Anvisa decide retirar o canabidiol da lista de substâncias de uso proibido
Obtenção de medicamentos com a substância será facilitada no país. Substância química é encontrada na maconha e tem utilidade terapêutica.
Por Isabella Calzolari
Atualmente,
medicamento com canabidiol necessita de autorização especial da
Anvisa. Agência retirou substância da lista de proibidas (Foto:
Reprodução/TV TEM)
O que é o canabidiol (CBD)?
É uma substância química encontrada na maconha que, segundo estudos científicos, tem utilidade médica para tratar diversas doenças, entre elas, neurológicas. Medicamentos comercializados no exterior já utilizam a substância derivada da Cannabis sativa.
É uma substância química encontrada na maconha que, segundo estudos científicos, tem utilidade médica para tratar diversas doenças, entre elas, neurológicas. Medicamentos comercializados no exterior já utilizam a substância derivada da Cannabis sativa.
Para quais tipos de tratamento é usado?
Pacientes utilizam o canabidiol para alívio de crises epilépticas, esclerose múltipla, câncer e dores neuropáticas (associadas a doenças que afetam o Sistema Nervoso Central).
Pacientes utilizam o canabidiol para alívio de crises epilépticas, esclerose múltipla, câncer e dores neuropáticas (associadas a doenças que afetam o Sistema Nervoso Central).
Como é o processo atual?
Segundo a Anvisa, o canabidiol está inserido na Lista de substâncias uso proscrito no Brasil, chamada de F2, por ser derivado da Cannabis sativa, nome científico da maconha. Interessados em importar remédios com a droga têm que apresentar prescrição médica e uma lista de documentos para a Anvisa, que serão avaliados pelo diretor da agência. Ele dará uma autorização especial, que demora, em média, uma semana para ser liberada.
Mesmo
com a reclassificação do canabidiol, sua importação continuará
sendo controlada pela Anvisa, mas a substância perde a 'tarja'
oficial de ilegalidade.
A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu nesta
quarta-feira (14) retirar o canabidiol da lista de substâncias de
uso proscrito.
A
medida foi aprovada pela Diretoria Colegiada da agência durante
reunião em Brasília. Com ela, abre-se o caminho para que a
comercialização de medicamentos com a substância seja facilitada
no país. Antes, a venda do produto com a substância classificada
como proibida era vetada.
Agora,
as empresas interessadas poderão produzir e vender derivados de
canabidiol após a obtenção de um registro da Anvisa. Há menos de
um mês, uma empresa europeia entrou com um pedido para vender
medicamentos com a substância, mas ele ainda está em análise e não
há prazo para ser concluído. A aquisição do produto deverá
ocorrer de forma controlada, com a exigência de receita médica de
duas vias.
A
agência também vai criar uma ordem de serviço em regime especial
para regulamentar a importação dos remédios com a substância, que
continuará pecisando de autorização para ser feita. A resolução
ainda não está pronta. Com ela, deve haver uma flexibilização da
importação. Segundo Jaime Oliveira, medicamentos já conhecidos
pela Anvisa que contêm a substância serão autorizados mais
rapidamente do que medicamentos desconhecidos, que precisarão de uma
maior análise.
O
canabidiol é uma substância química encontrada na maconha e que,
segundo estudos científicos, tem utilidade médica para tratar
diversas doenças, entre elas, neurológicas.
O
diretor-presidente da Anvisa, Jaime Oliveira, votou pela liberação
do uso do canabidiol, mas com controle e com a permanência da
necessidade de autorização de importação pela Anvisa. "A
reclassificação, por si só, em nada altera o quadro de necessidade
excepcional de autorização da Anvisa. Os produtos importados não
são só compostos de canabidiol", disse.
