terça-feira, 1 de setembro de 2020

"VISIBILIDADE OU INVISIBILIDADE, EIS A QUESTÃO..."

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Por Alice Oliveira

"Estamos entre o Dia do Orgulho Lésbico (19 de Agosto), ocorrido em 1983, na invasão do Ferro’s Bar, com o I Beijaço em São Paulo e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de Agosto) esse na abertura do I SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas, no Rio de Janeiro, organizado pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro, composto por lésbicas negras. São duas datas muito importantes no nosso calendário LGBTQI+.

Estamos completando 24 anos do agora SENALESBI – Seminário Nacional de Lésbicas e Bissexuais, mas, a luta pela visibilidade vem acontecendo ao longo de quatro décadas, nunca esmorecemos, ao contrário, sempre fomos irreverentes, rebeldes e revolucionárias. A nossa caminhada começou quando dentro do Grupo SOMOS, resolvemos formar um sub grupo de lésbicas, buscando criar um espaço para tratarmos as nossas especificidades, aí nasceu o sub grupo Facção Lésbico Feminista. Depois de um tempo e divergências nós lésbicas saímos do grupo e foi organizado o GALF – Grupo de Ação Lésbico Feminista, buscando assim o fortalecimento, visibilidade e surgimento de muitos grupos de lésbicas.

Outro momento importante foi em 1980 quando organizamos o I EBHO – Encontro Brasileiro de Homossexuais e quando foi no VII EBHO, nós lésbicas propomos de ter a palavra lésbica no nome do encontro. Foi uma grande celeuma, discussões em todos os estados, somente cinco grupos não apoiaram a proposta, mas tínhamos claro o quanto era importante mudar o nome, pois assim, estaríamos dando visibilidade as nossas questões e acabou ficando como VII Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais e nesse encontro foi deliberado que o nome dos próximos seria Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas. 

Mesmo assim, continuávamos invisíveis, até a realização do I SENALE - Seminário Nacional de Lésbicas, o primeiro evento, de âmbito nacional, organizado e integrado somente por lésbicas e mulheres bissexuais. Esse evento nasceu da ousadia, da persistência, resistência e rebeldia lésbica por nossa visibilidade, pois antes, sempre estávamos nas paralelas, nos corredores nos encontros brasileiros e assim, permanecíamos invisíveis.

Essa foi a primeira vez que fomos protagonistas de nossa própria história e nos reuníamos para discutir o machismo dentro e fora do movimento LGBT, a igualdade de direitos, organização política, combate ao sexismo, a lesbifobia, ao racismo, ao heterossexismo, nossa saúde e as violências.

Nosso movimento de lésbicas e mulheres bissexuais obtiveram avanços, conquistas e ampliação de ações e grupos em todo território brasileiro. Há 24 anos, que neste dia que é de luta e também de festa, vemos diversos tipos de manifestações virtuais, em quase todas as principais cidades brasileiras. O fortalecimento da política lésbica é inquestionável. Assim, o dia 29 de agosto, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é uma data de grande importância para todas nós. 

No Brasil não há, em âmbito nacional, proibição de discriminação quanto à orientação sexual. A prática homofóbica não é considerada crime. Nós lésbicas continuamos discriminadas diante das leis e regulamentações, bem como das políticas públicas e serviços públicos. Falta muito ainda por se fazer para se colocar um fim na discriminação às lésbicas. Precisamos de leis que declarem explicitamente proteção às lésbicas, em matéria de direitos. É fundamental tornar cada vez mais crescente a nossa visibilidade."


Alice Oliveira

Alice Oliveira, lésbica, feminista, fotógrafa etno-social. Co-fundadora do Grupo SOMOS – Grupo de Afirmação Homossexual em 1978 e do primeiro Núcleo de Gays e Lésbicas do PT/São Paulo. Integra o Setorial LGBT/PT Ceará; Articulação Brasileira de Lésbicas, Fórum Cearense LGBT e Conselheira Estadual do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos do Ceará.


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