sexta-feira, 19 de agosto de 2022

"Erro como caminho da verdade"

Você sabia que o cérebro humano adora errar[Imagem: Blevmore Labs]

Por Jornal da USP

"Quem nunca cometeu um erro na vida e se sentiu culpado, garantindo que não faria aquilo nunca mais?

O professor Christian Dunker, do Instituto de Psicologia da USP, explica que existem três estágios de negação da verdade: o erro, a ilusão e a mentira.

"Historicamente, o erro tem a ver com uma certa desorientação em relação ao saber. Há três figuras que são negações da verdade: Uma é o erro, que se caracteriza por uma certa indeterminação de para onde se vai; mas temos também a ilusão, que seria então o contrário da boa representação, seria a falsidade do ponto de vista cognitivo; e temos também a mentira, que é a intencionalidade de manipular e produzir um estado de consciência no outro propositadamente equivocado," detalha Christian.

A pessoa que comete o erro não desconfia que está errando, diferentemente da pessoa que está mentindo e que sabe que está enganando alguém, ou da que está apenas imaginando, sabendo que não está no mundo real.

Assim, o erro não deve ser visto como algo que tenha que ser castigado, muito pelo contrário, o erro ensina, justamente por não se saber que seria um erro. São as chamadas tentativa e inexperiência que nos levam a ele.

Errar como caminho para o conhecimento

De fato, errar pode ser bom, principalmente em uma etapa do conhecimento, e ajuda a aprender. Sendo assim, não se deve ter o sentimento de culpa.

"Errar não é necessariamente uma coisa ruim, então nós temos que distinguir erro e mentira. Na mentira, há uma intenção ruim e, no erro, não necessariamente. Errar pode ser, por exemplo, uma etapa do conhecimento, como quando se fala sobre ensaio e erro nas pesquisas em geral. Você segue esse caminho tentando uma coisa, se der errado, você aprendeu com isso. É muito enriquecedor você errar durante a pesquisa," avalia o filósofo Renato Janine Ribeiro, também da USP.

O erro é transformador e muda o caminho de quem o cometeu. Ele é uma junção de culpa e arrependimento e nos leva à reparação. "É essa reparação que é terapêutica. É essa reparação que transforma as pessoas, não o arrependimento e a culpa," ressaltou Christian .

Oportunidade de crescer

Para o professor Renato Janine Ribeiro, o arrependimento é natural do erro, não apresentando desvios éticos que comprometam de alguma forma quem o cometeu.

O que é necessário é que o erro seja ressignificado: A pessoa precisa perceber que as falhas cometidas podem ser a oportunidade de crescimento, seja na vida pessoal seja na profissional, ajudando a estar alerta e motivada. Além disso, o erro do outro também nos ensina a evitar que aqueles atos sejam repetidos.

Errar pode trazer vergonha e culpa. E, embora seja desconfortável, é importante pedir desculpas e admitir que se errou para que se esteja pronto para a mudança.

A dificuldade de pedir desculpas no Brasil parece ser orgânica, opinam os professores, parecendo ser difícil admitir o erro, como se não houvesse mais uma segunda, terceira e inúmeras outras chances. Tudo faz parte do crescimento pessoal."

Fonte: Diário da Saúde

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