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Papa Francisco |
Na madrugada do dia 21 de abril de 2025, no ônibus, voltando de missão no Acampamento Vida Nova, em Jordânia, e da Ocupação Irmã Dorothy, em Salto da Divisa, no Baixo Jequitinhonha, MG, ao passar pela cidade de João Monlevade, voltando para Belo Horizonte, eu fiquei muito comovido ao saber da travessia do nosso querido irmão Papa Francisco para a vida plena. Ele se transvivenciou, se encantou e nos deixou um extraordinário legado de ética, de humanismo, de profecia, de espiritualidade libertadora, de luta pelos direitos humanos, pela ecologia integral...
Francisco pediu um velório e sepultamento simples, sem pompas, que fosse escrito no seu túmulo apenas uma palavra: “Franciscus”. Homem imprescindível, que lutou até o fim pelo que é justo. No seu último dia de vida no nosso meio, no Domingo de Páscoa, ainda teve força para nos abençoar, nos desejar feliz Páscoa e deixar sua última mensagem à Igreja e ao mundo, em que faz apelo “a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para não cederem à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento” e lembrou que “estas são as armas da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!”
Papa Francisco foi outro Francisco de Assis que guiou a Igreja Católica com humildade, sabedoria, sensatez e profecia. O papa João XXIII (1881-1963) tentou reformar a Igreja convocando e iniciando o Concílio Vaticano II. Francisco lançou sementes no concreto duro da instituição Igreja ao convocar e realizar vários Sínodos, mostrando que é por meio da caminhada conjunta, se animando comunitariamente, incluindo todos e todas, dialogando, em missão, sendo “igreja em saída”, que a Igreja e as pessoas que se dizem católicas vão conseguir ser coerentes com o ensinamento e a práxis de Jesus Cristo.
Francisco fez vários Encontros com Movimentos Sociais Populares de todo o mundo. Defendeu a utopia de: “nenhum/a CAMPONÊS/A sem terra, nenhuma PESSOA/FAMÍLIA sem casa, nenhum/a TRABALHADOR/A sem direitos, não há DEMOCRACIA com fome, nem DESENVOLVIMENTO com pobreza, nem JUSTIÇA na desigualdade...”
Papa Francisco, o primeiro pontífice latino-americano e o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica, um dos maiores e melhores profetas de todos os tempos, lutou pela construção de uma igreja de todos, para todos/as e todes. Foi um papa ecumênico que cultivou o diálogo inter-religioso. Ele pregava que a espiritualidade nos une na construção de uma sociabilidade justa e solidária. Francisco, papa da Ecologia Integral, que denunciou a economia capitalista, a idolatria do mercado, como “economia que mata”. Em uma única Casa Comum, “somos todos irmãos e irmãs (“Fratelli tutti”), enfatizou Francisco em livro, em Encíclica, etc.
Como peregrino de esperança e semeador de uma sociedade justa e solidária, e de uma igreja que não reproduza o regime da Cristandade, aliada aos poderes político e econômico, mas uma igreja dos pobres que acolhe misericordiosamente todos/as sem discriminação e que promova a igualdade de direitos, que repudia a intolerância religiosa, o fundamentalismo e o moralismo anticristão, o papa Francisco condenou todas as guerras, o genocídio do Povo Palestino e clamava diariamente pela paz como fruto da justiça. Denunciando o genocídio que o Estado de Israel segue fazendo sobre o Povo Palestino, Francisco disse: “O que Israel está fazendo é crueldade.”
Como Jesus Cristo e Francisco de Assis, com sorriso nos olhos, o papa Francisco sempre acolheu de braços abertos todas as pessoas, especialmente quem sofre algum tipo de discriminação e injustiça: os indígenas, os camponeses, os negros, as crianças, as mulheres, as pessoas LGBTQIA+, os imigrantes, os presos, os refugiados, as pessoas em situação de rua... Francisco sabia que em uma sociedade brutalmente desigual quem se diz neutro e fica “em cima do muro” se torna cúmplice das opressões e injustiças. Francisco sempre escolheu o lado dos humildes, dos empobrecidos/as e injustiçados/as. Francisco teve a coragem de pedir perdão pelos crimes do colonialismo e de reconhecer a sabedoria e os direitos dos Povos Originários/Indígenas. Às juventudes, no Rio de Janeiro, em 2013, Francisco bradou: “Sejam como Jesus Cristo: REVOLUCIONÁRIOS! Não tenham medo de ir contra a corrente”.
