"Dilma Rousseff foi afastada definitivamente da Presidência, mas não foi punida nesta quarta-feira com a perda dos direitos políticos e, assim, em teoria, pode ocupar cargos políticos e funções na administração pública."
"Dilma
também tem direito aos benefícios associados ao cargo concedidos a
outros ex-presidentes brasileiros.
O
impeachment da petista foi aprovado por 61 dos 81 senadores,
encerrando um processo que começou há nove meses, em dezembro do
ano passado. Era necessário o voto de pelo menos 54 senadores (dois
terços do total) para a destituição.
A
BBC Brasil preparou uma lista de perguntas e respostas sobre o futuro
da petista, que já estava afastada desde maio.
1. O que acontece com Dilma?
Com
a aprovação do impeachment, Dilma deixa de ser presidente, cargo
para o qual foi reeleita em 2014 para um mandato de quatro anos.
Ela
também terá de sair do Palácio da Alvorada, a residência oficial
do presidente da República em Brasília. A petista deve retornar a
Porto Alegre, onde tem residência particular, neste fim de semana.
2.
Quais direitos ela preserva ou perde?
"Dilma
continua detentora de seus direitos políticos e, assim, pode se
candidatar a qualquer cargo em qualquer momento", diz o
professor de direito Constitucional da Faculdade Mackenzie Flávio de
Leão Bastos Pereira.
"E,
com o status de ex-presidente, ela tem direito a seguranças, já que
se considera que um ex-presidente pode possuir desafetos entre a
população. Também tem direito a salário para seus assessores, por
alguém que ocupou esse cargo deter informações importantes."
Mais
especificamente, Dilma tem direito a quatro seguranças, dois
veículos oficiais (com dois motoristas) e dois assessores pessoais.
Os seis servidores públicos são pagos pela União.
Destituída
do cargo, Dilma perde o direito a usar os aviões da FAB (Força
Aérea Brasileira), além da remuneração mensal bruta de R$ 30.934,
cartão alimentação e plano de saúde da Presidência da República.
A família da petista também deixa de contar com segurança pessoal.
Não
há aposentadoria para ex-presidentes. O benefício, criado em 1969,
foi revogado com a promulgação da Constituição de 1988.
3.
Dilma pode recorrer da decisão do impeachment?
Sim.
E já indicou que recorrerá da decisão no STF (Supremo Tribunal
Federal), segundo o ex-ministro da Justiça e advogado de Dilma
Rousseff no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo.
Dilma foi alvo de
impeachment por ter cometido "crime de responsabilidade fiscal"
"Vamos
entrar com duas ações: uma nesta noite (de quarta) ou amanhã de
manhã questionando alguns aspectos como a mudança do libelo, o
senador (do PSDB Antonio) Anastasia ampliou as acusações para poder
justificar retoricamente o golpe. Também vamos discutir que há
dispositivos na lei que disciplina o processo de impeachment que não
foram atendidos", disse Cardozo à BBC Brasil.
Ele
disse ainda que "dentro de dois ou quatro dias, vamos entrar com
outro mandado de segurança (para) discutir a falta da justa causa do
processo, ou seja, que não há motivo".
Mas
é pouco provável que a Corte julgue o mérito da ação, pois,
segundo a Constituição, cabe aos senadores o voto de minerva sobre
o afastamento.
Ao
mesmo tempo, gerou dúvida jurídica o fato de o Senado ter cassado a
ex-presidente, mas ao mesmo tempo mantido seus direitos políticos.
O
professor de direito constitucional na PUC-SP Pedro Serrano vê uma
"incompatibilidade entre as decisões". "Se foi
considerado que não houve gravidade para a pena máxima, não houve
gravidade para crimes de responsabilidade. Portanto, fica claro que
ela foi cassada por um motivo juridicamente inválido."
O
professor Flávio de Leão esclarece que, desde o impeachment de
Fernando Collor, a lei estabelece que há a possibilidade de que seja
feita uma apreciação separada como ocorreu no caso de Dilma.
4.
Dilma pode ocupar cargos e ser julgada por outros crimes?
Em
tese, a decisão do Senado permite à ex-presidente ocupar cargos
públicos, já que ela não foi considerada inelegível. Mas há um
debate jurídico quanto a se sua condenação pelo Senado faz com que
ela se enquadre na Lei da Ficha Limpa, algo que a impediria de
concorrer a eleições.
Dilma
foi alvo de impeachment por ter cometido "crime de
responsabilidade fiscal". Segundo os autores do pedido de
impedimento, a presidente atrasou repasses a bancos públicos para
aliviar momentaneamente as contas públicas - as chamadas "pedaladas
fiscais" ─ e emitiu decretos de crédito suplementar
"ilegais".
Mas,
apesar de já ter perdido o cargo, a petista continuará sendo
investigada por obstrução de Justiça. O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva também é alvo do mesmo inquérito, cuja abertura foi
autorizada pelo STF em meados deste mês, assim como dois
ex-ministros de Dilma, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.
Eles
são suspeitos de agir para atrapalhar as investigações da Lava
Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras.
Mas
Dilma não é ré no processo que corre em sigilo.
Destituída
do cargo, contudo, a petista perde a prerrogativa de foro
privilegiado (direito de ser julgada no STF) - casos contra ela
seriam analisados em primeira instância, com base nos procedimentos
recentes da corte.
5.
O que Dilma deve fazer depois do impeachment?
Segundo
relatos de assessores à imprensa, mesmo após o impeachment, Dilma
deve continuar viajando pelo Brasil fazendo sua defesa. No ano que
vem, contudo, ela pode viajar ao exterior.
Dilma
já teria recebido o convite para estudar em duas instituições
estrangeiras - uma nos Estados Unidos e outra na França", de acordo
com informações do jornal Folha de S. Paulo."
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!