Jair Bolsonaro (PL) discursa na abertura oficial da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, nesta terça-feira (20). — Foto: NIYI FOTE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO |
"O presidente discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (20)."
Por g1, O Globo, TV Globo e CBN*
"O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso nesta terça-feira (20) na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos.
Em um pronunciamento de 20 minutos, Bolsonaro abordou temas de campanha, fazendo um balanço das ações de seu governo, atacou as gestões petistas e defendeu itens da pauta conservadora.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Bolsonaro. Leia:
“No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Ministros do governo de Jair Bolsonaro são alvos de diversas investigações por suspeita de corrupção que estão em andamento. Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi acusado de participar de um grupo de exportação ilegal de madeira. As investigações da Polícia Federal apontaram para a existência de um "esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais", que teria o envolvimento de Salles e de gestores do ministério e do Ibama.
Também em 2021, o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi acusado de pedir um dólar de propina por cada dose adquirida de vacina contra a Covid-19.
Em 2022, entre os casos que ganharam repercussão está o do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC. Ribeiro é suspeito de favorecer cidades que possuíam o intermédio de pastores aliados do ministro. Prefeitos denunciaram ainda pedidos de propina em troca da liberação de recursos para os municípios.
“Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a Covid-19.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: De acordo com o mapa da vacinação contra a Covid-19, elaborado pelo consórcio de veículos de imprensa, 79,3% da população brasileira receberam duas doses ou dose única contra a doença, o que corresponde a 170,5 milhões de brasileiros.
"Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos."
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Bolsonaro promoveu ações durante a pior fase da pandemia que contrariam a declaração de que o governo não poupou esforços para salvar vidas. Ao longo de toda a pandemia, o presidente incentivou o uso de medicamentos ineficazes no combate à doença, como a hidroxicloroquina. Esses remédios foram distribuídos pelo Ministério da Saúde, contrariando a comunidade científica e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em janeiro deste ano, um ano depois do início da vacinação, a pasta chegou a publicar nota técnica dizendo que a cloroquina era segura, mas as vacinas, não.
Bolsonaro também incentivou a população a não usar máscaras e foi multado diversas vezes por se recusar a utilizar a proteção em eventos públicos. O presidente tentou ainda impedir que governadores e prefeitos promovessem medidas de isolamento social para tentar conter o avanço da pandemia, recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para proibir as restrições nos estados. Além disso, depoimentos e documentos revelados pela CPI da Covid apontaram que as vacinas da CoronaVac, do Instituto Butantan, e da Pfizer sofreram resistência do governo para serem compradas.
O governo federal também demorou a atuar durante a crise de falta de oxigênio para pacientes com Covid-19 em Manaus (AM). A falta do insumo nos hospitais resultou em ao menos 30 mortes. Segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), um relatório apontou que o Ministério da Saúde foi informado no dia 8 de janeiro sobre a iminente falta de oxigênio pela empresa White Martins. Apesar disso, o então titular da pasta, Eduardo Pazuello, agiu tardiamente para enfrentar o problema.
Sobre a preservação de empregos, de fato, o governo federal tomou algumas medidas para diminuir os impactos econômicos. Em abril de 2021, por exemplo, Bolsonaro assinou duas medidas provisórias para preservar empregos durante a pandemia.
“Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Levantamento feito pelo consórcio MapBiomas apontou que o Brasil tinha, em 2021, 66% de seu território coberto por vegetação nativa, o que representa dois terços do total. No entanto, a mesma pesquisa revela que essas áreas não são conservadas em sua totalidade, logo não se encontram “exatamente como estavam quando o Brasil foi descoberto”, ao contrário do que diz o presidente.
Segundo a MapBiomas, pelo menos 8,2% de toda vegetação nativa existente é vegetação secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas pelo menos uma vez desde 1985 ou já estavam desmatadas na época. Na Mata Atlântica, a proporção de vegetação secundária sobe para 27%.
Estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) aponta que, até 2020, cerca de 729 mil km² já haviam sido desmatados no bioma Amazônia, o que corresponde a 17% do bioma. Mas o desmatamento da Amazônia tem batido recordes seguidos no governo Bolsonaro e levado preocupação à comunidade internacional.
Levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou que o desmatamento na Amazônia, de agosto de 2021 a julho de 2022, foi o maior dos últimos quinze anos.
Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do órgão, que monitora a região com imagens de satélites, foram derrubados 10.781 km² de floresta, o que equivale a sete vezes a cidade de São Paulo.
Outro levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apontou que, no período de agosto de 2018 a julho de 2021, o desmatamento no bioma aumentou 56,6% em relação a anos anteriores.
Em 2019, países como Noruega e Alemanha deixaram de repassar ao governo federal uma verba bilionária do ‘Fundo Amazônia’, por causa da falta de comprometimento do país com a preservação da floresta. Em novembro de 2021, o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, disse que os alemães não retomarão investimentos no fundo "sem a convicção de que o Brasil vai reduzir o desmatamento".
"Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto."