De
acordo com o diretor-presidente, estudos científicos mostraram que o
canabidiol não traz dependência. "Portanto não há razões
para que ela [a substância] permaneça proibida. Apesar dos relatos
bibliográficos, a avaliação nao teve objetivo de comprovar a
eficácia do canabidiol e sim o risco de desvios e seu potencial para
causar dependência."
saiba
mais
- Decisão do CFM de liberar canabidiol é publicada no Diário Oficial
- Conselho Federal de Medicina libera uso de composto da maconha
- Morre bebê que esperava liberação de remédio derivado da maconha
- Anvisa estuda facilitar importação de remédios feitos à base de maconha
- Justiça autoriza família a importar remédio derivado da maconha
Ivo
Bucaresky, membro da diretoria colegiada, disse que, em curto prazo,
pode parecer que a decisão não mudará muita coisa, mas há um
efeito simbólico e prático. "Além de mostrar que não é algo
ilegal que está sendo feito, que o médico não está impedido de
prescrever, vai permitir que saia essa tarja de ilegalidade, que está
sendo feito algo proibido", afirmou.
Segundo
Bucaresky, a decisão também será importante para as pesquisas
científicas no Brasil. "O efeito prático primeiro é na
academia. Vai facilitar as pesquisas e os debates na academia. Outro
ponto que vi muito é o acesso. Hoje consegue trazer [o remédio]
quem tem estrutura econômica e muitas famílias têm dificuldades de
ter acesso."
De
acordo com a Anvisa, o órgão recebeu nea última terça-feira 374
pedidos de importação da substância para uso pessoal, por meio do
pedido excepcional de importação de medicamentos de controle
especial e sem registro no Brasil. Desse total, 336 foram
autorizados, 20 aguardam o cumprimento de exigência pelos
interessados e 11 estão em análise pela área técnica.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou uma nota na qual elogiou a decisão da Anvisa, considerando-a como um "reconhecimento ao pedido de inúmeras famílias que buscaram na Justiça o direito ao tratamento".
Apelo de pais
Durante
a reunião, Katiele Fischer e Norberto Fischer, pais de Anny, de 6
anos, portadora da rara síndrome CDKL5, fizeram um apelo aos membros
da diretoria colegiada. Anny tem uma doença genética que provoca
deficiência neurológica grave e grande quantidade de convulsões.
Em 3 de abril do ano passado, o casal obteve, na Justiça,
autorização para importar o canabidiol.
"A
reclassificação é fruto de um apelo social. Não é uma decisão
política. Isso é uma decisão técnica da equipe da Anvisa com esse
apoio popular", afirmou Norberto Fischer. "Com a
reclassificação o aspecto sociológico da sociedade vai mudar. A
sociedade começa a acreditar que essa substância não é algo
ruim."
Conselho
Federal de Medicina
Em dezembro do ano
passado, o Conselho Federal de Medicina autorizou o uso do canabidiol
no tratamento de crianças e adolescentes que sejam resistentes aos
tratamentos convencionais. A prescrição é restrita a
neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras.
Segundo
a entidade, os médicos autorizados a prescrever a substância
deverão ser previamente cadastrados em uma plataforma online. Já os
pacientes serão acompanhados por meio de relatórios frequentes
feitos pelos profissionais.
Pela
norma, pacientes ou os responsáveis legais deverão ser informados
sobre os riscos e benefícios do uso do canabidiol e, então, assinar
o termo de consentimento. Além disso, a decisão do conselho deverá
ser revista no prazo de dois anos.
O
canabidiol deve ser prescrito a pacientes de epilepsia ou que sofram
de convulsões que não tiveram melhoras no quadro clínico após
passar por tratamentos convencionais.
De
acordo com o conselho, o uso da substância deve ser restrito a
crianças e adolescentes menores de 18 anos – mas quem
eventualmente use o medicamento antes dessa idade pode continuar o
tratamento mesmo após ficar maior de idade.
As
doses variam de 2,5 miligramas diários por quilo de peso do paciente
a até 25 miligramas, dependendo do caso. A estimativa do conselho é
que o limite diário total fique entre 200 miligramas e 300
miligramas por paciente.
Fonte: g1.com
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