quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O que acontece com o cérebro de quem toma chá de cogumelo?


Por Daiana Geremias 

Você provavelmente já ouviu alguma história bizarra envolvendo uma experiência com chá de cogumelo, certo? Conhecido por seu alto poder alucinógeno, o líquido “mágico” é realmente capaz de proporcionar experiências surreais, uma vez que faz uma bagunça em seu cérebro, e, se você ainda não sabe como é que o corpo humano reage à presença do chá de cogumelo, prepare-se para ficar impressionado.
O principal ativo do chá de cogumelo é uma substância chamada psilocibina, que, de acordo com o físico Paul Expert, da King’s College de Londres, é responsável por quebrar as redes de comunicação do cérebro e por conectar regiões cerebrais que normalmente não trabalham juntas.
O físico e sua equipe realizaram uma pesquisa detalhada sobre os efeitos do chá de cogumelo – os resultados foram publicados recentemente e divulgados pelo Live Science. A ideia dos pesquisadores é justamente interpretar todo tipo de ação das drogas psicoativas, até mesmo para que futuramente elas possam ser utilizadas em novos tratamentos para condições como a depressão.

Psilocibina

Essa substância é conhecida por provocar alucinações, fazendo com que as cores pareçam mais vibrantes do que o normal, e “derreter” barreiras entre objetos, fazendo com que itens distintos derretam e pareçam estar ligados entre si. Até aí, nada muito diferente do que você já ouviu, certo?
A novidade mesmo é que, ao contrário do que se pensa, essa droga tem efeitos em longo prazo. De acordo com os estudos de Expert, muitos usuários relataram experiências espirituais intensas durante o uso da droga. Além disso, algumas pessoas passam por alterações de personalidade depois de consumir o chá de cogumelo, geralmente passando a apreciar trabalhos de arte e dispostas a ter novas experiências artísticas e emocionais.
De acordo com físico, pessoas que tomaram chá de cogumelo chamaram a experiência de superintensa e, em alguns casos, chegaram a comparar a emoção do uso da droga com o nascimento de um filho.

Quimicamente falando

Já se sabe que a psilocibina faz ligação com a serotonina, um receptor cerebral diretamente relacionado a fatores de humor, sono e apetite. Como a droga transforma o trabalho da serotonina, no entanto, ainda não está claro. Um estudo anterior, realizado pela mesma equipe, revelou que a psilocibina diminui a atividade cerebral de modo geral e deixa o cérebro em estado mais onírico – como se a pessoa estivesse em algum sonho maluco.
Para avaliar a atividade cerebral dos usuários com mais critério, a equipe do físico, Expert monitorou duas vezes o cérebro de 15 voluntários saudáveis por meio de ressonância magnética: a primeira, depois de todos receberem um placebo e a segunda, depois de ingerirem a psilocibina. Todos os voluntários já haviam tomado chá de cogumelo e tido experiências boas – a equipe não quis realizar os testes com pessoas que relataram alucinações ruins, para evitar situações de pânico.
O monitoramento permitiu que a equipe acompanhasse as atividades cerebrais dos indivíduos tanto antes quanto depois de receberem a droga. A psilocibina altera drasticamente a organização cerebral dos usuários. Expert explicou que, com a droga, regiões cerebrais que normalmente não estão relacionadas passam a fazer conexões sincronizadas, o que sugere que a droga estimula novas conexões cerebrais.

Sinestesia

Entre os efeitos da droga, o mais provável é a sinestesia, que é a mistura de sentidos, fazendo com que uma pessoa sinta, de repente, o gosto de uma cor ou o cheiro de um som, por exemplo. É por isso que algumas pessoas conseguem ver cores novas quando ouvem alguma música.
A equipe de Expert estuda os efeitos da psilocibina para pesquisar novos tratamentos para a depressão, e a descoberta de que a substância causa mudanças na comunicação cerebral é um grande passo nesse sentido. Estudos mais antigos já revelaram que as pessoas tendem a ser mais felizes mesmo depois de usar a substância apenas uma vez. Ainda assim, é preciso ter muito mais conhecimento sobre a droga antes de pensar em recomendar seu uso.
FONTE(S) Live Science                                                            IMAGENS Pixabay Shutterstock


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