quinta-feira, 8 de julho de 2021

Austeridade: a quem serve?

Da Fábula: A formiga e a cigarra

Artigo de Ana Paula Ferreira

Quando os liberais falam de economia em períodos de crises é muito comum usarem o termo austeridade. E o que de fato ela representa? Ela está vinculada com a ideia de retidão, de prudência, bom senso, disciplina, fazer sacrifícios com vistas a desfrutar disso mais tarde. É o que tentam introjetar nas pessoas desde a mais tenra idade através principalmente da fábula “A formiga e a cigarra”, ilustrando que quanto mais indisciplinados, mais correremos o risco de passarmos pelo frio ou pela fome. Não que não haja certa sabedoria na fábula, mas ela evidencia como se estivéssemos sujeitos apenas a nossas decisões, o que não é verdade.


Para falar de austeridade com os adultos a linguagem é outra.

Comparam o orçamento doméstico com o orçamento público e

dizem que assim como a família não pode gastar mais do que

arrecada, o “bom” gestor também não pode ter esse

comportamento desviante. 


Entretanto, essa comparação é infundada por três motivos.

Primeiro porque o governo tem a capacidade de estabelecer o

aumento de seu orçamento e assim, escolher entre tributar os

mais ricos ou taxar os mais pobres. Já a maioria das famílias

não possuí a liberdade de vender a força de trabalho, mas sim

a necessidade e, portanto, dificilmente há negociação do

salário, e sim aceitação. 


O segundo motivo é que quando o governo acelera o

crescimento econômico com programas sociais ou políticas de

incentivo isso retorna na forma de impostos e, portanto, há um

aumento de receita. Com as famílias já acontece o contrário.

Se gastarem com supermercado ou no pagamento de suas

contas, esse valor não lhes voltará. 


E a terceira razão que evidencia o equívoco dessa comparação

é porque as famílias quando contraem dívidas junto às

financeiras, elas não definem as taxas de juros, e aliás, elas

também não emitem moeda, diferente do governo federal que

possuí essa flexibilidade. 


Assim sendo, a austeridade não provoca o crescimento de uma

nação. Pelo contrário. Se há o corte de gastos públicos, haverá

menos retorno e consequentemente menos receita para novos

investimentos. Qual é o interesse na sua aprovação se não há

benesses para a maioria da população? Trata-se de uma

escolha política para coroar os mais ricos, afinal ao gerar o

desemprego, haverá menos pressões trabalhistas e

consequentemente achatamento salarial seguido de aumento

da desigualdade de renda. Além disso, a diminuição de gastos

com educação, saúde e várias outras pastas, abre espaço para

setores corporativos da sociedade. Deixo como exemplo o

faturamento do grupo Unimed que fechou em 2020 com o

maior lucro desde 1998. 


E no nosso cenário municipal? Como que o governo Sérgio

Azevedo tem conduzido a economia? Tomando como

referência uma análise feita pelo professor Tiago Mafra na

audiência pública sobre o Plano Plurianual de Poços de

Caldas, é possível perceber uma retração dos investimentos

em diversas áreas. Na educação o plano prevê a redução de

mais de 50% em setores tais como Programa Municipal da

Juventude, que atende crianças e adolescentes em período

complementar à escola, serviço normalmente utilizado por pais

e mães trabalhadores. Na saúde estabelecem um corte de mais

de 10  milhões no Programa de Vigilância em Saúde e na pasta

de Esporte o corte estimado é de 14 milhões, o que impactará

diretamente programas de incentivo à prática desportiva. O

investimento em moradia popular praticamente é citado no

Plano de forma insignificante, mesmo num momento de crise

econômica que inúmeras famílias passam por enormes

dificuldades em pagar o aluguel.

 

Em linhas gerais é isso que é a austeridade: impacta os mais

vulneráveis e os pequenos empresários, afasta o poder público

de suas responsabilidades com a maioria dos cidadãos e, no

final, não gera a receita que é tão divulgada. Aliás, gera sim,

mas apenas para uma elite econômica que discursará a plenos

pulmões a favor da austeridade do outro. 


Ana Paula Ferreira

Supervisora escolar, mestre em Educação

Militante do Coletivo Educação e do  Coletivo Mulheres

pela Democracia, em Poços de Caldas, MG


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