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domingo, 26 de maio de 2024

"Pedagoga e o compromisso de conduzir a educação"

 

     Por Ana Paula Ferreira

"Vou colocar no feminino o nome da profissão, pois sabemos que essa tem a questão de gênero bem demarcada: é feita principalmente por mulheres! Pedagoga é a profissional que investiga, elabora, realiza práticas educativas que podem ocorrer em diversos espaços e não apenas o escolar. Isso porque enquanto seres humanos, somos animais políticos, sociais, construtores de cultura, de linguagem. Além da nossa capacidade de criar casas, poesias, tecnologias e várias outras coisas, podemos também ensinar e é dessa maravilha de partilhar saberes que a pedagoga se ocupa, possibilitando que as novas gerações se apropriem e recriem do que foi construído pelas gerações que as precederam.

Não é sem razão que a origem da palavra é paidós (criança) e agogé (condução), para se referir às pessoas que acompanhavam os mais novos até a escola. Essa cena da condução é muito simbólica, pois é possível imaginar lá na Grécia Antiga, palco da etimologia da palavra, a figura de um adulto guiando, orientando a criança para ela chegar a seu destino, que é justamente o espaço privilegiado do saber, do conhecimento. Significa dar autonomia, de estar perto no seu período de desenvolvimento, mas sem sufocar; de ajudar nas trilhas do saber, mas sem infantilizar; de democratizar o que foi produzido pela humanidade.

Nessa relação já existente entre o ensinar e o aprender, o desenvolvimento da criança e o contexto a que pertence; a pedagoga alia conhecimentos da psicologia com a sociologia; de visão de indivíduo, sem abrir mão de visão de mundo, entendendo que as coisas funcionam na mão de via dupla, na partilha, na troca seja entre pessoas, seja entre áreas. E por isso, que mesmo diante de uma sociedade ocidental que fez tanto apelo a um pensamento binário, que tanto valorizou um ponto em detrimento a outro, a Pedagogia traz em sua formação as condições de combinações, como se misturasse bem um ingrediente com o outro. Não joga tempero apenas às ciências, pois compreende o papel de sensibilização da arte, nem tampouco enaltece ciências da natureza, porque sabe que de pouco adianta desenvolvimento tecnológico sem desenvolvimento humano.

Durante esse percurso ao conhecimento pedagoga equilibra pratos sem os deixar cair, como se fosse uma malabarista. Traz a tradição do currículo, mas se coloca à disposição para as novidades trazidas pelos estudantes; cuida e educa; junta afeto com razão; alia o conhecimento erudito com o popular; ensina a leitura da palavra, levando em conta a leitura de mundo; faz tecitura do saber global com o local; atua num presente, com crianças, jovens, adultos, mas sem perder o foco de um plano de futuro. 

Lógico que para isso acontecer, o trabalho não é de apagar fogo. Discursos que romantizam tempo dispendido apenas em separar brigas, acudir aluno que passou mal ou família que precisou ser atendida de última hora, estão negando a fundamentação da práxis pedagógica entre o pensar e o fazer, o planejar e o realizar. E justamente pelo fato disso exigir estudo, reflexão, que pesquisadores como Libâneo defendem que a Pedagogia deva ser compreendida como “ciência da educação”, pois não basta lecionar, é necessário investigar as razões da dificuldade de aprendizagem; não basta acatar o que o diz o Conselho de classe, mas questionar os métodos de avaliação e didática que se mostram excludentes. Tampouco não adianta ter leveza no cotidiano escolar, quando não se questiona as amarras de opressão feitas na escola ou contra a escola. Como defende o professor Celso Vasconcelos... é preciso sim da alegria, mas de uma alegria crítica.

            Se por um lado não cabe a romantização, pois dociliza as microviolências sob roupagem de felicidade, no planejamento pedagógico é necessário o processo de desnaturalização, e daí a importância de acompanhar e reivindicar políticas públicas eficientes. Assim sendo, questionar as vagas insuficientes na Educação Infantil, a normalização de 45 alunos na sala de aula, a ausência de transporte escolar que acaba incidindo na evasão ou a falta do pagamento do piso salarial que implica que os professores trabalhem com mais turmas e, portanto, tenham menos tempo de se dedicar a apenas uma comunidade escolar.

À medida que o espaço se amplia, da sala de aula, para a gestão de uma escola ou para o trabalho em uma secretaria de educação, o trabalho de equilíbrio continua o mesmo, porém muda a quantidade de fatores que precisam ser observados a uma só vez. Orquestrar não é tarefa fácil. É mais cômodo deixar a banda tocar. Por outro lado, sem a mediação a banda vai desafinando, porque a harmonia entre os instrumentos de corda, de madeira, de metal ou de percussão precisam de uma condução, da mesma forma que na relação entre estudantes, professores, direção, funcionários administrativos, famílias, há a necessidade de uma liderança para não se perder o foco no aprendizado. A questão é: a pedagogia ao conduzir para o acesso a pensamento científico, artístico ou linguístico será apenas para um grupo privilegiado ou para todos?!

Na resposta estão a ideologia e o caminho que tomaremos."

Ana Paula Ferreira  

Militante do Coletivo Feminista Mulheres Pela Democracia, Além de mestre em Educação.

Pedagoga egressa da UEMG,

(universidade em greve diante dos cortes do governo Zema).


          


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