“Governo
apresentou projeto da reforma trabalhista. Proposta estabelece 12
pontos que poderão ser negociados entre patrões e empregados e, em
caso de acordo, passarão a ter força de lei.”
Por
Alexandro Martello e Luciana Amaral, G1, Brasília
“O
governo anunciou nesta quinta-feira (22) uma proposta de reforma da
legislação trabalhista que estabelece 12 pontos que poderão ser
negociados entre patrões e empregados e, em caso de acordo, passarão
a ter força de lei (veja
a lista de todos os pontos mais abaixo).
Um
dos pontos pelos quais o “negociado” prevalece sobre o
“legislado”, de acordo com a proposta, é o que autoriza a
formalização de uma jornada de trabalho de até 220 horas por mês
(nos casos de meses com cinco semanas).
A
proposta do governo estabelece que, em caso de acordo entre a empresa
e os trabalhadores, a jornada em um único dia pode chegar até a 12
horas (oito horas normais mais quatro horas extras), desde que
respeitado o limite de 48 horas na semana (44 horas da jornada padrão
mais quatro horas extras).
Por
exemplo: se um trabalhador fizer duas horas extras na segunda-feira e
duas na terça, não poderá fazer horas extras entre quarta e
sábado. Noutra hipótese: se fizer as quatro horas extras na
segunda-feira (numa jornada de 12 horas, portanto), não poderá
fazer mais nenhuma hora extra no restante da semana.
Essa
possibilidade de flexibilizar a jornada, porém, dependerá, segundo
a proposta, de acordo resultante de um processo de negociação entre
empregados e empregador. Para o governo, isso proporcionará mais
segurança jurídica para empresas e trabalhadores.
Segundo
o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, o limite de até 12 horas
em um único dia já é previsto na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) para algumas categorias, como profissionais de
segurança pública e da área de saúde.
"A
jornada padrão, sem acordo coletivo, é de 8 horas diárias e 44
semanais. Com acordo coletivo, poderá se estender a 12 horas e
folgar 36 horas [como em casos de profissionais de segurança e da
saúde]. Estamos regulamentando aquilo que já é previsto na CLT",
disse Nogueira.
O
texto será encaminhado pelo governo ao Congresso por meio de projeto
de lei, com pedido de urgência para a tramitação.
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mercado de trabalho
Os
pontos da reforma
Veja
pontos da proposta de reforma trabalhista apresentada pelo governo:
Negociado
prevalece sobre o legislado
O
projeto prevê que aquilo que for negociado pelos trabalhadores com
as empresas, prevaleça sobre o legislado. Com isso, acordos fechados
pelas categorias terão peso legal.
"Algo
que deve ser buscado com afinco é justamente a negociação
coletiva. Isso evita a judicialização desnecessária e temerária e
dá segurança jurídica ao trabalhador e ao empregador. Nossa
proposta prevê que a negociação coletiva terá força de lei.
Assim, como ressalva que normas de segurança do trabalho não
poderão ser objeto de acordo", afirmou o ministro Ronaldo
Nogueira.
O
ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, relacionou os pontos que
poderão ser negociados em convenção coletiva e, se acordados,
passarão a ter força de lei. São os seguintes:
Parcelamento
das férias em até três vezes, com pelo menos duas semanas
consecutivas de trabalho entre uma dessas parcelas.
Pactuação
do limite de 220 horas na jornada mensal.
O
direito, se acordado, à participação nos lucros e resultados da
empresa.
A
formação de um banco de horas, sendo garantida a conversão da
hora que exceder a jornada normal com um acréscimo mínimo de 50%.
O
tempo gasto no percurso para se chegar ao local de trabalho e no
retorno para casa.
O
estabelecimento de um intervalo durante a jornada de trabalho com no
mínimo de 30 minutos.
Estabelecimento
de um plano de cargos e salários.
Trabalho
remoto.
Remuneração
por produtividade.
Dispor
sobre a extensão dos efeitos de uma norma mesmo após o seu prazo
de validade.
Ingresso
no programa de seguro-emprego.
Registro
da jornada de trabalho.
Jornada
de trabalho
A
proposta do governo mantém a jornada padrão de trabalho de 44 horas
semanais com mais quatro horas extras, podendo chegar a até 48 horas
por semana.
Pelo
projeto, a jornada em um dia poderá ser de até 12 horas (oito mais
quatro horas extras) desde que seja respeitado o limite de 48 horas
na semana.
Trabalho
temporário
Estão
previstas alterações no trabalho temporário, com aumento do prazo
de contratação de 90 dias prorrogáveis por mais 90 dias para um
período maior: 120 dias com possibilidade de prorrogação por mais
120 dias.
Segundo
o governo, é garantido ao trabalhador temporário uma remuneração
equivalente à dos empregados de mesma categoria da empresa tomadora
ou cliente, calculados à base horária.
Além
disso, são assegurados ao trabalhador temporário os mesmos direitos
previstos na CLT relativos aos contratados por prazo determinado
(FGTS, adicionais, horas-extras etc).
As
empresas de trabalho temporário são obrigadas a fornecer
comprovante da regularidade de sua situação com o INSS,
recolhimentos de FGTS e Negativa de Débitos junto a Receita Federal,
sob pena de retenção dos valores devidos no contrato com a empresa
de mão de obra temporária. O trabalho temporário não se aplica
aos empregados domésticos.
