Você sabe o que é Síndrome do Esgotamento Profissional?
Jornal da Unicamp
Fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, falta de ar, oscilações de
humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, problemas digestivos e
depressão.
Estes são alguns dos sintomas de uma
doença invisível chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional (SEP) ou
Síndrome de Burnout - do inglês burn out, que significa queimar-se
por completo.
Na década de 1970, os problemas de
saúde do trabalhador mais relevantes eram as doenças fisiológicas, tais como
silicose que ainda persiste ou a intoxicação por chumbo.
Na de 1980 eram as lesões por esforços
repetitivos (LER) e doenças osseomusculares relacionadas ao trabalho (DORT).
De 1990 em diante, contudo, os casos de
transtornos mentais relacionados ao trabalho e as doenças como depressão e
Síndrome do Esgotamento Profissional não pararam de crescer.
Síndrome do Esgotamento Profissional
A característica mais marcante da
Síndrome do Esgotamento Profissional é a dedicação exagerada à atividade
profissional, marcando o que se convencionou chamar de workaholic,
uma pessoa viciada em trabalho.
Mas não é a única.
O desejo de ser o melhor e sempre demonstrar
alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: a pessoa passar a
avaliar e sustentar sua autoestima na capacidade de realização e sucesso
profissionais.
O que tem início como uma vocação,
envolvendo satisfação e prazer no trabalho, acaba quando o trabalhador não
obtém o reconhecimento de que se acha merecedor.
Nesse estágio, necessidade de se
afirmar e desejo de realização profissional se transformam em obstinação e
compulsão, tornando a pessoa incapaz de levantar os olhos e ver a situação de
um ponto de vista mais amplo.
Estágios da síndrome de Burnout
Segundo os especialistas, a Síndrome do
Esgotamento Profissional possui doze "degraus", que a pessoa
geralmente percorre sem se dar conta do caminho que está seguindo:
- Necessidade
de se afirmar;
- dedicação
intensificada - com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho;
- descaso
com as necessidades pessoais - comer, dormir e sair com os amigos começam
a perder o sentido;
- recalque
dos conflitos - a pessoa percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o
problema. É quando ocorrem as primeiras manifestações físicas;
- reinterpretação
dos valores - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor
sofre desvalorização: lazer, casa e amigos. A única medida da auto-estima
é o trabalho;
- negação
de problemas - nessa fase, os outros são completamente desvalorizados e
tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, sendo cinismo e
agressão os sinais mais evidentes;
- recolhimento;
- mudanças
evidentes de comportamento;
- despersonalização;
- vazio
interior;
- depressão
- marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
- e,
finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que
corresponde ao colapso físico e mental.
O último degrau é considerado de emergência,
e a única saída à qual essa escada leva é o consultório médico, para os
remendos de urgência, e o psicólogo, para uma auto-reconstrução de longo prazo.
Sanidade mental dos trabalhadores
De acordo com Sérgio Roberto de Lucca,
da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, os casos de DORT e transtornos
mentais associadas à Síndrome do Esgotamento Profissional são uma tendência
demonstrada pelas estatísticas da Previdência Social e pelos pacientes
atendidos no ambulatório de medicina do trabalho do Hospital de Clínicas (HC)
da Unicamp.
Dos 858 casos de DORT atendidos no
ambulatório nos últimos anos, 280 destes casos apresentam como comorbidade
algum tipo de transtorno mental.
“O novo desafio da medicina do trabalho
é a de preservar a sanidade mental dos trabalhadores”. Passamos do risco
tecnológico, possível de controlar, para o risco invisível, difícil de
controlar.
"Na história clínica há relatos de
assédio moral e alguns pacientes apresentam sintomas que podem caracterizar-se
como Síndrome de Burnout. O medo de perder emprego e os fatores da organização
do trabalho são: invisíveis e muito mais complexos de lidar. Este problema é
mundial", disse de Lucca.
Precarização do trabalho
Segundo o pesquisador, esse problema
foi agravado com o advento das novas tecnologias e da globalização, que
impuseram uma reestruturação produtiva.
A precarização do trabalho se dá por
meio da terceirização, flexibilização das atividades e instabilidade dos postos
de trabalho.
"As exigências das empresas são
tamanhas que o indivíduo precisa de uma qualificação cada vez mais exigente. A
maioria dos trabalhadores, hoje, não tem essa qualificação. Eles ficarão na
periferia do sistema, em subempregos ou desempregados", disse.
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