Papa Francisco, durante seus 12 anos de pontificado, promoveu importantes reformas na Cúria Romana, combateu com firmeza os abusos dentro da Igreja e fortaleceu a presença de mulheres no Vaticano, incluindo-as em funções de destaque, abriu recentemente um novo processo para reformas na Igreja Católica, inserindo a possibilidade de mulheres servirem como diaconisas e uma melhor inclusão de pessoas LGBTQUIA+ na Igreja. Francisco assumiu posicionamento firme contra a pena de morte, alterou no Novo Catecismo, à luz do Evangelho, a doutrina sobre a pena de morte e prescreveu a sua abolição em todo o mundo, afirmando que “a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, e se compromete, com determinação, em prol da sua abolição no mundo inteiro”. Coerente com o Evangelho de Jesus de Nazaré criticou reiteradas vezes o consumismo desenfreado e as desigualdades sociais, provocados pelo sistema capitalista, tornando-se uma voz respeitada mundialmente.
Aos opressores e exploradores, falsos cristãos, idólatras de extrema-direita e fascistas que o caluniam chamando-o de “comunista” e com outras injúrias, o nosso irmão Papa Francisco diz: "Pai, perdoai-lhes, pois uns sabem o que fazem, outros estão cegados". Inspirando-se em Jesus que perguntou a um dos seguranças do sistema: “Por que me bates?” (Jo 18,23), Francisco respondeu à acusação de “ser comunista” em uma entrevista ao canal C5N, da TV argentina, em 2023. Disse ele: “Minha carta de identidade é o Evangelho de Mateus 25,31-46. Leia Mateus 25 e veja se quem escreveu era comunista”.
As realidades mais profundas, muitas vezes, só conseguimos enxergar de olhos fechados e após perdermos a presença física da pessoa amada. O papa Francisco foi um gigante na vivência do Evangelho de Jesus Cristo e será ainda maior quando as sementes do seu ensinamento e do seu testemunho se enraizarem em milhões de pessoas pelo mundo afora. Como semente que brota nas rachaduras do concreto, a mensagem do papa Francisco continuará irradiando e será cultivada nos corações de milhões de pessoas pelo mundo afora. E gerará primaveras de justiça, paz e amor.
Papa Francisco, agora na glória, viverá presente em nós sempre na luta por tudo o que é justo. Gratidão eterna ao nosso querido irmão papa Francisco, recebido com aplausos na vida plena pelos anjos e anjas, por Francisco de Assis, por Jesus Cristo, pelas crianças palestinas massacradas pelo Estado genocida de Israel com a cumplicidade do desgoverno dos Estados Unidos e por tantos outros irmãos e irmãs, discípulas e discípulos autênticos de Jesus de Nazaré que já fizeram sua travessia definitiva.
Rezemos para que os cardeais do Conclave compreendam o sopro do Espírito Santo e tenham a sensatez de escolher um novo papa que seja fiel ao Evangelho de Jesus Cristo, a Francisco de Assis e ao Francisco de Roma.
Obs.: A vídeos abaixo, dizem respeito ao assunto.
1 - Francisco de Assis e o Papa Francisco: Ecologia Integral - Por Frei Gilvander - 10/6/2020
2 - Frei Betto encontra Papa Francisco e fala na Rádio Vaticano: Dez anos de Francisco, COP3
3 - Papa Francisco, “Igreja em Saída e Sinodal”, Cantoria e Oração (CEBs de MG, ES e RJ): XV Inter CEBs
4 - Papa Francisco: "Terra, Teto e Trabalho!" Sete Lagoas/MG, 28o Grito dos Excluídos. Direitos, Já!
5 - Papa Francisco: “A igreja deve lutar junto com os Movimentos Populares na defesa dos pobres"-15/7/21
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Frei Gilvander Moreira |
frei Gilvander escreve toda a semana para o Guardião da Montanha.
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