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: A inflação medida nos últimos 12 meses chegou a 12,13% em abril, e desacelerou nos últimos dois meses (julho e agosto).
Ao assumir o governo no início de 2019, o Brasil registrava inflação medida pelo IPCA de 3,75% em 12 meses. Atualmente, esse indicador é de 8,73%. Ou seja, a inflação hoje é 132% maior que quando Bolsonaro assumiu o governo.
Segundo o boletim Focus, do Banco Central, a estimativa da inflação para 2022 é de 6%.
O país já tinha registrado deflação anteriormente. Apenas nos dois anos anteriores à chegada de Bolsonaro ao governo federal, houve duas ocasiões com deflação. Durante o próprio mandato do presidente, já havia ocorrido.
Registros de deflação no Brasil nos últimos 5 anos:
2017
- Junho: -0,23%
2018
- Agosto: -0,09%
- Novembro: -0,21%
2019
- Setembro: -0,04%
2020
- Abril: -0,31%
- Maio: -0,38%
“O desemprego caiu cinco pontos percentuais, chegando a 9%, taxa que não se via há sete anos.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: De fato, a taxa de desemprego chegou a 9,3% no trimestre que terminou em junho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São 10,1 milhões de pessoas desempregadas.
Em relação ao mesmo período de 2021, a queda foi de cinco pontos percentuais. O índice é o menor patamar para um trimestre desde 2015, quando ficou em 8,4%. Mas o salário dos "empregados" também está num patamar mais baixo.
“Concluímos o projeto de transposição do rio São Francisco.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: A obra de transposição do Rio São Francisco foi iniciada em 2007, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e estava prevista inicialmente para ser finalizada até 2012. Desde então, o projeto foi alterado em extensão e passou por quatro gestões federais, tendo trechos entregues por todos os presidentes seguintes.
Em 2015, por exemplo, Dilma Rousseff (PT) entregou a estação de bombeamento do Eixo Norte. Já em 2017, Michel Temer (MDB) inaugurou o Eixo Leste. Em junho de 2020, Bolsonaro inaugurou um dos trechos finais do Eixo Norte. A obra, no entanto, ainda não está concluída. Segundo o site do Ministério do Desenvolvimento Regional, o Eixo Norte ainda não está completamente finalizado, restando a execução de “serviços complementares”.
"Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares."
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Segundo os balanços consolidados da Petrobras no período de 2003 a 2015, o maior nível de endividamento da empresa - em dólares - foi de US$ 136,167 bilhões, registrado em 31 de março de 2014. O valor é 20% menor que o citado pelo presidente.
“Durante a pandemia) beneficiamos mais de 68 milhões de pessoas, o equivalente a 1/3 da nossa população.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo a Caixa Econômica Federal, que executou os pagamentos de todas as modalidades de auxílio emergencial implementadas desde 2020, foram pagos R$ 329,5 bilhões para 68 milhões de beneficiários durante os 15 primeiros meses de vigência dos benefícios. O auxílio emergencial criado em abril daquele ano foi o que teve os critérios mais abrangentes e, portanto, maior número de beneficiários.
“Queda de 7,7% no número de feminicídios.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Conforme dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2018, antes de Jair Bolsonaro assumir o governo, foram registrados, no Brasil, 1.229 feminicídios. Em 2019, foram 1.330, aumento de 8,2%. Em 2020, o país contabilizou 1.354 feminicídios, crescimento de 1,8%. Em 2021, foram 1.341 mortes de mulheres, queda de 0,9%. Se considerado o percentual de feminicídios por 100 mil habitantes, a queda entre 2020 e 2021 foi de 1,7%.
Número de feminicídios:
- 2018: 1.229
- 2019: 1.330
- 2020: 1.354
- 2021: 1.341
“Hoje, por exemplo, o Brasil é o 7º país mais digitalizado do mundo: são 135 milhões de pessoas que acessam 4.900 serviços do meu governo. O Brasil foi pioneiro na implantação do 5G na América Latina.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Relatório produzido pelo Banco Mundial elencou o Brasil como sétimo melhor país no quesito digitalização dos sistemas do governo. O “GovTech Maturity Index 2020” mediu a maturidade dos governos quanto ao uso de tecnologias para prestação de serviços. A plataforma “gov.br” foi bem avaliada pela instituição dentro deste levantamento. Conforme dados do Governo Federal, mais de 4 mil serviços públicos no país já estão digitalizados.
Com relação ao 5G, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter o chamado “5G puro”, que tem alta velocidade de conexão.
“No meu governo, entregamos 400 mil títulos rurais.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo nota divulgada pela Casa Civil, entre janeiro de 2019 e agosto de 2022, o governo federal emitiu 404.993 documentos de titulação em assentamentos da reforma agrária e áreas públicas passíveis de regularização fundiária."
*André Graça, Clara Velasco, Cirilo Júnior, Felipe Grandin, Louise Queiroga, Marcelo Parreira, Marina Pinhoni, Patrícia Fiúza, Pedro Bohnenberger e Victor Farias.
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