sábado, 24 de julho de 2021

"O que a Vida quer de nós"

 

 “A verdadeira questão não é se há vida depois da morte, mas sim se está vivo antes da morte.”

Osho

 O nome “Thor” é imensamente conhecido, graças às aventuras do personagem da Marvel que foram levadas com grande sucesso ao cinema. Mas, se para fãs de cinema e quadrinhos, “Thor” leva imediatamente ao deus nórdico e seu poderoso martelo, para outros o nome lembra um dos mais fantásticos exploradores que já viveram.

Thor Heyerdahl foi arqueólogo e explorador, que viveu parte de sua vida na Polinésia, juntamente com sua esposa. Ao estudar as tradições nativas, tomou conhecimento das histórias e lendas que narram a chegada de homens vindos do mar, nascidos além do horizonte. Estes homens foram levados por Tiki, que os nativos consideravam como deus e filho do Sol.

Com base nas narrativas, Thor estudou o comportamento dos ventos e das correntes marítimas, e elaborou a teoria de que nativos sul-americanos haviam chegado à Polinésia. A tese de Thor foi rechaçada nos meios acadêmicos, que consideravam a travessia – do Peru à Polinésia, cruzando o Oceano Pacífico – impossível de ser realizada pelos meios conhecidos de navegação na época.

Determinado a provar sua tese, Thor buscou e obteve financiamento para a expedição denominada “Kon-tiki”. Ele e mais cinco tripulantes partiram em uma embarcação construída de forma similar às construções navais efetuadas pelos povos nativos sul-americanos na época estimada da viagem. E, depois de 101 dias, após percorrer mais de 4 mil quilômetros sem nenhum instrumento, ao sabor dos ventos e das correntes marítimas, a balsa chegou a um coral na Polinésia, provando de forma definitiva sua teoria.

Muitos certamente diriam que a atitude de Thor e seus companheiros de viagem foi absolutamente irracional e sem sentido. Arriscar a vida e a reputação daquela forma! E no momento de vida que realizou a façanha, Thor deixou a esposa e os filhos pequenos para se dedicar à viagem que provaria sua tese, decisão que resultou no fim de seu casamento.

O que dizer então de George Mallory, que se dedicou a conquistar o pico do Everest e lá ficou, também deixando esposa e filho pequenos? E o que se falar de sir Ernest Shackleton, que em 1914 também arriscou tudo para realizar uma expedição ao então completamente desconhecido continente da Antártida?

O que levou Rosa Parks a dizer “não” ao homem branco que solicitou que ela se levantasse do lugar que ocupava no ônibus, gerando com isto um dos maiores movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos? O que motivou a Marta Vieira da Silva a deixar a casa no interior de Alagoas, aos 14 anos, para se aventurar sozinha e sem dinheiro no Rio de Janeiro e buscar a carreira de jogadora de futebol, algo improvável em um país que sempre associou o esporte a homens?


Em algum momento, estes e outros homens e mulheres brilhantes ouviram o que o seu coração pedia. E nem sempre o que o coração nos pede é socialmente aceitável. Além de todos os desafios externos para se realizar o que o coração deseja, são enormes também as barreiras que surgem pelo simples fato de que o coração quer “nadar contra a corrente”, contra aquilo que todos consideram como “normal”.

Porque ouvir o clamor do coração tem seu preço. O casamento de Thor se desfez. Mallory morreu no Everest, e não se sabe até hoje se ele e seu companheiro de aventuras Andrew Irivine foram os primeiros ocidentais a alcançar o pico da montanha mais alta do mundo. O navio da expedição capitaneada por Shackleton encalhou no gelo, fazendo com que ele e seus comandados precisassem efetuar uma jornada dolorosa pelo mar e frio antárticos para sobreviver. Rosa Parks foi presa e enfrentou processos por desafiar as leis de discriminação racial. Marta deixou a família, que ajudava economicamente como carroceira, encarando sozinha um mundo hostil ao seu sonho.

Por isto que todos os atos que veem do coração precisam ser valorizados. Todos são tão significativos quanto subir o monte mais alto ou navegar em oceanos bravios. Deixar um emprego que todos consideram excelente porque você quer se dedicar a outra atividade. Ligar para um parente ou amigo que não fala há muito tempo para dizer que sente saudades e quer voltar a travar contato. Subir em uma escada de quatro degraus mesmo sofrendo de pânico de altura para ajudar alguém a trocar uma lâmpada. 

Cada um de nós tem sua montanha ou continente desconhecidos para serem conquistados. Mas para que os passos em direção a esta conquista sejam dados, a única alternativa é agir com o coração. Pois somente quando agimos com o coração é que efetivamente mergulhamos na sensação de estar plenamente vivos. Quanto mais exercitamos o coração, mais forte ele fica, e mais capazes de soltarmos as iscas que agarramos e nos prendem nos buracos da rotina. Assim exercitamos aquilo que Guimarães Rosa nos contou sobre o que a vida nos pede: coragem.


Maurício Luz

 Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.   

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