Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos.
Hannah Arendt
A Vida nos pede coragem. E vivemos fazendo escolhas. Logo, exercitamos nossa coragem nas escolhas que fazemos. Do momento em que acordamos até o momento em que voltamos a dormir, tomamos decisões o tempo inteiro. Algumas ações, de tão rotineiras, podem passar despercebidas no meio de tantas tarefas em nosso cotidiano. Mas mesmo estas ações automatizadas foram decisões tomadas anteriormente.
O que, então, influencia as nossas decisões? Esta é uma pergunta que não possui uma resposta simples. Mas saber o que nos leva a optar entre casar ou comprar uma bicicleta e viajar pelo mundo nos permite tomar as decisões com mais clareza e que nos permitam viver plenamente.
Em 1961, o psicólogo Stanley Milgram realizou uma singular experiência na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Milgram recrutou voluntários que foram apresentados a dois atores. Um ator representava um pesquisador e o outro, um suposto estudante. O “estudante” foi colocado em uma sala, isolado do voluntário e do “pesquisador”, e ligado a fios que lhe dariam choques elétricos. Estes choques seriam ministrados pelo voluntário sempre que o “pesquisador” lhe desse ordem para isto. O “estudante” receberia choques sempre que respondesse erradamente a uma pergunta efetuada pelo “pesquisador”. E os choques recebidos seriam em voltagem crescente, ou seja, quanto mais o “estudante” errasse, maior o choque elétrico recebido.
É claro que o “estudante” errava as respostas de propósito, e o ator apenas representava gritos de dor quando recebiam os choques direcionados a ele. O voluntário, que recebia as ordens do “pesquisador” para ministrar os choques, poderia parar a execução dos eletrochoques no momento em que desejasse. Quando o voluntário hesitava na continuidade da tarefa, o “pesquisador” o incentivava a continuar por meio de frases de estímulo previamente preparadas.
Os resultados indicaram que a maior parte dos voluntários continuou a efetuar os choques até o nível mais alto de voltagem, ou seja, uma carga praticamente fatal. Todos alcançaram um nível de voltagem de 300 volts.
Milgram procurava entender, assim como outros pesquisadores, os motivos pelos quais a pátria de expoentes como Kant, Beethoven, Schoppenhauer, Goethe, Marx, Schumann - apenas para citar alguns - foi capaz de gerar e permitir a ascensão de regime capaz de realizar ações tão terríveis como o Holocausto. No decorrer dos anos, a experiência de Milgram sofreu uma série de críticas - quanto à metodologia empregada, sobre os fundamentos éticos e, até mesmo, se os resultados apresentados não foram prejudicados pelo próprio viés do criador do experimento. Mas teve o mérito de lançar luz sobre uma questão importante, que foi constatada no decorrer de outras pesquisas: tendemos a fazer coisas, mesmo aquelas que não desejamos, quando solicitados por pessoas que detém, em nossa percepção, um poder baseado no conhecimento, na legitimidade ou na coerção.
Isto acontece porque, ao fazermos isto, entregamos a responsabilidade da decisão para outra pessoa. E nos sentimos então desconectados das consequências que esta decisão pode trazer. Não por acaso, a linha de defesa de grande parte dos integrantes da cúpula nazista consistiu em alegar que “cumpria ordens”, ou seja, não poderiam ser responsabilizados por acatarem uma decisão vinda de instância superior – por mais imoral ou ilegítima que fosse esta decisão.
Se estamos inclinados a tomar decisões com base na influência que recebemos de outras pessoas, nossa principal responsabilidade é escolher cuidadosamente os exemplos com os quais basearemos nossas ações. O empresário e escritor norte-americano Ivan Misner (pronuncia-se “Aivan Maisner”) elaborou uma interessante analogia sobre isto. Falando sobre a importância das relações e das influências que recebemos, Misner nos pede para imaginar que vivemos em uma sala, onde qualquer coisa pode estar neste espaço: as pessoas que entram em nossa vida, os relacionamentos, os deveres relacionados a estas relações. Mas esta sala possui apenas uma porta. E é uma porta de entrada. Não há saída, e o sentido é de mão única. Tudo o que permitimos entrar em nossa sala ficará sempre conosco.
Então, se nossa qualidade de vida depende do que e quem está na sala conosco, é preciso todo o cuidado para permitir quem é o quê estará nesta sala com você. Misner então pergunta: “Quem são as pessoas mais próximas a você? Quem são seus amigos? Com quem você se associa no seu dia a dia?”. Porque se tomamos decisões baseados nas influências positivas e negativas das pessoas que têm ou tiveram relações conosco, é fundamental que tenhamos muita clareza nas pessoas que deixamos entrar em nossa sala.
E nosso coração sabe qual o critério para permitir a entrada de alguém ou algo em nossa sala. Leonardo Boff conta que, em certa ocasião, participou de uma mesa redonda sobre religião e paz entre os povos. Dentre os participantes, estava sua Santidade, o Dalai Lama. Boff conta que perguntou ao Dalai Lama - não sem malícia - qual seria a melhor religião, esperando ouvir uma resposta como “a melhor religião é o budismo tibetano” ou alguma outra resposta que valorizasse as religiões orientais. Mas sua Santidade o olhou diretamente nos olhos, e sorrindo, disse: “a melhor religião é que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor.”. Perplexo, Boff fez outra pergunta: “E o que me faz melhor?”. E o Dalai Lama respondeu: “Aquela te faz mais compassivo.”.
É este o critério do coração. Nossa essência sabe. E quando permitimos que esta sabedoria inata e misteriosa extravase para a mente, para o pensamento, somos perfeitamente capazes de escolher as pessoas que entrarão em nossa sala, os líderes que influenciarão nossas escolhas. Esta pessoa me faz melhor? Esta pessoa me faz mais compassivo, mais amoroso, mais desapegado? Esta pessoa me torna mais responsável? Esta pessoa me faz viver sem medo? E eu, estou fazendo o mesmo com esta pessoa?
E assim, o poder que entregamos às outras pessoas quando permitimos que entrem em nossa sala retorna em nosso próprio bem e naquelas que estão em nosso círculo de relações. Com coração e pensamento alinhados, tomando como base aquelas pessoas que nos tornam melhores, deixamos o sonambulismo de lado e poderemos então vivenciar o que nos permite tomar decisões com coragem: a confiança.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.