Tamires
Vitorio - Exame.com
"Armando D’Andrea,
trabalhou até os 100 anos de idade. Ao longo da vida, passou por
grandes mudanças de carreira. Começou como alfaiate, virou
vendedor, executivo, pintor e, aos 99 anos, escreveu sua biografia. A
história vida inspirou seu neto, o pesquisador e consultor
empresarial Rafael D’Andrea, a realizar uma tese de mestrado sobre
a transição radical de carreira feita por homens com mais de 50
anos que não precisariam mais trabalhar por questões financeiras,
pelo INSEAD em Singapura e França.
Para a pesquisa, Rafael
conversou com ex-executivos bem-sucedidos de seis nacionalidades, que
trocaram de ocupação depois da quinta década de vida. Nas
entrevistas que conduziu, o pesquisador analisou a trajetória, o
significado do emprego e os eventos críticos relacionados à
carreira. Em entrevista exclusiva à VOCÊ S/A, ele conta o que
descobriu.
O que motiva essas
pessoas, que teriam condições financeiras parar, a não só
continuar trabalhando como ainda começar do zero?
Todos os indivíduos
que passam pelo o que eu chamo de “carreira bônus”, que vem
depois da tradicional e não é economicamente necessária, tinham
alguns pontos em comum. Um deles é que a decisão de envelhecer
sendo produtivo já havia sido tomada.
Para eles, a identidade
pessoal está vinculada à identidade profissional. Há outras razões
que levam as pessoas a fazer a transição, mas as principais são a
autopercepção de conseguir desempenhar bem uma nova função, o
desejo de exercer uma vocação antiga e a recusa de seguir os mesmos
caminhos dos pais aposentados. Existem, na verdade, duas forças: uma
é o desejo de se mostrar útil e progredindo; outra, é a aversão a
ser visto como desocupado e obsoleto. Os profissionais que chegaram
ao topo da carreira sempre foram vistos como alguém de visão — e
esse status é importante para eles, mais até que dinheiro.
Que tipo de trabalho
é procurado nessa mudança tardia?
Normalmente, é o
momento em que esses homens tentam desenvolver seus sonhos de
criança, mesmo sem perceber. É o caso de um dos meus entrevistados,
que virou professor. Eles buscam uma carreira na qual as habilidades
que desenvolveram como executivos poderão ser usadas de outra forma.
Outro de meus
entrevistados, o dono de uma rede de lojas de moda no Brasil, vendeu
as empresas e se tornou decorador. As habilidades que ele precisava
para trabalhar com moda e como decorador eram, em sua essência, as
mesmas: o olhar estético e a capacidade de combinação e criação
de padrões. É importante entender que eles buscam mais do que
realização profissional.
O que mais eles
desejam?
Uma imersão, novidade
e novos círculos de relacionamentos. Essa transição tardia também
está ligada ao conceito de morte. Começar algo novo dá a impressão
de rejuvenescimento. Os homens ainda procuram aceitação social e
sucesso.
O que é necessário
para ter essa carreira tardia?
Resiliência, condições
físicas e emocionais e autoconhecimento. A pessoa precisa saber no
que é bom. Isso se chama autoeficácia e é desenvolvido no começo
da trajetória. Quem entra no mercado agora sabe que não irá se
aposentar antes dos 75 anos.
Vivemos mais tempo e
com mais saúde, o que abriu uma janela de oportunidade para as
pessoas entre 50 e 70 anos: são duas décadas de um período de vida
que ainda podem ser produtivas.
O resultado seria igual
se o estudo tivesse sido feito com mulheres?
Provavelmente
diferente. Porque mulheres e homens tomam decisões de carreira de
maneira distinta. As mulheres, por exemplo, não depositam tanto do
que elas são e de sua identidade pessoal no trabalho. No final da
vida, tradicionalmente, o papel da mulher na família também
aumenta.
É ela quem cuida dos
filhos e dos pais. Elas enxergam muito mais valor nisso do que os
homens. Mas houve uma outra razão, infeliz, para não incluir as
mulheres no primeiro estudo: tive dificuldades em encontrar amostra,
porque esse público, lamentavelmente, ainda é pequeno."
Fonte: Exame.com
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