quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Nota do Museu Nacional do Rio de Janeiro


Nota do Museu Nacional 


Ao povo brasileiro, peço desculpas. Não houve outra opção. Sacrifiquei-me, pois estava velho e pesado, onerando os cofres públicos e acorrentado a uma política pífia e decadente. Em um país onde faltam esparadrapos em hospitais e onde adultos mal sabem ler, o consumo de cultura e história é supérfluo quando comparado ao de arroz e feijão.
 
Suicidei-me para dar espaço à nova cultura brasileira, midiática, imediatista e efêmera. Não há espaço para a contemplação de artefatos gregos e egípcios num mundo onde jovens cantam a "chatuba de mesquita". Talvez se eu tivesse investido mais no meu sex appeal como o MAR ou o Museu do Amanhã, eu pensaria em ficar um pouco mais com vocês.
 
Hoje vejo e ouço as lágrimas e o choro hipócritas daqueles que "me amavam tanto", mas não me viam há décadas. Também o choro – igualmente hipócrita - dos políticos e pseudo-intelectuais que poderiam ter me tirado da minha depressão profunda, nem que fosse pra dar uma mão de tinta na minha fachada.
 
A você, cidadão comum, deixo meus primos. A Biblioteca Nacional,
O Paço Imperial, O Museu Nacional de Belas Artes, O MAM e o Theatro Municipal. Sei que você sabe que eles existem, mas não os conhecem.
Peço que os veja ao menos uma vez e absorva um mínimo de cultura que seja sem o desejo incontrolável de tirar uma selfie (que no meu tempo se chamava autorretrato). Visite-os, antes que também tomem a mesma decisão que tomei.
 
Deixo-vos com a certeza que dentro de 30 dias o povo estará nas ruas num embate viril entre coxinhas e pães com mortadela; e que em fevereiro teremos um novo hit do verão. Serei lembrado como aquele tio velho que morreu. Alguns guardarão lembranças e saudade. Outros sequer lembrarão que existi.
 
Abro espaço, então, para a antítese profetizada lá atrás, que finalmente poderá ser materializada: a criação de um "museu de grandes novidades. Penso que será melhor assim.”
 
                                                                                                   Museu Histórico Nacional

Fonte: whatsapp – autor desconhecido


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