domingo, 12 de março de 2023

Notícias locais: "NÃO PRECISA SER SEMPRE ASSIM"


Por Tiago Mafra


“Uma cidade parece pequena, se comparada com um país, mas é na minha, na sua cidade, que se começa a ser feliz”. A canção de tantas campanhas remete à ideia de um espaço urbano que cresce com finalidade de atender a todos em cooperação e construir as relações de forma que não haja exploração, miséria e infelicidade.

As cidades, espaços de concentração de pessoas, insumos, meios de produção e possibilidades, têm condições de abrigar, alimentar, cuidar e educar aqueles que nela residem, garantindo acesso aos serviços e direitos de todos.

Porém, a cidade, como um direito a se realizar, não parece uma tarefa a empreender para quem governa com fins não evidentes e nem explicitados publicamente. O discurso oficial muitas vezes não condiz com os resultados obtidos das decisões políticas tomadas às portas fechadas, sem a participação dos afetados.

Tiago fala da importância do papel da mulher, trabalhadora, chefe de família...

Uma cidade onde a cultura tem orçamentos mínimos, inclusive sufocada com a lentidão ao longo da pandemia e cortes orçamentários; uma cidade em que muitos conselhos municipais só exitem pró-forma sem efetivamente contribuir na construção e fiscalização de políticas públicas; uma cidade onde a saúde não expande leitos hospitalares, não informatiza seus sistemas, não integra suas redes, realiza contratações suspeitas e não dá condições de trabalho adequadas a seus servidores; uma cidade que busca “higienizar” suas áreas centrais, atender aos de cima enquanto não socorre quem tem fome, frio e está ao relento, material ou psicológico; uma cidade onde o transporte público é ferramenta de lucro sem fiscalização, que impede o acesso à cidade devido aos preços abusivos da tarifa; uma cidade que não realiza concurso público, descumpre as leis trabalhistas e vive a correr atrás de pagamentos de precatórios por questões evitáveis; uma cidade onde as anistias servem constantemente aos interesses dos construtores de má-fé que desrespeitam a lei na certeza do perdão de quem fiscaliza pela metade; uma cidade que se maquia para os ricos enquanto os espaços públicos das margens são tratados sempre com desdém ou de qualquer maneira; uma cidade que não paga o piso dos professores; uma cidade que não se preocupa com as famílias que trabalham no lixão, nos trailers ou no turismo privatizado; uma cidade que não fomenta a capacitação profissional, a juventude e a educação integral; uma cidade que trata suas empresas públicas com viés privado… Enfim, uma cidade que não é para a cidade.

Para quem governa de cima para baixo, com os amigos e para os amigos, a cidade como cooperação e realização de direitos não é uma tarefa a empreender, não é bandeira a defender, nem utopia a guiar. É uma barreira que incomoda e expõe as contradições de uma república dominada pelo privado.

Milton Santos, ao tratar a globalização, fala da imagem, da realidade e da possibilidade. Em analogia, podemos pensar a cidade: na fábula, é tudo perfeito, o interesse é público, os interesses são coletivos e todos trabalham em prol do povo. Na realidade, a cidade como é, a perversidade revelada mostra o espaço e os serviços no atendimento de poucos, dos amigos, empresários, hoteleiros, construtores, comerciantes, onde o povo e o trabalhador é só a pedra no caminho da oligarquia.

Quais as possibilidades? O que podemos fazer? Não precisa ser sempre assim. Não será sempre assim. “Se a vida ensina, eu sou aprendiz”."


Tiago Mafra

Tiago Mafra é professor de Geografia da rede pública municipal de ensino e no pré-vestibular comunitário Educafro desde 2009. Brigadista de Solidariedade a Cuba (2011), Especialista em Filosofia (2011) e em Políticas Públicas para Igualdade (2018), Mestre em Educação (2019). Secretário Geral do PT de Poços de Caldas.

E-mail: tiago.fidel@yahoo.com.br 

Um comentário:

  1. Excelente o texto. Não entendi o q o Sr quis dizer com a frase:
    "uma cidade que trata suas empresas públicas com viés privado…"

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