sábado, 22 de janeiro de 2022

"Morda a Maçã. E Coma Até o Caroço"

 

“Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.”.

                                                                         Isaac Asimov

No primeiro dia de janeiro de 2004, uma tragédia inimaginável chocou o mundo

inteiro. Um terremoto de grande magnitude provocou um gigantesco tsunami

que atingiu várias partes do planeta. O evento provocou a morte estimada de 230 mil pessoas em 14 países, não respeitando fronteiras, credos e nacionalidades.

Um dos países mais afetados foi a Tailândia. Em praticamente todas as praias

do país foram registradas vítimas fatais. Exceto na praia de Maikhao. Tilly

Smith, uma inglesa com dez anos na época que estava na praia com os pais, assistiu ao repentino recuo das águas do mar e lembrou-se de uma aula de geografia que havia assistido semanas antes – que esse recuo é sinal de que um tsunami atingiria a costa em breve. Graças à menina, que saiu gritando correndo pela areia, o hotel promoveu a retirada dos hóspedes a tempo de evitar vítimas fatais.

O ato de Tilly salvou a vida de mais de 100 pessoas que estavam na praia.

E isto aconteceu porque ela estava atenta. Atenta à aula de Geografia, atenta

ao que lhe foi ensinado, atenta ao mundo à sua volta.

Lembrei-me da fantástica história de Tilly graças à outra história que tomei

conhecimento na semana passada. Em 23 de outubro de 2021, Nadia

Poppovic, uma estudante de Medicina nos Estados Unidos, foi assistir a uma

partida de hóquei no gelo do time pelo qual torce, o Seattle Kraken. Nadia

sentou-se em um local bem próximo ao banco do time adversário, o Vancouver

Canucks. E seus olhos atentos perceberam uma verruga na nuca de Brian

Hamilton, treinador do Canucks. Impossibilitada de falar com Hamilton devido

à barreira que separa torcida dos jogadores, Nadia escreveu uma mensagem em seu celular e o colocou à vista de Hamilton, aconselhando-o a procurar um

médico o mais rápido possível pois a verruga poderia ser um câncer.

Dois dias depois, o técnico foi ao médico e constatou-se que a verruga era

um melanoma que demandava intervenção cirúrgica imediata. A ação de

Nadia salvou a vida do treinador, que agradecido, promoveu uma busca

pela sua então anônima salvadora para agradecer-lhe pelo gesto de empatia

e compaixão. As redes sociais ajudaram, e em 2 de janeiro de 2022, Nadia

e Brian se encontraram pessoalmente, sem nenhuma barreira física a

separá-los e um vínculo inquebrantável de conectá-los.

Os casos de Nadia e de Tilly me emocionaram e me emocionam sempre

que eu os leio e releio. Primeiro, porque esses casos são uma prova,

para mim poderosa e incontestável, do poder do conhecimento e da

importância que a educação tem para promover os potenciais que todo ser

humano possui. 

E também porque são uma pequena grande amostra do poder que o

conhecimento traz para nós, seres humanos, que temos a capacidade

maravilhosa de transmitir o que aprendemos para as futuras gerações.

O Conhecimento nos permite ler o grande livro do Universo. E isto nos

concede capacidade de atuação. Permite-nos sermos proativos, tomarmos

iniciativas, buscarmos o protagonismo das ações. 

Apesar de tão importante e essencial para nossa evolução, a humanidade

ainda não aprendeu a se relacionar com o Conhecimento. Porque uma das

consequências para quem morde o fruto do Conhecimento é o incremento

da capacidade de fazer escolhas. E isto traz um peso enorme, uma carga

de responsabilidade que nem todos estão preparados para assumir. Por isto

que a frase “a ignorância é uma bênção” é dita com mais frequência do que

realmente deveria ser pronunciada.

A própria sociedade não está preparada para aceitar a capacidade de escolha.

Afinal, a decisão do indivíduo pode confrontar a cultura já estabelecida, o

“senso comum” no qual tantos encontram apoio para suportar o peso das

escolhas. Além disso, para aqueles cujo motivador é ter poder absoluto sobre

as pessoas, quem controla o Conhecimento também controla as pessoas. Há

inúmeros casos de cientistas, sábios, bibliotecas e escolas que foram

atacadas e destruídas no decorrer da História da humanidade. Por exemplo,

a biblioteca de Alexandria, fundada em 331 a.C. por Alexandre, o Grande,

funcionou durante 600 anos até ser destruída por motivos religiosos.

E assim, apesar de seus visíveis benefícios, o Conhecimento ainda é

considerado “perigoso”. Mas não precisamos imaginar qual seria o nosso

destino caso não tivéssemos mordido a maçã do Conhecimento, o fruto da

árvore do Bem e do Mal, como mostra uma das passagens que mais gosto

da Bíblia. Basta olharmos os seres à nossa volta, aqueles que estão presos

aos instintos e às rotinas sem profundidade. Justamente por não terem

mordido o fruto, não podem reconhecer plenamente a beleza da Existência

em sua totalidade. Não conseguem enxergar a beleza, entender a importância

do sacrifício ou da realização, não podem abraçar de forma consciente a

Vida. Estão além do Bem e do Mal justamente por estarem abraçados à

ignorância.

O preço do Conhecimento é a inquietude, o incômodo, a consciência

de que podemos fazer escolhas ainda que limitadas por nós mesmos.

É ter a percepção de nossa grandeza e do caminho árduo que

precisamos fazer para alcançar esta plenitude. Mas é o oposto daquilo

que queremos? Apenas reagir ao que o mundo natural nos coloca?

Seres medianos, conformados com a prisão da mera existência?

O Conhecimento é necessário para alcançarmos nossas potencialidades,

nossa plenitude. É por meio do Conhecimento que podemos exercer

plena e sabiamente o que nos permite concretizar sonhos que trazem

impacto positivo no mundo: a Assertividade.


Maurício Luz
Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.

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