2022

R$ 255.252.400,29

2023

R$ 255.530.379,90



Não houve queda bruta nos valores repassados pelo Governo Federal em relação 2022-2023, permanecendo valor estacionado com leve alteração para cima. A variação pode ser mais evidente se comparada à peça orçamentária municipal, percentualmente.


O orçamento para previsto 2022, no valor de R$ 1.063.986.833,62 (um bilhão, sessenta e três milhões, novecentos e oitenta e seis mil, oitocentos e trinta e três reais e sessenta centavos), faz com que os repasses federais correspondam a 23,99%.


O orçamento para previsto 2023, no valor de R$ 1.460.407.293,80 (um bilhão, quatrocentos e sessenta milhões, quatrocentos e sete mil, duzentos e noventa e três reais e oitenta centavos), faz com que os repasses federais correspondam a 17,49%.

O orçamento para 2024 prevê o valor de R$ 1.707.328.563,21 (um bilhão, setecentos e sete milhões, trezentos e vinte e oito milhões, quinhentos e sessenta e três mil e vinte um centavos).


Considerando a evolução 2022-2024, o aumento das previsões orçamentárias é de mais de 640 milhões de reais em 3 anos, uma variação na casa de 60% a mais, sendo que no mesmo período o IPCA foi de 5,79% (2022) e 4,62% (2023). 


Além disso, para 2024, há previsão de crescimento no FPM entre 5% e 15%, segundo a Frente Nacional de Prefeitos.


Estudo do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da Universidade de São Paulo (USP) mostra que “como a arrecadação cresceu bem mais rápido do que as principais despesas, a proporção entre os gastos com folha de pagamento e a receita caiu. Ela passou de 51,4% em 2018 para 45,5% em 2022.”.


Em Poços de Caldas, segundo Relatório de Gestão Fiscal do 1° quadrimestre de 2023, último disponível no sítio da Prefeitura de Poços de Caldas-MG, a despesa total com pessoal está na ordem de 46,5%, dentro da projeção constatada no estudo, abaixo do limite de alerta (48,6%) e do limite prudencial (51,3%).


Em levantamento realizado no sítio do Tesouro estadual (https://www.fazenda.mg.gov.br/tesouro-estadual/administracao-financeira/portal-de-repasses-aos-municipios/) em 18/01/2024,  referente aos repasses estaduais para Poços de Caldas de 2020 a 2023, apresentam-se os seguintes dados.


REPASSES TRIBUTÁRIOS LÍQUIDOS POR IMPOSTO (em milhões R$)

Ano

2020

2021

2022

2023*

ICMS

R$ 118,32

R$ 149,94

R$ 159,97

R$ 131,35

IPVA

R$ 35,39

R$ 37,16

R$ 42,36

R$ 57,46

IPI

R$ 1,3200

R$ 1,73

R$ 1,84

R$ 1,27

TOTAL

R$ 155,03

R$ 188,83

R$ 204,17

R$ 190,08

Fonte: https://www.fazenda.mg.gov.br/tesouro-estadual/administracao-financeira/portal-de-repasses-aos-municipios/ 

*Exceto dezembro de 2023.


Nota-se que em âmbito estadual, não houve variação negativa de repasses tributários. Considerando que os dados do tesouro estadual não abarcam valores referentes a dezembro de 2023, proporcionalmente não há queda brusca que justifique afirmações de redução de repasses. Há queda se comparada às previsões orçamentárias.



O problema central reside, portanto e aparentemente, em projeções irreais, que se pautam em expectativas de repasses federais e estaduais, expressas nos orçamentos municipais apresentados à Câmara Municipal. No caso, os repasses de 2023 não atenderam as expectativas previstas no orçamento.


Isso leva a um questionamento importante para o planejamento e gestão municipal pautada na construção anual do orçamento: qual o modelo de projeção de arrecadação utilizado para a construção do orçamento ao longo dos anos?


Segundo o secretário municipal de governo em entrevista a TV local, a média de horas extras pagas pela Prefeitura Municipal de Poços de Caldas é de R$2 milhões/mensal, o que não representa o peso principal dos valores justificados de corte para a gestão.


A questão que fica é: existe uma queda significativa de arrecadação ou um erro de previsão orçamentária, com peças de previsão orçamentária municipais que não condizem com a evolução real dos repasses federal e estadual?


A falta de precisão no orçamento pode demonstrar dificuldade de equilíbrio e previsibilidade, dificultando o controle social e a fiscalização, além de fazer com que as peças orçamentárias deixem de ser ferramentas de gestão e planejamento para serem apenas documentos proforma na burocracia municipal.”


Fonte: Tiago Mafra



Tiago Mafra

Tiago Mafra é professor de Geografia da rede pública municipal de ensino e no pré-vestibular comunitário Educafro desde 2009. Brigadista de Solidariedade a Cuba (2011), Especialista em Filosofia (2011) e em Políticas Públicas para Igualdade (2018), Mestre em Educação (2019), Doutorando em Educação. Secretário Geral do PT de Poços de Caldas.

Email: tiago.fidel@yahoo.com.br 

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