terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Experiências emocionais dos pais são herdadas pelos filhos




Mais um estudo soma-se ao crescente corpo de evidências de que a epigenética permite que experiências de vida deixem marcas nos filhos 
 A transmissão genética de características reflete as alterações na estrutura genética, isto é, nos pares de bases que formam o DNA. 

epigenética, por outro lado, envolve processos celulares que não alteram a estrutura do DNA. Uma equipe da Universidade Emory (EUA) demonstrou agora que o comportamento pode ser afetado por episódios vivenciados por gerações passadas. Na linguagem usada pelos biólogos, isso significa que experiências vividas por um indivíduo poderão afetar seus descendentes. 

Traumas herdados
Os novos experimentos mostraram que um evento traumático pode afetar o DNA no esperma e alterar os cérebros e o comportamento das gerações futuras. O fenômeno foi observado em camundongos que foram condicionados a se esquivar de um determinado tipo de odor. Eles passaram essa aversão aos seus descendentes - os cientistas acompanharam o fenômeno até os netos dos camundongos inicialmente condicionados.

Os cientistas constataram que o trecho do DNA responsável pela sensibilidade à essência da flor de cerejeira usada no experimento ficou mais ativo na célula reprodutiva masculina, passando a característica para a prole. Tanto a prole dos camundongos quanto os descendentes destes demonstraram hipersensibilidade à flor de laranjeira e se esquivaram dela, mesmo que não tenham passado pela mesma experiência.


Os pesquisadores também identificaram 
mudanças na estrutura dos cérebros
 desses animais.

 "As experiências vivenciadas pelos pais,
influenciaram fortemente tanto a  estrutura quanto a função no sistema nervoso
a estrutura  das gerações subsequentes," escrevem os pesquisadores.

Ansiedade e obesidade
As descobertas oferecem novas evidências de uma "herança epigenética transgeracional", ou seja, de que o ambiente pode afetar os genes de um indivíduo, que são então transmitidos a seus herdeiros. Além do interesse nos estudos referentes à evolução, estudos como esse têm impacto na abordagem de problemas como as fobias, ansiedade e desordens de estresse pós-traumático.

Alguns especialistas afirmam que até mesmo a obesidade pode envolver fenômenos desse tipo, eventualmente por meio de ansiedades que levam à ingestão exagerada de alimentos, ansiedades essas que passariam para os filhos. Estudos similares já haviam mostrado que o aprendizado da mãe passa para o filho, levando os pesquisadores a concluir que a herança não-genética pode ser mais frequente que a herança pelo DNA.

Aprendizado da mãe passa para o filho

Herança além dos genes
Além dos genes, a mãe pode passar para o filho também os benefícios de suas 
experiências cognitivas, mesmo que estas experiências tenham ocorrido antes 
que ela ficasse grávida. As experiências cognitivas podem incluir estudos, 
treinamentos e experiências pessoais.

Os cientistas já haviam demonstrado antes, tanto em modelos animais quanto         
em pessoas, que as experiências da mãe durante a gravidez afetam a expressão 
genética dos seus filhos. Mas, até agora, não havia evidências de que as 
experiências cognitivas anteriores à gravidez pudessem afetar a genética dos filhos.

Ambientes enriquecedores

A nova experiência, feita em camundongos, envolveu o "desligamento" de um 
gene chamado Ras-GRF-2, fazendo com os animais tivessem um problema de memória
Esse problema impede que os animais associem uma sensação de medo a determinado   local depois que eles recebem choques quando entram nesse lugar.

Um grupo desses animais foi colocado em um ambiente enriquecedor,  cheio   
de brinquedos. Já se demonstrou que esses ambientes melhoraram o  aprendizado          e  a memória. Outro grupo de animais foi mantido em um ambiente isento desses
a memória. Outro grupo de animais foi mantido em um ambiente isento   desses incentivos.

O ambiente mais rico e cheio de brinquedos fez com que os animais compensassem seu defeito de memória e passassem a temer o local onde levam os choques, como acontece com os animais sem a manipulação genética.

Herança das mães, não dos pais
Depois que os animais chegaram à vida adulta, os pesquisadores constataram que os
que os filhos das mães que viveram no ambiente educacionalmente enriquecedor herdaram o medo do local do choque, o mesmo não acontecendo com os filhos das mães que viveram em ambientes sem incentivos.

O efeito somente foi observado em filhos das mães geneticamente  modificadas       
modificadas que viveram no ambiente com brinquedos e incentivos. O resultado           não  acontece para os pais que passaram pela situação idêntica. Como os filhotes têm o mesmo defeito genético das mães, os pesquisadores atribuem a melhor cognição dos filhotes ao tempo  que suas mães passaram no ambiente educativo antes de ficarem grávidas.  Os efeitos também não passaram para os seus netos.

Herança epigenética
Os pesquisadores suspeitam que as mães passem aos filhos os efeitos cognitivos durante  a gestação, provavelmente liberando hormônios que fazem com que marcadores químicos epigenéticos - não dependentes dos genes - apareçam nos genes de seus filhos, regulando sua expressão depois do nascimento.

"A mãe pode modular a capacidade intelectual de seu filho. Se isto acontecer em humanos haverá implicações imensas. Parece ser algo epigenético, mas não há provas  ainda," diz o Dr. Moshe Szyf, da Universidade McGill, no Canadá.

Fonte: Diário da Saúde

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