Desapegar não significa que você não deva possuir nada, mas que nada deve possuir você. - Sidarta Gautama
O mundo vive mudanças profundas e em um ritmo cada vez mais frenético. Uma rápida passada de olhos no noticiário parece indicar que todos os cenários com os quais estávamos acostumados a conviver estão se alterando tão rapidamente que, às vezes, torna-se um desafio se efetuar qualquer tipo de previsão.
E não são apenas mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que acontecem. Ao que tudo indica, quando cidades no Canadá registram temperaturas na casa de 49 graus centígrados e a Sibéria apresenta um dos verões mais quentes já registrados, o próprio planeta vive uma etapa de transformação, que trará outros desafios para a humanidade.
A percepção da crescente mobilidade dos cenários não é nova. No início dos anos 1990, a academia militar dos Estados Unidos criou o termo V.U.C.A. para definir o mundo em um cenário pós-guerra fria, ou seja, sem a polaridade que caracterizou a rivalidade com a extinta União Soviética. O termo é formado pelas iniciais das palavras "volatility" (volatilidade), “Uncertainty” (incerteza), “complexity” (complexidade) e “ambiguity” (ambiguidade). Provavelmente, nem aqueles que criaram a expressão V.U.C.A. podiam imaginar o quanto "vuca" ficaria o mundo.
Talvez o grande desafio não sejam as mudanças que podem ser vistas no horizonte da Humanidade, mas a maneira como estes desafios precisarão ser enfrentados. A poluição atmosférica, por exemplo, já é extremamente crítica em alguns países, mas quando se identifica que o ar contaminado na China é respirado por pessoas na Califórnia, nos Estados Unidos, podemos definir que qualquer solução eficaz precisará ser articulada e implementada de forma multilateral. O que demandará de nós reconhecimento da interdependência, assumirmos nossa responsabilidade individual e coletiva, a aplicação de doses maciças de solidariedade, tolerância e compaixão, tudo com o propósito maior de, pela união, reconhecermos o Amor pela vida como o valor prioritário para as nossas ações.
A utilização destas qualidades, em uma escala talvez sem precedentes, esbarra em um ponto importante, que pode ser melhor ilustrado por uma história que tomei conhecimento há muitos anos, e que sempre me vem à mente quando reflito sobre os desafios dos processos de mudança.
A história conta sobre uma maneira muito engenhosa de se capturar macacos. Coloca-se uma banana em uma cumbuca ou vasilhame de boca estreita, e prende-se o vasilhame firmemente em uma árvore ou uma estaca, em um local de fácil acesso e seguro para os animais. Quando um deles percebe a fácil refeição dentro do vasilhame, coloca a pata dentro da cumbuca para pegar a fruta. Mas o bicho não consegue sair segurando a banana. Para que ele consiga ir embora, é necessário que ele largue a fruta - o que ele não faz. Graças a isto, o animal é facilmente capturado por seus caçadores, perdendo a liberdade e muitas vezes, a vida.
Nas várias versões da história que podem ser encontradas em uma rápida pesquisa na internet, a prática seria realizada na Índia, em locais na África e até mesmo por nações ancestrais brasileiras. O local onde a fruta, ou qualquer outro alimento que atrai a presa, também são diferentes – assisti a um vídeo onde o primata era capturado por um pequeno buraco feito no solo, onde sementes foram as iscas utilizadas para prender o animal.
Independente da isca utilizada, ou da forma como o primata foi capturado, o resultado é que o animal termina invariavelmente preso.
As lições que esta história nos traz é muito interessante e profunda. Em determinados momentos, é absolutamente necessário que soltemos algo que nos agrada muito, ou com o que nos identificamos, para que possamos nos vermos com a liberdade necessária para irmos além. Não soltar o benefício imediato resulta em consequências mais graves, mas mesmo assim pode ser um enorme desafio simplesmente abrir a mão e deixar o que nos prende no buraco do passado.
Há várias causas para que isto ocorra, mas uma delas está fortemente relacionada com a identificação. Quanto mais nos identificamos com coisas, sejam elas materiais, emocionais ou ideias, mais apertamos os dedos em torno dela. E, assim, nós nos tornamos destas coisas, mais do que elas nos pertencem.
Então, fica extremamente difícil mudar. Pois é preciso, literalmente, abrir mão de algo com o qual às vezes relacionamos a nossa própria identidade. O que sou eu sem aquilo? Quem sou eu sem o emprego na corporação, a casa repleta de materiais que usarei uma vez na vida? Quem sou eu sem a ideia que defendi tão ardorosamente, que me fez jogar no lixo anos de convivência amorosa? Quem sou eu sem os hábitos de consumo e comportamento, que me deram um trilho para que eu pudesse encaixar meu vagão e seguir na ferrovia da sociedade?
Nenhum dos desafios externos que se apresentam à Humanidade são insuperáveis ou intransponíveis. O maior desafio que se apresenta está em nós mesmos, em nosso interior, e demandará a aplicação da difícil arte de abrir os dedos: o desapego.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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