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sexta-feira, 5 de julho de 2024

Ciência brasileira: "brasileiro desenvolve estratégia inédita contra câncer; testes vão começar"

Matheus Dias desenvolveu uma nova estratégia para estressar as células tumorais com um medicamento e eliminá-las com outro. [Imagem: NKI]

Informações Fapesp

Um levanta, outro chuta

"Uma combinação de dois medicamentos suprimiu tumores de uma forma não convencional: em vez de inibir a divisão das células tumorais, como fazem os medicamentos mais conhecidos, um dos dois medicamentos superativou a sinalização dessas células a ponto de elas ficarem estressadas; a outra droga, então, atacou justamente as células que estavam sob estresse.

Com os bons resultados em laboratório, a abordagem deverá começar a ser testada em pacientes com tumores de intestino ainda este ano - o teste será feito no Instituto do Câncer dos Países Baixos (NKI), onde atualmente trabalha o brasileiro Matheus Henrique Dias, principal autor da descoberta.

A ideia começou a ser desenvolvida no Instituto Butantan, em São Paulo, prosseguiu na Universidade de Liverpool, no Reino Unido, e agora chega à etapa final de teste em pacientes.

"Descobrimos naquela ocasião que o chamado fator de crescimento de fibroblastos 2 [FGF2], um gene que deveria estimular a proliferação das células, fazia o contrário quando as células eram tumorais: inibia a multiplicação. Era uma observação curiosa, porque era o oposto do que deveria acontecer," relembra Matheus.

O conceito foi aprimorado ao longo dos anos seguintes, e agora a equipe demonstrou que as células de câncer passam a proliferar menos não porque elas são inibidas diretamente por uma droga, como ocorre com os tratamentos mais usados na quimioterapia: pelo contrário, uma das drogas usadas nessa estratégia ativa fortemente a sinalização das células tumorais, a ponto de elas ficarem estressadas e, portanto, sensíveis a outras drogas específicas para células nesse estado. O outro medicamento então faz meramente o seu trabalho.

Brasileiro desenvolve estratégia inédita contra câncer; testes vão começar
Ilustração do artigo científico relatando a descoberta.
[Imagem: Matheus Henrique Dias et al. - 10.1158/2159-8290.CD-23-0216]

"Quando superativadas, as células tumorais replicam o DNA ainda mais rápido do que o normal. Como não estão preparadas para lidar com essa velocidade de replicação, acabam gerando danos no DNA, o chamado estresse replicativo", explicou o professor Marcelo da Silva, membro da equipe.

Outras doenças

Por conta do sucesso nos modelos de câncer colorretal, os pesquisadores testaram a combinação em linhagens de adenocarcinoma de pâncreas e colangiocarcinoma (dos tubos que levam a bile pelo fígado), formas mais raras e agressivas de câncer e sem muitas opções de tratamento. Os resultados também foram promissores.

A equipe agora pretende aplicar o mesmo princípio do novo tratamento de câncer para eliminar parasitas causadores de doenças negligenciadas. Isso porque os protozoários causadores da doença de Chagas e da leishmaniose, por exemplo, têm um comportamento similar ao das células de câncer, replicando-se muito rápido dentro da célula hospedeira.

"A ideia é usar uma droga que estimule ainda mais a via de sinalização da proliferação desses parasitas, a ponto de gerar o mesmo tipo de danos no DNA e, então, damos outra droga para inibir o reparo do DNA, eliminando os parasitas sem prejudicar a célula hospedeira", contou Matheus."

Fonte: Diário da Saúde

Checagem com artigo científico:

Artigo: Paradoxical Activation of Oncogenic Signaling as a Cancer Treatment Strategy
Autores: Matheus Henrique Dias, Anoek Friskes, Siying Wang, Joao M. Fernandes Neto, Frank van Gemert, Soufiane Mourragui, Chrysa Papagianni, Hendrik J. Kuiken, Sara Mainardi, Daniel Alvarez-Villanueva, Cor Lieftink, Ben Morris, Anna Dekker, Emma van Dijk, Lieke H.S. Wilms, Marcelo S. da Silva, Robin A. Jansen, Antonio Mulero-Sánchez, Elke Malzer, August Vidal, Cristina Santos, Ramón Salazar, Rosangela A.M. Wailemann, Thompson E.P. Torres, Giulia De Conti, Jonne A. Raaijmakers, Petur Snaebjornsson, Shengxian Yuan, Wenxin Qin, John S. Kovach, Hugo A. Armelin, Hein te Riele, Alexander van Oudenaarden, Haojie Jin, Roderick L. Beijersbergen, Alberto Villanueva, Rene H. Medema, Rene Bernards
Publicação: Cancer Discovery
DOI: 10.1158/2159-8290.CD-23-0216                                                                                                                             

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