PT:
DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO À PEDAGOGIA DO AMOR
A
alteração do Secretário de Educação do município de São Paulo
se confirmou nesta terça-feira, 13/01, com a publicação no Diário
Oficial da exoneração de César Callegari e a nomeação de Gabriel
Chalita (PMDB).
A
troca, segundo informações da imprensa, vinha sendo articulada há
um mês, envolvendo Lula e Temer, e faz parte de uma articulação
política para a campanha de 2016, na qual o PMDB assumirá o papel
de vice-prefeito na disputa à reeleição de Fernando Haddad.
O
jogo político em questão demonstra a pior face das alianças feitas
pelo PT para garantir uma vitória eleitoral. Ainda que a presidente
tenha anunciado como novo mote de governo: “Brasil, pátria
educadora”, o que mais temos visto desde esse curto início de ano
é a prioridade na área de educação ser atacada pelos governos
petistas. Iniciamos com a nomeação de Cid Gomes (PROS) para o
Ministério da Educação. Logo ele, que disse que "os
educadores devem trabalhar por amor" e foi um dos cinco
governadores que entraram no STF contra a Lei do Piso Salarial do
magistério. E que já recebeu de bom grado no Ministério um grande
corte orçamentário (o maior de todos) - cerca de 7 bilhões de
reais. Agora, na prefeitura de São Paulo, o PT entrega a Secretaria
de Educação do município mais rico do país para a administração
de Gabriel Chalita, que, lembramos bem, foi secretário de educação
do governo estadual na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) entre 2002 e
2006.
A
vinda de Chalita para a Secretaria Municipal de Educação é
simbólica. Reafirma que as políticas educacionais de dois partidos
que se dizem antagônicos (PT e PSDB) alinharam-se de tal maneira que
seus governos podem ter o mesmo secretário de educação. Indica que
a prioridade na educação está somente no discurso, pois na prática
a educação ainda não é tratada como um direito de todos e dever
do Estado. E, sobretudo, aponta para um período em que a lógica
privatista deve se aprofundar na maior rede de ensino do país.
Podemos
usar três exemplos para sustentar as afirmações acima: o primeiro,
o programa que foi a menina dos olhos de Gabriel Chalita durante sua
gestão na secretaria estadual de educação: a Escola da Família. A
proposta, que abria a escola nos finais de semana, usava um discurso
de "democratização do espaço e de oportunidades" para
maquiar o fato de que o programa funcionava à base de voluntariado,
bolsistas, estagiários e oficineiros contratados através de ONGs.
Ou seja, uma grande desresponsabilização do Estado em garantir
condições de trabalho, salários e a presença de educadores
concursados e profissionalizados para sustentar um programa
considerado de extrema importância. Implícita, a ideia de que a
função de educar institucionalmente poderia ser feita por qualquer
pessoa, desde que houvesse "boa vontade".
O
segundo exemplo são declarações atuais de Chalita dizendo que para
solucionar o problema do déficit de vagas em creches na capital a
saída é de “flexibilizar” algumas regras. Vale lembrar que,
durante sua campanha para prefeito em 2012, destacou a ideia de usar
as faculdades privadas para acomodar as crianças que estão na fila
por uma vaga em creche, repassando dinheiro para que essas montassem
um espaço para as mesmas. Ou seja, fazer novos tipos de
“conveniamento” para o atendimento das crianças pequenas, o que
significa recuar ainda mais na qualidade da oferta dessas vagas e
engordar financeiramente as empresas do ensino superior. Por fim,
deve ser lembrado também que Chalita é investigado em 11 inquéritos
por suspeita de corrupção e enriquecimento ilícito, em casos
envolvendo licitações enquanto era Secretário Estadual de
Educação.
Além
da prática política já conhecida, e que tão bem serviu ao modelo
PSDBista de governar, Gabriel Chalita já deu inúmeras declarações
que revelam sua visão privatista e meritocrática da área
educacional. Compreende a educação fora do espaço político, no
seu significado mais amplo, que é o da coletividade. Não à toa,
uma de suas obras tem o sugestivo título "Educação: a solução
está no afeto". É lamentável que o novo secretário de
educação da cidade de São Paulo não veja que a solução para a
educação está sobretudo na maior responsabilização do Estado, na
valorização profissional e salarial dos educadores, na melhoria das
condições de trabalho, no investimento na autonomia escolar e na
gestão democrática.
O
PT foi da pedagogia do oprimido de Paulo Freire, secretário de
educação de Luisa Erundina, parra a "pedagogia do amor",
do ex-tucano Gabriel Chalita. Um retrocesso brutal.
Onde
estão os petistas que tem tradição na defesa da educação pública
gratuita e de qualidade, que denunciavam a privatização e o
sucateamento do ensino? Esse vergonhoso silêncio não pode continuar
em nome da governabilidade conservadora.
Entendemos
que teremos pela frente um período de lutas e mobilização para
fazer o enfrentamento necessário. Nosso mandato acompanhará esse
novo período e se fará sempre presente na luta e na defesa de uma
educação pública, gratuita, estatal, laica e de qualidade para
todos.
Fonte: facebook/Ivan Valente
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