sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Soneca no expediente pode aumentar produtividade



Por Laurence Knight

Ter uma cama em seu escritório e dormir naturalmente, na frente de todo mundo, durante o horário de trabalho, requer cara de pau.

Na década de 1990, Bhim Suwastoyo era um repórter trabalhando para a Agência France Presse no escritório de Jacarta, na Indonésia, que ficou famoso entre seus colegas por dormir embaixo de um armário, atrás de sua mesa.

"Quando alguém do escritório de Hong Kong visitava, a primeira coisa que me pedia era 'me mostra sua cama'. Que reputação!", contou Suwastoyo à BBC.

O jornalista explicou que as sonecas do trabalho foram muito úteis em 1997, no auge da crise econômica da Ásia, quando a moeda da Indonésia, a rúpia, perdeu metade de seu valor e o governo Suharto desmoronou.

Suwastoyo estava trabalhando direto para cobrir esta crise. Os telefones celulares não eram tão populares na Indonésia naquela época, então ele cochilava perto do telefone do escritório quando tinha um momento mais sossegado.

Mas o jornalista descobriu que mesmo em um dia mais tranquilo uma soneca ajudava.

"Dá mais energia para o resto do dia. É como começar de novo, de manhã", disse.

E ele não é o único com essa visão. No sul da Europa, a soneca da tarde, a siesta, é uma instituição respeitada e a China tem algo parecido.

No Japão, cochilar em reuniões é, aparentemente, um sinal de status pois mostra como o funcionário trabalha duro.

Alguns chefes até estariam fingindo cochilos para espionar os funcionários mais indiscretos - e os funcionários fingem indiscrições para agradar os chefes.

Ritmos circadianos
O corpo humano opera de acordo com os ritmos circadianos, o ciclo diário de hormônios que governam o relógio biológico.

O principal culpado é a melatonina. Quando os níveis dela estão altos, você dorme. Mas quando você é exposto à luz do Sol, os níveis de melatonina caem e você acorda.

"O sono funciona como uma limpeza no cérebro, ajuda a limpar o lixo metabólico e as toxinas do cérebro", explicou Natalie Dautovich, especialista da Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos.

E é por isso que todos nós deveríamos dormir sempre entre sete e nove horas por noite.

"Quanto menos dormimos, mais impreciso fica o nosso julgamento sobre o efeito da falta de sono em nosso desempenho", afirmou Dautovich.

Em outras palavras: todos no escritório podem ver que estamos exaustos, mas nós não conseguimos perceber, pois estamos exaustos.

Celulares
Para piorar a situação existe a questão dos smartphones. Frequentemente perco uma ou duas horas, já tarde da noite, sentado na cama lendo posts no Twitter.

De acordo com Natalie Dautovich este é um péssimo hábito.

O problema é que as telas dos telefones emitem uma luz muito mais azul que sua lâmpada comum e essa luz pode diminuir os níveis de melatonina e te manter acordado.

Além disso, seu cérebro começa a associar o quarto ao telefone, e, por extensão, a seu escritório e sua vida social. E isto põem em cena outras respostas bioquímicas que não ajudam - como o hormônio do "estresse", o cortisol.

Então um pouco mais de disciplina poderia ajudar. Largue o telefone e vá dormir.

Estratégia
Existem algumas estratégias básicas para quem quer cochilar no trabalho.

A primeira é óbvia: certifique-se que você tem a permissão do chefe.
O cochilo pode ser depois do almoço, naquele momento em que a sonolência aumenta, entre 14h e 16h.

Encontre um lugar quieto e mais afastado. Evite lugares públicos como bancos de praça, por exemplo.

Também é bom limitar sua soneca a 20 minutos para evitar sonolência que pode ocorrer depois de um período de sono profundo. E tenha um prazo de dez minutos para se recuperar do cochilo.

Se você precisar de mais do que isso, reserve um período de 90 minutos.

Questão de vida ou morte
A BBC visitou um local de trabalho onde permanecer alerta pode ser uma questão de vida ou morte.

O Nats, o serviço nacional de controle de tráfego aéreo da Grã-Bretanha, tem um departamento inteiro dedicado à questão do sono dos funcionários.

E isso é compreensível se levarmos em conta que este escritório é responsável por um dos espaços aéreos mais movimentados do mundo, o de Londres.

"Uma coisa da qual nós somos muito, muito conscientes, é de que as chances de ocorrer um incidente com um controlador de voo são maiores quando ele está muito ocupado ou muito quieto", afirmou Neil May, que trabalha no Nats.

O serviço britânico afirma que consegue manter o equilíbrio entre tédio e excesso de trabalho controlando o número de aeronaves que cada funcionário guia.

Neil May recebeu a reportagem em uma das salas de controle, a de Swanwick, um local que foi criado para minimizar a distração dos funcionários.

O local tem luzes artificiais 24 horas por dia, sete dias por semana. E o único som é o burburinho suave de centenas de controladores em suas mesas, olhando em suas telas e falando com os pilotos em aeronaves espalhadas pelo sul da Inglaterra.

Os funcionários trabalham em duplas, não apenas para checar o trabalho um do outro mas também para estimular a interação social e manter suas mentes ativas.

E a cada duas horas eles precisam fazer um "intervalo de 30 minutos livres de responsabilidades", segundo May, que é um passeio até a cafeteria ou até uma soneca curta.

Dormitório
O Nats tem uma atitude mais proativa em relação ao sono dos controladores de voo. A sala de controle de Swanwick tem um dormitório onde os funcionários que estão no turno da noite são estimulados a tirar um cochilo de duas horas durante a madrugada.

"Queremos que eles estejam com o máximo de sua capacidade entre 5h e 6h, quando os voos estão chegando ao aeroporto de Heathrow", explicou May.

Para Natalie Dautovich, essa visão, assim como a de Bhim Suwastoyo, o jornalista da Indonésia, mostra os benefícios de uma soneca durante a tarde.

"Nós ainda estamos presos a esta noção de que o sono é um luxo (em vez de vê-lo como) um comportamento saudável e positivo com resultados benéficos para a produtividade (dos funcionários)", explicou.
Em outras palavras: a soneca no trabalho não deveria ser tratada como um problema de disciplina.”

BBC - Brasil 

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