Nesta legislação, o Estado, com a participação da sociedade civil, tem o
dever de avaliar e controlar o seu uso, por meio de mecanismos interssetoriais
de órgãos da saúde, agricultura e meio ambiente. No caso da saúde, cabe à
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a execução destas
atividades.
As legislações recentemente publicadas e os correspondentes projetos de lei
em tramitação, ao flexibilizarem a função regulatória do estado, tendem a
desproteger a população dos efeitos nocivos inerentes aos agrotóxicos,
principalmente, e de maneira mais grave, àqueles segmentos sociais de maior
vulnerabilidade: trabalhadores e moradores de áreas rurais, trabalhadores das
campanhas de saúde pública e de empresas de desinsetização, populações
indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
- Perigo dos agrotóxicos fica maior com ação de ruralistas no Congresso
A literatura científica internacional é inequívoca quanto aos riscos, perigos
e danos provocados à saúde pelas exposições agudas e crônicas aos agrotóxicos,
particularmente entre os trabalhadores e comunidades rurais que estão
sistematicamente expostos a estes produtos, inclusive por meio de pulverizações
aéreas de eficácia duvidosa.
Na questão específica do tema agrotóxicos, em perspectiva interdisciplinar, a Fiocruz
historicamente oferta cursos e desenvolve pesquisas voltadas para o
aprimoramento da gestão pública; realiza diagnóstico de agravos de interesse da
saúde pública; implementa programas inovadores de vigilância; desenvolve e a
aplica metodologias de monitoramento e avaliação toxicológica, epidemiológica e
social; e realiza a investigação de indicadores preditivos de danos e a
comunicação científica.
O Sistema Nacional de Informação Toxico-Farmacológica (Sinitox) que
disponibiliza desde 1985 informações sobre os agravos relacionados aos
agrotóxicos com base nas notificações coletadas junto aos centros de informação
e assistência toxicológica distribuídos no país.
A Fiocruz participou diretamente das atividades de reavaliação e decisão
sobre os agrotóxicos que provocam efeitos agudos e crônicos sobre a saúde humana
conforme dados experimentais, clínicos e epidemiológicos obtidos em
trabalhadores e em consumidores, onde são suspeitos de possuir efeitos
carcinogênicos, teratogênicos, mutagênicos, neurotóxicos e de desregulação
endócrina.
Desregulação sobre agrotóxicos
Este processo em curso de desregulação sobre os agrotóxicos que atinge
especialmente o setor saúde e ambiental no Brasil, está associado aos constantes
ataques diretos do segmento do agronegócio às instituições e seus pesquisadores
que atuam em cumprimento as suas atribuições de proteção à saúde e ao meio
ambiente.
Frente a estes ataques a Fiocruz, o Instituto Nacional de Câncer e a
Associação Brasileira de Saúde Coletiva já responderam repudiando-os mediante
nota pública, reafirmando assim seu compromisso perante a sociedade de zelar
pela prevenção da saúde e proteção da população.
Em suas relações com a sociedade, de acordo com preceitos éticos e do SUS, a
Fiocruz participa de diversas iniciativas de esclarecimento e mobilização tais
como o "Dossiê da Abrasco - Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na
Saúde" assim como da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida", do
"Grito da Terra"; "Fóruns Nacional e Estaduais de Combate aos Impactos dos
Agrotóxicos" entre outros mecanismos e instrumentos que visam buscar
alternativas ao uso de agrotóxicos.
Ante o exposto, a Fundação Oswaldo Cruz contesta a Lei que permite o registro
temporário no País em casos de emergência fitossanitária ou zoossanitária sem
avaliação prévia dos setores reguladores da saúde e do meio ambiente (Lei n°
12.873 /13 e o Decreto n° 8.133/13), pugnando por sua revogação imediata.
A Fiocruz se coloca também contrária a outros Projetos de Lei que tenham o
mesmo sentido, como o PL 209/2013 do Senado que pretende retirar definitivamente
ou mesmo restringir a atuação das áreas de saúde e meio ambiente do processo de
autorização para registro de agrotóxicos no Brasil.
Em nota, a Fiocruz convoca a sociedade brasileira a tomar conhecimento sobre
essas inaceitáveis mudanças na lei dos agrotóxicos e suas repercussões para a
saúde e a vida.
Fonte: Fiocruz
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