Regime
parcial
Para
o regime parcial de trabalho, também estão sendo propostas
mudanças, com ampliação da do prazo de até 25 horas semanais para
até 26 horas semanais, com 6 horas extras, ou 30 horas semanais sem
horas extras.
"As
horas extras devem ser compensadas [no regime parcial] até a semana
seguinte, se não forem compensadas, devem ser pagas na folha de
pagamento subsequente. Conversão em dinheiro de 1/3 das férias, não
mais limitadas a 18 dias", acrescentou o ministro do Trabalho,
Ronaldo Nogueira, estimando que essas mudanças podem gerar cerca de
5 milhões de empregos na economia.
Segundo
o governo, as horas suplementares à jornada de trabalho semanal
normal serão pagas com o acréscimo de 50% (cinquenta por cento)
sobre o salário-hora normal e poderão ser ser compensadas
diretamente até a semana imediatamente posterior à da sua execução,
devendo ser feita a sua quitação na folha de pagamento do mês
subsequente, caso não compensadas.
Pela
proposta, é facultado ao empregado contratado sob regime de tempo
parcial converter 1/3 (um terço) do período de férias a que tiver
direito em abono pecuniário. Ele poderá tirar 30 dias de férias,
independente do número de horas trabalhadas (férias do regime de
trabalho a tempo parcial serão regidas pelo art. 130 da CLT).
Inspeção
do trabalho e trabalho informal
O
governo também anunciou medidas para combater a informalidade no
mercado de trabalho e a precarização das relações trabalhistas.
Pela
proposta, o empregador que mantiver empregado não registrado ficará
sujeito a multa no valor de R$ 6 mil por empregado não registrado,
acrescido de igual valor em cada reincidência.
O
valor final da multa aplicada, por sua vez, será de R$ 1 mil por
empregado não registrado, quando se tratar de microempresa ou
empresa de pequeno porte.
Proteção
ao emprego
Será
prorrogado o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), criado em julho
de 2015, pelo qual o trabalhador tem a jornada e o salário
reduzidos, mas com manutenção do seu emprego.
Para
isso, será encaminhada uma medida provisória ao Congresso Nacional.
Sem a medida, o PPE terminaria no fim deste ano.
O
programa, porém, foi rebatizado e passará a ser chamdo Programa
Seguro-Emprego (PSE), mas manterá a regra de que o trabalhador
poderá ter a jornada e o salário reduzidos em até 30%. Nesse caso,
o governo paga um complemento, que corresponde à metade da perda
salarial do empregado, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT).
A
participação do governo como compensação pecuniária equivale a
50% do valor da redução salarial, limitada a 65% do valor máximo
da parcela do seguro-desemprego, enquanto perdurar o período de
redução temporária da jornada de trabalho, informou o Ministério
do Trabalho.
Pelas
regras, a redução da jornada de trabalho, que deve ter duração de
até seis meses, poderá ser prorrogada por períodos de seis meses -
desde que o período total não ultrapasse vinte e quatro meses.
Os
últimos dados do governo mostram que, até o início de novembro,
foram registrados 188 pedidos de adesão encaminhados ao comitê do
Programa de Proteção ao Emprego. Destes, 154 foram deferidos e 34
ainda estavam em processo de análise, com a manutenção do emprego
de 63.345 trabalhadores e pagamentos de R$ 170 milhões em recursos
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Repercussão
Na
cerimônia de anúncio das medidas, no Palácio do Planalto, o
presidente Michel Temer afirmou que a proposta de reforma
trabalhista, negociada com os sindicatos, é um "belíssimo
presente de Natal".
"O
Natal é um momento da fraternidade, da solidariedadde, da irmanação,
em que pessoas deixam de lado suas disputas e se unem e se reunem
familiarmente ou socielamente pela fraternidade", disse o
presidente Michel Temer, destacando o diálogo com os sindicatos,
representantes dos trabalhadores.
Para
o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp),
Paulo Skaf, a iniciativa de encaminhar um projeto de lei com urgência
ao Congresso Nacional para reformar as relações de trabalho é
importante, pois as regras atuais datam de 1950.
Ele
também elogiou a prorrogação do programa de proteção ao emprego,
que, em sua visão, ajudará a preservar empregos neste momento de
baixo nível de atividade. “O momento é oportuno”, afirmou Skaf.
Para
o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o
Juruna, a proposta de reforma trabalhista "significa valorizar a
negociação entre trabalhador, sindicato e empresa". Segundo
ele, isso diminuirá o número de processos na Justiça trabalhista.
O
presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto,
afirmou que não houve apreensão com o anúncio da reforma porque,
segundo ele, as medidas foram discutidas de antemão com os
sindicatos.
“A
reforma remodela o PPE, diminuindo a possibilidade de fraude,
aumentando o controle. Vamos negociar banco de horas, redução de
jornada para o almoço, férias. E haverá fortalecimento do
Ministério do Trabalho no combate à precarização, além do
aumento do valor das multas, penalizando aqueles que precarizam as
relações trabalhistas”, afirmou ele.
Em
nota, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), afirmou que o
partido dá apoio “entusiasmado” às medidas anunciadas pelo
Palácio do Planalto que, na visão de Jucá, “modernizam as
relações de trabalho” e “facilitam o emprego”.
“O
PMDB reitera que estará mobilizado para que se possa aprovar
rapidamente as proposições anunciadas, que representam na prática
uma melhora na qualidade da população brasileira”, diz trecho do
documento.”
Fonte: G1.com.br