Produção do Quilombo Campo Grande, que abastece a região e outras cidades de MG |
Por Ana Paula Ferreira
“Pensamos que conseguiríamos chegar antes da polícia furar a barreira humana feita pelos integrantes do MST.
Não conseguimos.
Deixamos o carro bem pra trás da onde estavam os militantes porque barraram o acesso com uma árvore no meio da estrada.
Quando eu, Tiago, Diney e Juninho chegamos víamos ao longe o campo devastado pelo fogo.
O que foi construído por mais de 20 anos o Estado tentava deixar sob cinzas.
O carro da polícia estava próximo das casas dos trabalhadores rurais.
Na descida era possível ver o batalhão enfileirado e as diversas viaturas.
Alguns poucos companheiros estavam próximos, sentados no chão olhando a ação da polícia de longe, com ar de revolta.
Mas não havia campo apenas pra esse sentimento.
Nessa mesma hora acontecia a assembleia próxima a uma das casas que não foi invadida pela PM.
Ao redor do líder Tiãozinho dezenas de sem terra aplaudiam.
Ele ressaltava a força da resistência de terem ficado 3 dias em vigília sob sol quente, falava de uma luta de permanência de 20 anos, falava do quanto conseguiram repercussão nas redes sociais, desestabilizando o governo.
Sim. Há 4 companheiros presos.
Sim. Era de umedecer os olhos quando eu vi a mulher desalojada chorar pelos seus móveis que eram jogados como tralhas dentro do caminhão.
Mas não havia desistência nem apatia.
O discurso era de que o mundo tinha visto a atrocidade e, portanto, isso aumentaria o apoio na luta de classes.
Vi gente de BH, Passos, Alfenas, Varginha... muitos com o mesmo sentimento de empatia.
Acho que esse é um começo...
De mostrarmos o que a direita é capaz... sua defesa de lucro superando a vida; de discurso de propriedade privada quando essa propriedade é do rico, pois quando é de pobre esses bens são tacados sem cerimônia; de valorização de um discurso de que fazendeiro pode ter vários hectares improdutivos enquanto famílias são despejadas.
É hora de mostrar o quanto muitos policiais são tão cruéis ao ponto de gravarem live se vangloriando de queimarem, atacarem bombas e espantarem trabalhadores rurais.
Bombeiros que são funcionários públicos e não socorreram homens que passavam mal sob o efeito do gás.
Isso que a direita defende! E o MST está a frente pra combate e isso.
Quando me sinto próxima de pessoas que também lutam por justiça social e ficam indignadas com a crueldade sinto que embora haja cinza, há terra, por cima da qual nos manteremos na luta.”
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