Olimpíadas em Tóquio |
Por Petrônio Souza, escritor e jornalista
Secular em sua fase moderna, as Olimpíadas foram criadas na Grécia Antiga, com a proposta de celebrar e exaltar os deuses, tendo como ponto final as limitações do homem. A constatação de como são pequenos os mortais, diante dos feitos e possibilidades divinos. Era uma forma muito sofisticada e sutil de o estado dizer que era bem maior que o cidadão. Nessa época, esportistas eram vistos como heróis e imortalizados em fábulas e poemas.
Se no início as Olimpíadas evidenciavam a limitação física do homem, agora elas revelam a ilimitada ganância e obsessão humanas. E essas não têm fim, nacionalidade ou consideração ao próximo. Vale lembrar que o povo japonês se manifestou contrário à realização do evento em seu país durante a pandemia mundial do novo corona-vírus, com 70% da população se declarando contra.
O que ocorre no Japão hoje não é uma recepção, uma confraternização planetária, mas sim uma grande invasão, com reflexos e estranhamentos nas ruas, desvirtuando o sentimento e o sentido original das Olimpíadas. Para agravar ainda mais o desrespeito ao povo japonês, o Comitê Olímpico Internacional - COI, realizador do evento, diante dos protestos, justificou a realização das Olimpíadas declarando que “não estamos indo para Tóquio, mas para as Olimpíadas”. Diante dessas arbitrariedades, indago: Qual será o legado dessa edição dos jogos olímpicos para a história das Olímpiadas? Esporte é vida, não morte. Esporte é superação, não afronta.
Me parece claro que os jogos olímpicos no Japão sairão memores dessa edição fora de hora. Prova disso são os protestos realizados em Tóquio, onde se vê a bandeira olímpica, símbolo maior dos jogos, sendo estigmatizada. Nos protestos, os cinco anéis entrelaçados harmoniosamente na bandeira oficial, cada um com uma cor, simbolizando os continentes do planeta, foram pintados com a imagem do corona-vírus, jogando no lixo uma marca criada e consolida mundialmente ao longo das décadas.
Enquanto isso, sem falar um idioma sequer, sem levantar peso, correr a passos largos ou nadar, um vírus invisível e acéfalo evolui solitário, vencendo calado o maior e o mais forte dos mortais. E ele não subirá ao pódio e nem será homenageado, apenas descerá calado ao fundo escuro da ‘frialdade inorgânica da terra’."
Petrônio Souza |
Petrônio Souza, é mineiro, autor de livros de poemas e biografias.
Jornalista é conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa e mantém uma coluna semanal sobre política e cultura.
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