sábado, 29 de agosto de 2020

“E agora, bancada fundamentalista?”

Pastor Everaldo sendo preso pela Polícia Federal


Por Lucas Rafael Chianello


Um Brasil que vimos durante muitos anos já não existe mais: majoritariamente católico, vemos os evangélicos/neo pentecostais cresceram ano a ano, de modo que o agrupamento político de evangélicos em partidos de direita levou à criação da expressão “bancada evangélica”. Portanto, não vamos tratar nesse artigo a crença, que é problema individual, mas os desdobramentos do crescimento da influência institucional evangélica na política brasileira.

Há o famoso ditador popular de que “deus ajuda a quem cedo madruga.” Baseada nisso, a chamada teologia da prosperidade defende que se tivermos visão empresarial de negócio e fé em Deus para superarmos obstáculos ao invés, por exemplo, de defender os direitos trabalhistas, consequentemente teremos sucesso/lucro, inclusive para contribuirmos com o dízimo/obra de Deus.

É como esse discurso que a institucionalidade política evangélica compõe o programa de extrema-direita da fraude eleitoral de Bolsonaro: torna-se um forte aliado do neoliberalismo extremo, pois basta a mão invisível do mercado regulamentar as relações sociais e assim passa a ser perda de tempo discutir questões políticas como escola pública de qualidade, valorização de professores, desmilitarização da polícia, etc, afinal, basta trabalhar, nem que for nas mais míseras condições, e ter fé em Deus.

Não à toa, para sinalizar à sua base eleitoral, Bolsonaro já disse que nomeará um ministro terrivelmente evangélico para a vaga de Celso de Mello no STF. Não haveria o golpe contra a presidenta Dilma e a prisão arbitrária de Lula sem a contribuição da institucionalidade política evangélica: Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, e Deltan Dallagnol, principal procurador da força tarefa da operação lava jato, sempre levaram aos cultos de seus ministérios religiosos a bandeira falso moralista da anticorrupção.

Porém, a ascensão institucional evangélica de extrema-direita levou dois duros golpes essa semana: enquanto veio à tona a informação de que Deltan Dallagnol teve seu julgamento adiado no Conselho Nacional do Ministério Público por escandalosas 41 vezes em função de ter denunciado o presidente Lula com base numa edição de powerpoint (sem provas da denúncia, portanto), os noticiários da manhã deste 28/08/2020 informavam que o STJ afastou o governador do RJ, Wilson Witzel, de suas funções por 180 dias, enquanto Pastor Everaldo foi preso. Pastor Everaldo foi personagem da desestabilização política do Brasil após a vitória de Dilma em 2014: durante o pleito eleitoral, fazia “tabelinhas” com Aécio Neves para falar da corrupção na Petrobras (que Deltan “provou” com “powerpoint”) e ao final de seus pronunciamentos, defendia o voto facultativo e a redução da maioridade penal, projeto legislativo com origem na bancada evangélica.

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Quem fere com espetáculo judicial policialesco, com espetáculo judicial policialesco será ferido. O que dirá, agora, a extrema-direita evangélica brasileira? Com qual moral, durante as eleições municipais desse ano, poderá atribuir a corrupção ao PT, à esquerda e aos movimentos sociais? Altares e púlpitos não são tribunas de casas legislativas e nem Jesus Cristo é cabo eleitoral. As 41 chincanas (adulterações) de Dallagnol e a prisão do Pastor Everaldo são a prova viva de que o falso moralismo evangélico de extrema-direita não sobrevive a um mero exame de fatos e de nossas próprias consciências.

O Brasil que queremos não virá do falso moralismo nazi liberal da teologia da prosperidade; virá de uma discussão cidadã profunda, serena e consciente sobre os temas políticos, sociais e econômicos que permeiam o cotidiano de nossa sociedade.



Lucas Rafael Chianello - Articulista do OGMÉ advogado fez Direito na PUC Minas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus Poços de Caldas e é também Jornalista por saber notório, registrado no Ministério do Trabalho – MTB 14.838

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