Salvo pelo SUS, Bolsonaro não pretende aumentar recursos para o sistema
“Constatação está em análise feita por pesquisadores da USP, UFRJ e Fiocruz”
Por
Cláudia Colluci – Colunista da Folha de S. Paulo
"Se
um dia você sofrer um acidente grave, um tiro ou uma facada e tiver
condições de falar, peça para te levarem ao Hospital das Clínicas.
Não importa que o seu convênio dê direito ao Sírio e ao Einstein.
No hospital público estarão os profissionais mais experientes para
cuidar desses casos porque fazem isso o tempo todo."
"Na
última quinta (6), tão logo soube da facada da qual foi vítima o
presidenciável Jair Bolsonaro(PSL), lembrei-me dessa
recomendação feita anos atrás por um médico amigo, quando me
mudei para São Paulo.
Bolsonaro
foi levado à Santa Casa de Juiz de Fora (MG). A rapidez com que
foi atendido e a eficiência da equipe médica foram fundamentais
para salvar a vida do candidato. Ele chegou à emergência do
hospital, localizado a menos de 1 km do local do atentado, dez
minutos após ser esfaqueado.
Ficou na sala vermelha
menos de dez minutos e, depois de estabilizado, foi levado para fazer
ultrassom de abdômen e uma tomografia, que mostraram um intenso
sangramento na cavidade abdominal. A cirurgia foi imediata. No dia
seguinte, o candidato foi transferido para o hospital Albert Einstein
(SP).
Na Santa Casa de Juiz de
Fora, tudo foi pago pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo
a revista
Piauí,
a equipe médica receberá R$ 367,06 pelo tratamento cirúrgico
de lesões vasculares traumáticas do abdômen, conforme a tabela. E
o hospital, R$ 1.090,80.
Assim como outras
instituições filantrópicas do país, o hospital enfrenta
dificuldades financeiras, especialmente pela defasagem da tabela de
repasses do SUS. Relata prejuízos que ultrapassam R$ 27 milhões,
segundo levantamento de 2017.
Mas a julgar pelas
proposições para a saúde contidas no programa que inscreveu
formalmente no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro não
pretende aumentar os recursos para o SUS. Ele considera excessivos os
atuais gastos com saúde.
É o que aponta
a análise “A
saúde nos programas dos candidatos à Presidência da República do
Brasil em 2018”, feita pelos pesquisadores Mario Scheffer
(USP), Ligia Bahia (UFRJ) e Ialê Falleiros Braga (Fiocruz), a partir
das proposições oficiais para a área de todos os candidatos à
Presidência da República.
Segundo os autores,
Bolsonaro fundamenta seu diagnóstico em dados mal interpretados
de um gráfico desatualizado que faz uma comparação de gastos em
saúde de diversos países.
Talvez a experiência que
teve na Santa Casa de Juiz de Fora faça o candidato e outros
presidenciáveis a mudar de ideia sobre o SUS e seu crônico
subfinanciamento. Obviamente que isso não elimina a necessidade
urgente de o sistema se tornar mais eficiente e conter desperdícios
e fraudes.
O atendimento exitoso
prestado ao candidato pela Santa Casa de Juiz de Fora reforçou ao
país um SUS que funciona, um SUS que atende a todos
independentemente das posições ideológicas, orientação sexual,
condições socioeconômicas, credo ou cor. Um SUS que vai completar
30 anos no próximo mês e ainda não foi reconhecido pelo brasileiro
como um sistema para chamar de seu."
Cláudia
Collucci
Jornalista
especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que
a gravidez não vem?”.
Fonte: Folha de S. Paulo
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