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domingo, 7 de janeiro de 2018

Você começaria uma carreira depois dos 50?



Tamires Vitorio - Exame.com

"Armando D’Andrea, trabalhou até os 100 anos de idade. Ao longo da vida, passou por grandes mudanças de carreira. Começou como alfaiate, virou vendedor, executivo, pintor e, aos 99 anos, escreveu sua biografia. A história vida inspirou seu neto, o pesquisador e consultor empresarial Rafael D’Andrea, a realizar uma tese de mestrado sobre a transição radical de carreira feita por homens com mais de 50 anos que não precisariam mais trabalhar por questões financeiras, pelo INSEAD em Singapura e França.

Para a pesquisa, Rafael conversou com ex-executivos bem-sucedidos de seis nacionalidades, que trocaram de ocupação depois da quinta década de vida. Nas entrevistas que conduziu, o pesquisador analisou a trajetória, o significado do emprego e os eventos críticos relacionados à carreira. Em entrevista exclusiva à VOCÊ S/A, ele conta o que descobriu.

 O que motiva essas pessoas, que teriam condições financeiras parar, a não só continuar trabalhando como ainda começar do zero?

Todos os indivíduos que passam pelo o que eu chamo de “carreira bônus”, que vem depois da tradicional e não é economicamente necessária, tinham alguns pontos em comum. Um deles é que a decisão de envelhecer sendo produtivo já havia sido tomada.


Para eles, a identidade pessoal está vinculada à identidade profissional. Há outras razões que levam as pessoas a fazer a transição, mas as principais são a autopercepção de conseguir desempenhar bem uma nova função, o desejo de exercer uma vocação antiga e a recusa de seguir os mesmos caminhos dos pais aposentados. Existem, na verdade, duas forças: uma é o desejo de se mostrar útil e progredindo; outra, é a aversão a ser visto como desocupado e obsoleto. Os profissionais que chegaram ao topo da carreira sempre foram vistos como alguém de visão — e esse status é importante para eles, mais até que dinheiro.
Que tipo de trabalho é procurado nessa mudança tardia?
Normalmente, é o momento em que esses homens tentam desenvolver seus sonhos de criança, mesmo sem perceber. É o caso de um dos meus entrevistados, que virou professor. Eles buscam uma carreira na qual as habilidades que desenvolveram como executivos poderão ser usadas de outra forma.

Outro de meus entrevistados, o dono de uma rede de lojas de moda no Brasil, vendeu as empresas e se tornou decorador. As habilidades que ele precisava para trabalhar com moda e como decorador eram, em sua essência, as mesmas: o olhar estético e a capacidade de combinação e criação de padrões. É importante entender que eles buscam mais do que realização profissional.

O que mais eles desejam?
Uma imersão, novidade e novos círculos de relacionamentos. Essa transição tardia também está ligada ao conceito de morte. Começar algo novo dá a impressão de rejuvenescimento. Os homens ainda procuram aceitação social e sucesso.

O que é necessário para ter essa carreira tardia?
Resiliência, condições físicas e emocionais e autoconhecimento. A pessoa precisa saber no que é bom. Isso se chama autoeficácia e é desenvolvido no começo da trajetória. Quem entra no mercado agora sabe que não irá se aposentar antes dos 75 anos.


Vivemos mais tempo e com mais saúde, o que abriu uma janela de oportunidade para as pessoas entre 50 e 70 anos: são duas décadas de um período de vida que ainda podem ser produtivas.

O resultado seria igual se o estudo tivesse sido feito com mulheres?
Provavelmente diferente. Porque mulheres e homens tomam decisões de carreira de maneira distinta. As mulheres, por exemplo, não depositam tanto do que elas são e de sua identidade pessoal no trabalho. No final da vida, tradicionalmente, o papel da mulher na família também aumenta.

É ela quem cuida dos filhos e dos pais. Elas enxergam muito mais valor nisso do que os homens. Mas houve uma outra razão, infeliz, para não incluir as mulheres no primeiro estudo: tive dificuldades em encontrar amostra, porque esse público, lamentavelmente, ainda é pequeno."


Fonte: Exame.com

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