“A pontualidade é condescendência dos reis e obrigação
dos educados.”
Provérbio Inglês
Recentemente, fiz a aquisição de um produto cuja entrega atrasou. Enquanto resolvia a questão com a empresa, fazia novo pedido em outra companhia e investia mais algumas horas do meu tempo com a administradora de cartão de crédito, refletia sobre o tempo e seu significado em nossas vidas.
Se há algo que me fascina é o Tempo. Não sei de onde vem este encantamento. Talvez seja o imenso Saturno que, segundo aqueles que já leram meu mapa astral, repousa soberano em minha casa de número 10. Talvez seja o mistério científico que é o Tempo, muito maior que pode supor nossa vã filosofia. O fato é que, desde que me entendo por gente, ampulhetas e relógios ocupam lugar de destaque dentre meus mecanismos humanos prediletos.
Recordo-me da vez que, livro nas mãos, montei um relógio solar no quintal de casa. Passei dias buscando encontrar exatidão matemática entre minha rudimentar estrutura e a hora assinalada por um muito mais moderno relógio de corda, apenas para descobrir que a exatidão pode ser algo importante em uma época em que a indústria é o modelo e a padronização a meta a ser alcançada, mas não em eras mais fluidas em forma e conteúdo.
O Tempo é percebido de forma distinta conforme as culturas. Se você tivesse sido criado na cultura pirahã, uma tribo indígena amazônica brasileira, não teria noção do que é “passado” ou “futuro”, já que a estrutura linguística deste povo não apresenta contrações verbais que gerem estes conceitos. Por outro lado, caso tivesse sido criado mergulhado na cultura maia, você teria uma percepção da circularidade do tempo. Mas sendo criado na tradicional cultura europeia, perceberá o tempo como algo que transcorre em linha reta, sempre para frente. Independente da forma como percebemos o Tempo, há algo em comum para todos os seres humanos – em algum momento, ele “acaba”. A bateria do relógio biológico termina, e não há como dar nova carga.
Conscientes desta finitude, e sabendo que cada grão de areia que cai na parte de baixo da ampulheta não retorna para a parte de cima, cada ser humano procura valorizar o tempo que possui. É como gerenciar uma conta bancária cujo sistema não apresenta o saldo que ainda resta. Alguns valorizam o trabalho e o acúmulo de bens, “pois tempo é dinheiro”. Outros se entregam à diversão e à busca de prazeres e divertimento, “pois a vida é curta”.
Mas independente de nossa forma de usufruirmos dos créditos de segundos que temos (ou somos, conforme o ponto de vista), nosso tempo se entrelaça com o de outras pessoas. Não dividimos apenas espaços físicos. Compartilhamos e muito esta dimensão ainda tão misteriosa do tempo. Nossas ações, decisões, pensamentos e sentimentos afetam a todos aqueles à nossa volta não apenas na geografia, mas também e principalmente, nos dias, meses e anos. Muitas vezes, as cicatrizes físicas se curam muito mais facilmente do que as cicatrizes geradas no tempo.
E neste compartilhar, muitas vezes nos esquecemos que o ponteiro do relógio não volta atrás apenas para nós. Ele também é inflexível para com aqueles que convivemos.
Com esta perspectiva, cada segundo que alguém se dispõe a estar conosco é o presente mais valioso que podemos receber. Estes segundos de convivência ganham então uma conotação inimaginável de valor e amplitude. Afinal, se nós valoramos as coisas por sua raridade e dificuldade de obtenção, quanto vale algo que é único e não pode ser reposto?
Mas esta percepção de valor acontece apenas quando reconhecemos que o tempo do outro é tão valioso quanto nosso próprio. A pontualidade ganha outro patamar. É a clareza de que estamos trocando o que de mais valioso nós temos, e que por não considerar meu tempo superior ao seu, faço o meu melhor para entrelaçar nosso tempo compartilhado no momento combinado.
Mais: a valorização do tempo do outro demonstra a valorização do próprio tempo, da própria vida. Pois ainda temos a percepção de que pontualidade é um sinal de respeito ao outro, quando é primeiramente um sinal de profundo respeito a si mesmo. O atraso em relação ao outro pode ser apenas reflexo do atraso para questões importantes para si.
No dia 14 de abril de 2011 assisti a uma palestra de Roberto Shinyashiki, médico e palestrante brasileiro. O tema da palestra abordava liderança e desenvolvimento de equipes, mas o ponto que mais me marcou foi quando Shinyashiki abordou o tema da finitude do tempo.
O palestrante trabalhou anos em um hospital de doentes terminais. Ele assistia, em média, entre duas e quatro mortes por dia. Ele fazia questão de acompanhar o doente em seus últimos momentos, e pode observar o seguinte: na hora da morte, 90% das pessoas estão infelizes e frustradas. Na palestra, Shinyashiki comentou as três coisas que as pessoas mais se arrependem na hora da morte:
- Não ter amado, vivido e experienciado os amores que a vida oferece.
- Não ter curtido os filhos e/ ou os pais, sendo o trabalho a principal desculpa para esta negação. Muitos se arrependem de não ter brincado com os filhos, ter compartilhado momentos com eles. Muito não tem o hábito de agradecer aos pais pelo que fizerem por eles.
- Não ter ido atrás dos sonhos. Não ter se permitido arriscar ter aquela banda de rock, a viagem com a mochila nas costas, empreender o negócio, ter-se declarado a alguém.
Quando olho para mim mesmo, vejo que minha pontualidade ainda pode melhorar em muitas situações. Percebo que ainda não alcancei a consciência plena da importância da pontualidade para mim mesmo. Ainda priorizo coisas secundárias em relação aos meus sonhos. Não entro em contato com amigos e pessoas queridas na periodicidade que poderia, e desta forma perco chances de dizê-las o quanto eu as amo. Ainda troco experiências gratificantes por outras que envolvem dinheiro ou imagem profissional.
Mas sinto que cada vez mais tenho aproveitado meu tempo em torná-lo mais gratificante, pleno de significado para mim e para outros. Mudar o foco demanda paciência, disciplina e atenção constante, e persistência. Pelo menos, sei onde quero chegar, que é sentir-me pleno de satisfação quando for meu momento de partir para o grande mistério. De ter a certeza de ter dito às pessoas que as amava. De ter arriscado o possível para realizar meus sonhos. De ter proporcionado experiências felizes e positivas para quem estiver à minha volta.
Cada vez mais consciente do valor da vida, serei também cada vez mais pontual comigo mesmo, e tudo o mais será consequência, um doce fruto, desta “auto pontualidade”. E desta forma, terei conseguido viver o significado do que nos faz manter promessas e acordos, principalmente consigo mesmo: o Comprometimento.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!